quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

PROJETO ARTES EM CENA REALIZA A CULMINÂNCIA DOS CURSOS NA CASA DA CULTURA DE PAULO AFONSO

A Casa da Cultura de Paulo afonso apoiou o a culminância das Oficinas de Artes da secretaria de Cultura.
o evento aconteceu hoje, dia 28 de novembro de 2019, com o apoio da equipe da Casa da Cultura e do IGH - Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso.
os professores Eduardo Rodrigues (canto),  Cássia Maia (pintura em tecido e artesanato), Rafael Di Oliveira (violão), Adilson Paz (dança). a apresentação foi realizada por João Bosco. 
A coordenadora do evento foi a Fabiane Guerra, com o apoio de Eduardo Cruz e Alba Riva.



















segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Escritor e Historiador João de Sousa Lima participará do Cangaço campina, representando a cidade de paulo Afonso, Bahia, e o IGH- Instituto geográfico e Histórico




CULTURA
UEPB garante apoio cultural para ‘Cangaço Campina 2019’, o maior evento sobre a temática no Brasil

Os organizadores do evento “Cangaço Campina 2019” estiveram reunidos na tarde desta segunda-feira (04), com o reitor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), professor Rangel Júnior, onde na oportunidade levaram ao conhecimento dos gestores da instituição, a programação do evento Cangaço Campina 2019 – História & Cultura Nordestina.

O evento é uma realização da Vila Sítio São João com o apoio do Portal Celino Neto e do publicitário Kennyo Alex, e acontecerá nos dias 22, 23 e 24 de novembro. O Cangaço Campina trará para a cidade rainha da Borborema, as maiores autoridades do Brasil sobre a temática ‘Cangaço’. A palestra de abertura ficará por conta escritora Vera Ferreira, neta de Lampião, e contará com as presenças de Paulo Brito, filho do Coronel João Bezerra; Expedita Ferreira filha Lampião e Maria Bonita; Eliza Dantas, filha do cangaceiro Candeeiro; Jaqueline Rodrigues, neta de Chiquinho Rodrigues, e Patricia Gastão, filha do historiador e pesquisador Paulo Gastão.
Além do reitor Rangel Júnior, participaram da reunião na sede da UEPB; o vice-reitor e professor Flávio Romero; o pesquisador do cangaço e vereador João Dantas; o publicitário e comunicador Celino Neto; o publicitário Kennyo Alex e o jornalista e professor do departamento de Comunicação Social da UEPB, Hipólito Lucena.
Para João Dantas, pesquisador do Cangaço e consultor do evento, o apoio da Universidade Estadual da Paraíba é de extrema importância, tendo em vista que a comunidade acadêmica precisa estar envolvida em um momento como este onde as maiores referências sobre a era lampiônica estarão reunidas em Campina Grande.  “Os alunos e professores das ciências sociais e humanas terão uma oportunidade única de desfrutar do conhecimento das maiores autoridades da temática Cangaço e ainda terão oportunidade de conhecer filhos e netos dos principais personagens desta saga sertaneja”. Justificou Dantas.
O reitor Rangel Júnior parabenizou os organizadores do “Cangaço Campina 2019” pela iniciativa, garantido o apoio da Universidade na logística do evento, ao tempo em que incentivou a comunidade acadêmica, sobretudo dos cursos de História, Comunicação Social, Sociologia e outros cursos das ciências sociais e humanas que possam se interessar pelo tema. O reitor ressaltou ainda que o evento contará como carga horária complementar para os alunos que precisam complementar tal requisito obrigatório para colação de grau.
As inscrições são gratuitas e online através do link: https://www.sympla.com.br/cangaco-campina-2019—historia–cultura-nordestina__696620

Mais informações estarão disponíveis no instagram do evento @cangacocampina.
Confira a programação completa do evento:
19h – Apresentação cultural.
19h30 – Abertura do evento, com as presenças de Paulo Brito, filho do Coronel João Bezerra e de D. Cyra Brito Bezerra; Expedita Ferreira e Vera Ferreira, filha e neta de Lampião e Maria Bonita; Eliza Dantas, filha do cangaceiro Candeeiro; Jaqueline Rodrigues, neta de Chiquinho Rodrigues; e Patricia Gastão, filha do historiador e pesquisador Paulo Gastão.
20h – Palestra com Vera Ferreira.
Dia 23 – Sábado
8h – Palestra “As mulheres e o Cangaço”, com João de Sousa Lima.
8h30 – Exibição do documentário “Os Últimos dias do Rei do Cangaço”, do jornalista João Marcos Carvalho, seguida de debate com os palestrantes.
14h – Palestra “O Cangaço e o turismo”, com Jairo Luiz.
14h30 – Palestra “Angico – Morte de Lampião. Uma abordagem Crítica”, com Ivanildo Silveira, seguida de debate com os palestrantes.
19h30 – Palestra Vida e Morte do Capitão Corisco, com Sérgio Dantas.
20h – Exibição do documentário “Angicos 80 anos depois”, de Aderbal Nogueira, seguida de debate com os palestrantes.
Dia 24 – Domingo
8h – Palestra “Maria Bonita – Período Maria Deano”, com Wanessa Campos.
8h30 – Palestra A construção da imagem pública de Lampião na imprensa entre 1922 a 1940, com Wescley Dutra.
9h – Palestra O Cangaço na Paraíba, com Bismarck Martins.
9h30 – Apresentação e entrega da Comenda Paulo Gastão aos convidados especiais e palestrantes.
10h – Encerramento.

Filmagens do documentário 'Lampião, o Governador do Sertão' cruza povoados de Paulo Afonso...







Filmagens do documentário 'Lampião, o Governador do Sertão' desbravam povoados de Paulo Afonso e o Cariri cearense

Por *Antonio Laudenir, laudenir.oliveira@svm.com.br 00:00 / 10 de Novembro de 2019 ATUALIZADO ÀS 00:41
Novo filme de Wolney Oliveira investiga a influência do cangaço na cultura brasileira e internacional. Além da Região Sul do Estado, equipe vai percorrer Paulo Afonso (BA), Piranhas (AL), Bezerros (PE) e Recife (PE)
Encontro Wolney Oliveira no Aeroporto Pinto Martins. Voo rápido rumo a Juazeiro do Norte. Guardo lembranças de ter ido ainda criança. Espiava naqueles monóculos fotos da família no Horto. Gente feliz. Padim Ciço. Parecia um pequeno filme. Tecnicamente é a primeira vez no Cariri.
O intuito é acompanhar, com exclusividade, quatro dias de filmagem do documentário "Lampião, o Governador do Sertão". A empreitada é ambição antiga do cineasta cearense. Explica-se. Por volta de 2006, o filme estava engatilhado e já contava com um bom número de entrevistas gravadas.
A pólvora explodiu no telefonema do amigo e pesquisador João de Sousa Lima. Direto de Paulo Afonso (BA), o contato afirmava que dois remanescentes do famoso bando de Lampião (1898-1938) foram identificados. "Wolney, achei Durvinha Moreno", alertou a fonte.
Eram as alcunhas de Antônio Ignácio da Silva e Durvalina Gomes de Sá. O trabalho ganhou rumos. "Precisava contar a história de quem estava vivo. Quem estava morto podia esperar um pouco mais", resgata o diretor. O contato com os ex-cangaceiros durou felizes quatro anos. Nascia, assim, "Os últimos Cangaceiros" (2011).
Entre outros projetos, como o recente "Os Soldados da Borracha" (2019), Wolney percebeu a necessidade de voltar ao encalço de Lampião. Tudo começou com uma carta. Corria 1926 e a missiva endereçada ao então mandatário de Pernambuco, Júlio de Melo, evocava assunto dos mais urgentes.
"Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco". As linhas de Virgulino continuavam: "E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife".

Atrevimento ou desejo de paz, de certo, as palavras do Capitão seguem reverberando 90 anos depois. A missão do documentário é decifrar as influências do cangaço na produção cultural brasileira e mundial. No avião, o diretor da Casa Amarela Eusélio Oliveira e do Cine Ceará encara a janela e suspira. "Cara, imagina. Lampião reinou 20 anos e naquela época, andava isso tudo, às vezes carregando 40 quilos em arma, joia, o caramba".
Além das raízes familiares e do apreço pelo caldeirão artístico do Cariri, o território foi palco do primeiro longa de Wolney, "Milagre em Juazeiro" (1999). Nos anos 1990, nas muitas idas, um carro deu o "prego" no caminho. "Levamos 24 horas pra chegar", resgata.
Dos cinco filmes guiados por Wolney, três iluminam a região. "Filmei 11 romarias. Não digo que fiz um filme. Me tornei um devoto", brinca. Em 2018, o "Português" (alcunha dada por Durvinha) voltou à trilha investigativa interrompida anos antes. O intervalo rendeu novos personagens e cenários. Explicar o fenômeno de Virgulino e Maria Bonita (1911-1938) passa pelo mergulho no artesanato, culinária, moda, literatura e obviamente o cinema. Nesse último, a obra "O Cangaceiro" (1953), de Lima Barreto (1906-82), tratou de unir dois continentes.
Após rodar cenas na Grota de Angicos, em Sergipe, durante missa pelos 80 anos da morte do Capitão, em 2018, Wolney foi a Paris colher o depoimento de dois críticos de cinema. Eles assistiram, na infância, ao clássico de Lima Barreto (1906-1982), vencedor do prêmio de "Melhor filme de aventura" e "Melhor trilha sonora" no Festival de Cannes.
Agora, entre o fim de outubro e novembro, o realizador lidera um grupo comprometido a percorrer estradas que atravessam o Ceará, Bahia, Alagoas e Pernambuco. As primeiras visitas contemplam Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. O time é formado por Alex Meira (assistente de câmera), Assis Ceará (eletricista), Dayane Oliveira (produtora), Evair Moura (motorista), Léo Oliveira (som direto), Raimundo Neto (motorista) e Rogério Rezende (diretor de fotografia).
Inicialmente, a reconstrução do passado exige o entendimento de vozes do presente. Nas rádios locais, Wolney convoca alunos de escolas públicas a escreverem textos que abordem o cangaço. Jovens de 12 a 17 anos podem participar do filme e serão agraciados com um cachê simbólico.
Som, câmera...
À tarde de quinta-feira (31) marcou o encontro com a arte de Lusyennir Lacerda e Demóstenes Fidélis. No bairro Santo Antônio, em Juazeiro, o casal desenvolve delicados tabuleiros de xadrez, nos quais são reproduzidos cenários e expressões populares. As temáticas Canudos, cangaço e reisado são recriadas em massa feita à base de fécula de mandioca. O colorido entrega poesia ao cenário de guerra entre volantes e cangaceiros.
Embate sertanejo na delicada criação de Demóstenes e LusyennirRogério Rezende
A arte da dupla agora divide espaço com fios, lâmpadas, câmeras e toda uma parafernália quase alienígena. Aos poucos, o convívio no set improvisado vai deixando Demóstenes e Lusyennir à vontade. O tempo auxilia a abordagem pretendida. O casal confecciona as peças. O apelo da cena revela a silenciosa cumplicidade envolvida entre os dois artistas.
Chega o novembro
José Bonieck é historiador, artesão e sanfoneiro. A lida envolve o entalhe da imburana. Desde pequeno as cores do cangaço lhe despertavam interesse. Padre Cícero e Lampião foram as primeiras produções. Da manipulação da madeira, cria representações de figuras populares. Cita Mestre Noza (1897-1983) com profunda reverência e brilho nos olhos.
A assinatura Boni também demanda os esforços da companheira Débora Raquel. Se o jovem artista é hábil no processo de moldar peças simpáticas e repletas de cor, a parceira atua na área da divulgação e venda. Além do coração, dividem o afeto pela leitura e música. A oficina se mistura com a pequena casa. Ferramentas dividem espaço com fotografias e outras obras experimentais.
O espaço para os visitantes montarem o equipamento é ainda mais compacto e exige atenção das lentes comandadas por Rogério Rezende e Alex Meira. Por sua vez, Wolney é só alegria com a fala embasada e respeitosa de Boni. É quando o realizador interage com um sinal de positivo nas mãos. Ouvir é o segredo.
Dali o destino é o lar do pesquisador Margébio de Lucena. Cuidadoso nas respostas e firme nos dados apontados, o oftalmologista divide uma verdadeira aula com os presentes. Durante uma tarde inteira, resgata as muitas conversas feitas com ex-cangaceiros e o contato fiel com registros históricos.
Bandido ou herói, Lampião e seus asseclas deixaram marca indelével. A participação do estudioso contribui para as muitas perspectivas do tema a serem enfrentadas por Wolney. É momento de descansar. O Dia de Finados, no sábado, exigiria ainda mais da equipe.
A colina do Horto é tomada por romeiros de diferentes estados nordestinos. O volume de visitantes inspirou a produção a criar um totem com as imagens de Lampião e Maria Bonita. O traço do cartunista Klévisson Viana amplia o tom idílico da intervenção.A proposta é simples. Quem quiser pode chegar e tirar uma foto. A única exigência é fitar a câmera e falar do cangaço. Naturalmente os participantes se aproximam, e o bom humor invade a filmagem.
Formação do time no Horto: Em pé (Wolney, Assis e Léo). Agachados Kaika Silva (produtor cultural do Crato), Evair, Dayane e Alex. O fotógrafo Rogério Rezende filmava tomadas áreas e não participou do retratoAntonio Laudenir
Ao meio-dia o destino é a Missa do Chapéu, no Centro. Cinema é uma rotina exaustiva, braçal e somente possível com ação em equipe. O respeito ao cronograma é fundamental para que o trabalho se desenvolva. A produtora Dayane Oliveira é total atenção ao entorno do set. Sempre atenta a qualquer ruído que atrapalhe a captação das imagens. Cuida da alimentação ao uso do protetor solar.
É perceptível a interação dos envolvidos. Quando uma boa conversa é registrada, todos desfilam um largo sorriso. Pouco importa as condições da locação. "Para trabalhar com cinema, deve fazer porque gosta", observa o motorista Evair.
Nas poucas horas vagas, geralmente no intervalo entre as cidades e nas paradas de alimentação, os assuntos mais puxados envolvem o mercado de cinema. O assunto família é outra manifestação recorrente. Alguns trabalham juntos por mais de 20 anos.
Conhecem muitos palmos de chão cearense e os bastidores do criar cinema no Estado. A política Federal de censura e os cortes no setor cinematográfico preocupam. A proposta de redação do Enem, que fala de democratização do acesso ao cinema no Brasil, movimentou debates.
O domingo trouxe Barbalha e a arte de Wilton Santos. Areia, arame e papelão alicerçam as esculturas. É capaz de recriar episódios violentos, a exemplo da cena das cabeças cortadas de Lampião e seu bando. Em paralelo, é suave na composição de divindades e personagens folclóricos.
Uma das peças desenvolvidas pelo artesão Wilton SilvaRogério Rezende
A última noite na companhia da equipe faz refletir a experiência. Impossível não questionar o ano de 2019. Período dado ao extermínio e descrença da cultura e ciência. Felizmente, no mesmo gomo temos outros sabores. Bem mais felizes.
Foi ano de "Pacarrete". Allan, Marcélia e Gramado. Rosemberg e "Notícias do Fim do Mundo". "Greta", de Armando Praça. "Clube dos Canibais" assinado por Guto Parente. "Bate Coração". "Soldados da Borracha". "Marie" produzido por Arthur Leite. Cannes. Karim. "A Vida Invisível". "Bacurau" com Fabíola Liper, Uirá dos Reis e o "Velho Menino" Rodger Rogério. Lembro de Fernanda Montenegro lendo a carta na abertura do Cine Ceará.
Quem enxergava aquela terra apenas pela recordação do monóculo, agora guarda outras leituras. Encarei beleza. Inocência. Contradições. Bondade. Empatia. Desejo por dias melhores. Testemunhos das muitas crenças. Injustiças, violência e resignação.
Vi trabalhadores dedicados ao ofício. O fazer cinema é sinônimo de sobrevivência para inúmeras famílias. Todos ganham quando um filme é produzido. O grupo seguirá as pegadas do cangaço por Nova Olinda (CE), Paulo Afonso (BA), Piranhas (AL), Bezerros (PE) e Recife (PE). Isso, se novas descobertas não mudarem os destinos da saga.
ENTREVISTA
Garimpeiro de histórias
Verso: Quais as suas motivações pessoais para contar a história de "Lampião, Governador do Sertão"?
Wolney Oliveira: Lampião sempre foi um assunto que me apaixonou. Meu pai, Eusélio Oliveira me influenciou no tema. Era um apaixonado pela história e o primeiro livro que li sobre cangaço foi presente dele. Escrito por Paulo Gil Soares, sobre cangaço, provavelmente tinha a ver com o filme "Memória do Cangaço" que é um clássico do Cinema Novo guiado por Soares. Quando li "Milagre em Joaseiro", de Ralph Della Cava, um dos livros mais importantes sobre o Padre Cícero ao lado da obra de Lira Neto. Existem mais de 220 livros sobre Cícero e mais de 300 sobre Lampião.
O texto de Ralph Della Cava fala da passagem de Lampião em 1926 por Juazeiro e isso ficou na minha memória. É uma coisa que está impregnada na cultura do Sertão e do Nordeste. Eu tenho essa mania, defeito ou vantagem que eu prefiro que sobre do que falte material. Eu filmei 180 horas entre 2006 e praticamente 2011, ano da estreia de "Os Últimos Cangaceiros". Entrevistei vários cangaceiros que não entraram no filme, volantes e ex-coiteiros. Por meio do tema, conheci muitos estados do Nordeste. Vários pontos belíssimos como Piranhas e o Raso da Catarina. Nosso País é muito grande e não conhecemos parte dele.
V: Como você explica a paixão pelo documentário?
W:Tive grandes influências. Eusélio Oliveira, meu pai e primeiro professor de cinema, era apaixonado pelo documentário. A outra grande motivação foi a escola de cinema de Cuba. Lá conheci grandes realizadores do gênero como Santiago Álvarez, Fernando Pérez, Gerardo Tirrona. Os dois últimos foram meus professores. Outra força é o meu querido mestre Eduardo Coutinho, que Deus ilumine e proteja. Vi praticamente tudo dele.
Em 1981, fui fazer um curso de cinema direto em Paris, fiquei três meses tendo aulas com discípulos de Jean Rouch. Entre as técnicas dele, envolve se aproximar do personagem, ficar amigo. Claro, nem sempre você pode fazer isso. É uma maneira de conseguir tirar o máximo de informação e sentimento dessas pessoas.
V: Seus trabalhos abordam vivências marginalizadas. Nesse sentido, qual é o compromisso do documentário?
W: Quem tem mais a ver com isso é o 'Soldados da Borracha'. Até hoje é um tema desconhecido por muita gente. Eu mesmo só fui saber quando tinha 40 anos. Inclusive, o maior acervo dos soldados está no Mauc da UFC. É uma história de pessoas marginalizadas, esquecidas, soterradas e menosprezadas. São histórias que o Brasil não quer ver, contar e sentir. Isso é um motivo a mais para fazer cinema documentário.
No "Milagre em Juazeiro", parto da beata que foi torturada e perseguida pela Igreja. Imagina um milagre acontecer na boca de uma negra 'pobre', 'feia', 'analfabeta', segundo os depoimentos de padres da época; e no interior do Ceará? Juazeiro do Norte? Se fosse em Paris a Igreja teria acatado. Como foi aqui não aceitou e até hoje não oficializou ainda. Não beatificou Padre Cícero.
V: O Cine Ceará chega a 30 edições em 2020 e o que você projeta para o próximo ano?
W: Superar a 29ª edição é a mesma tarefa de tentar ir além de "Os Últimos Cangaceiros". É um dos meus filmes prediletos. É o mais maduro. Já estamos trabalhando no festival. Vamos lançar um livro sobre os 30 anos do Cine Ceará. Vamos fazer em setembro de 2020. Ninguém sabe como vai estar a situação política e econômica do País. Posso dizer que das 29 edições das quais produzi e dirigi, 27 não teve nenhuma fácil. 2019 foi a mais difícil, mas também a de maior sucesso em relação a todas as outras. A 30ª edição também é um desafio.
V: Já pensou na aposentadoria ou é algo que não passa por sua cabeça? Quais trabalhos você imagina se dedicar nos próximos anos?
W: Nunca pensei em me aposentar. Óbvio, penso em relação à Casa Amarela é à Universidade. Parar enquanto cineasta, não. Meu espelho e objetivo é Luiz Carlos Barreto, um dos grandes nomes do cinema brasileiro e nordestino. Barretão é de Sobral e no auge dos seus 91 aninhos estava numa audiência pública no Supremo. Enquanto eu tiver forças, vou continuar filmando. A projeção é que em quatro anos, eu me aposente da UFC e da Casa. Daí vou fazer meus filmes que é o maior prazer da minha sina cinematográfica.
Além do "Lampião, o Governador do Sertão", estamos finalizando "Vozão, Coração do meu Povão", sobre o time do Ceará. Dirijo com o Joe Pimentel e deve sair em 2020. Estou filmando "Memórias da Chuva", longa documentário sobre Jaguaribara, que foi coberta pela água do Castanhão, maior açude da América Latina. Tem a cidade de Guassussê que foi coberta pelas águas do Orós. Outro filme sobre futebol é "Clássico Rei", que além do Joe inclui o Valdo Siqueira. Vai contar os 100 anos do confronto entre os rivais.
V: Se não fosse o cinema, o que existiria para você?
W: Quando eu tinha por volta de 20 anos, minha avó, por parte de mãe, colocou na minha cabeça que eu tinha que ser bancário. Até embarquei na onda dela, mas vi que não tinha nada a ver. Minha paixão era cinema. Nessa época eu era fotógrafo de still. Comecei fotografando casamento, batizado, aniversário e depois mais na área do fotojornalismo e vídeo. Não me imagino em nenhuma outra ocupação que não seja o cinema. Acho que minha vida não seria essa aventura que é fazer cinema.

*O repórter viajou a convite da produção do filme "Lampião, o Governador do Sertão"
  







quinta-feira, 17 de outubro de 2019

MANUEL NOVINHO: AS HISTÓRIAS DO CANGAÇO COMO LEMBRANÇAS MARCANTES EM SUA VIDA


    MANUEL “NOVINHO”
AS HISTÓRIAS DO CANGAÇO COMO LEMBRANÇAS MARCANTES EM SUA VIDA.

    
      Manuel Araújo Lima, “Seu Novinho”, nascido em 13 de dezembro de 1926, é mais um dos sertanejos nascidos às margens do Riacho do Navio, em Conceição, hoje pertencente a cidade de Flores, Pernambuco. 
Toda essa ribeira Pernambucana foi sempre passagem de cangaceiros. O pai de Seu Novinho era o senhor Luiz Gonçalves de Lima, apelidado por “Luiz Maroca”, que foi em sua infância e juventude, grande amigo do cidadão Félix, que viria a ser o famoso cangaceiro Félix da Mata Redonda.
      Maroca era casado com Amélia.
    Certa vez apareceu Lampião na casa de Maroca. O cangaceiro vinha com mais de vinte componentes em seu grupo, entre eles seus irmãos Antônio e Livino. Em frente à casa de Maroca, quando Lampião o avistou, já trazendo informação quem era o dono daquele roçado, perguntou:
- É aqui a casa de Manuel Araújo?
-  É sim, tá falando com ele!
    Nesse momento o cangaceiro Félix da Mata Redonda olhou e disse:
Que Manuel Araújo que nada, ai é meu amigo Luiz Maroca, assim eu não ia nunca saber que era você. Os dois se abraçaram. Luiz indagou a Félix:
- Mais Félix que vida miserável é essa?
- Essa é que é a vida do homem, respondeu Félix!
Os cangaceiros foram se achegando e Lampião perguntou:
- Luiz tem ai um boi pra nós?
- Tenho sim!
- Então mate um hoje a noite que amanhã eu trago alguém pra tratar e te pagar!
Os cangaceiros foram procurar um local para se arranchar e Luiz passou a noite temendo a chegada da polícia. Alta madrugada, Luiz, sem conseguir dormir, foi matar o boi e ele mesmo retalhou o animal e cozinhou uma parte. Ao amanhecer Lampião retornou com seu grupo e já encontrou uma parte do animal pronto para comer.
Lampião pagou o boi e levaram para servir de alimento durante o trajeto, no caminho que estavam viajando.

     Tempos depois, Lampião, mais uma vez apareceu na casa de Maroca e nesse dia encontrou a esposa Amélia sozinha, a mulher não pôde esconder o medo. Lampião a mandou se tranquilizar, dizendo que ninguém faria nada de mal contra ela e seus filhos. Nesse dia Lampião estava montado em um cavalo que era de Teodório, tio de Amélia. Pouco tempo depois Maroca chegou em casa e foi conversar com Lampião. O cangaceiro perguntou:
- Maroca você tem ai uma coalhada pra dar a esse meu povo?
- Tenho sim!
A coalhada foi servida. Depois os cangaceiros entraram no roçado de milho e vieram com várias espigas que assaram e comeram. Passaram a noite farreando e um cangaceiro tocando vialejo (realejo ou gaita de boca).
Quando o dia amanheceu o cangaceiro Antônio, irmão de Lampião, perguntou se Maroca teria uma rede pra emprestar a ele e Maroca foi buscar e quando a entregou ao cangaceiro, Antônio falou:
- Arme a rede Maroca!
- Armo nada, pois se ela cair você vai se queixar de mim!
Antônio riu e foi armar a rede. Os cangaceiros descansaram e depois seguiram rumo ignorado.
   Dias depois Lampião apareceu outra vez na roça de Maroca e aproveitando a oportunidade, o sertanejo foi conversar com o cangaceiro. Nessa conversa, Maroca aproveitou da amizade com o afamado chefe de grupo e pediu:
- Lampião eu tenho um cunhado chamado Aristides e ele tem uma desavença com seu tio Zé Paulo e eu gostaria que o senhor não fizesse mal nenhum a ele!
- Deixa de besteira Maroca que briga de vaqueiro se acaba no mato!
A palavra dada era honra empenhada. Aristides nunca sofreu nenhum mal por nenhum cangaceiro.
    Nas imediações das terras de Maroca existiam mais dois coiteiros que davam segurança a Lampião, o Galdino Leite e Dorotheu do Ingá. Em uma das passagens de Lampião, ele mandou Galdino ir às fazendas de Manuel Rodrigues e Neco Pinto buscar dinheiro e assim ele fez. Dias depois a polícia passou na casa de Galdino e o espancou durante horas.
     O grupo de Lampião mais uma vez pisou o terreiro de Maroca e dessa vez só estava em casa Leopoldina, que trabalhava na residência e era meio amalucada. A mulher correu e deixou a casa abandonada. Os cangaceiros Chá Preto e Zé de Delfina foram vasculhar os baús. Lampião mandou que os cangaceiros saíssem de dentro do casebre e todos ficaram aguardando o dono chegar a sua morada pra servir alguma coisa para os cangaceiros matarem a fome.
      Maroca recebeu uma missão de Lampião, trazida por seu tio Zé Paulo, que era pra ele ir arrecadar com um fazendeiros locais, uma quantia em dinheiro, pois Lampião estava precisando e esperando. Maroca arrecadou e mandou o valor estipulado por Lampião, entregando o montante a Zé Paulo. O tempo passou e um dos cangaceiros que conhecia bem Maroca, passou em sua casa e disse:
- Maroca Lampião vai te matar, pois você não mandou o dinheiro que ele pediu!
    Maroca passou dias angustiados e se valeu da amizade com Félix da Mata Redonda e pediu pra que ele o levasse com segurança até a presença de Lampião. Félix o levou e quando chegaram  em uma residência onde eles estavam arranchados, Félix foi falar com Lampião e voltou e deu a noticia:
- Ele tá ali dentro escrevendo uma carta e vem já falar com você!
De repente Lampião apareceu na porta, desceu o batente e foi na direção de Maroca.
- É segredo o que você quer falar comigo Maroca?
- É sim!
- Eu mandei o dinheiro que o senhor pediu e soube que o senhor quer me matar!
- Eu não mandei pedir nenhum dinheiro a você! E como vou te matar?
- Foi seu tio Zé Paulo que falou!
- Se preocupe não que vou resolver, pode ficar tranguilo!
- Eu até trouxe outro dinheiro caso o senhor precise!
- Guarde ai com você que está bem guardado!

       Maroca retornou pra casa, pro calor de sua morada, para o amor de Amélia. Morreu já velho, cuidado pelo filho Manuel Novinho.
      Quando criança o Manuel Novinho via em sua casa os cangaceiros, passando em seu terreiro os homens de alpercatas ferradas que deixaram marcas profundas nas areias das caatingas diversas do nordeste.
     Hoje, 17 de outubro de 2019, eu, Flávio Motta, Marta Tavares, Edileusa Pires e Fabiane Guerra, equipe do IGH – Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso e Casa da Cultura de Paulo Afonso fomos conversar com Manuel Novinho.
Com seus 93 anos de vida, Manuel Novinho relembra fatos, recorda momentos, conta histórias, encanta quem o ouve. Dele e de seu filho Climério, um amigo de longas datas e um dos mais produtivos agentes culturais da região, ganhei de presente um pequeno punhal que os cangaceiros deixaram em suas terras pernambucanas.
Os fatos marcantes que assinalaram a trajetória de sua família nuca deixaram de povoar suas recordações, nunca fugiram de suas falas.
    História oral de importante valor para a compreensão de um episódio que tão profundamente marcou a história do nosso povo Nordestino.


João de Sousa Lima
Membro do IGH – Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.