LAMPIÃO EM SANTO ANTONIO DAS
QUEIMADAS
( A CHACINA DE QUEIMADAS)
Em agosto de 2012 segui de Paulo Afonso com
o amigo Josué Santana até a cidade de Queimadas para conhecer o local da
chacina realizada por Lampião quando ele matou 7 soldados.
Em Queimadas
pegamos algumas informações com os jovens Floriano Esteves e Robson Ribeiro que
nos indicaram o senhor José Ferreira de Santana, advogado conhecido por
Zezito. Seu Zezito é filho de Umbelino
Joaquim de Santana, um dos comerciantes que teve seu comércio saqueado pelos
cangaceiros.
Também entrevistamos o Padre Carlos
Gabbanelli e por fim entrevistamos a quase centenária Zulmira Lima Farias com
seus 99 anos de idade, sendo ela uma das primeiras pessoas a ver Lampião entrando
na cidade.
Lampião e seu bando vieram oriundos de Cansanção
e chegaram nas proximidade da cidade em um carro do IFOCS (Inspetoria Federal
de Obras Contra a Seca). Antes de chegarem a Queimadas houve uma discussão
entre Zé Baiano e Virginio. Lampião tomou a pistola de Zé Baiano e jogou nas
águas do rio. Zé baiano inconformado afastou-se se separando do grupo sendo
acompanhado por Antonio de Naro.
Na margem esquerda do rio Itapicuru Lampião
pegou os irmãos Marques (Hilário, Carlos E Irênio) e ordenou que eles
conseguissem canoas para atravessarem os 16 cangaceiros.
As 15 horas do dia 22 de dezembro de 1929
os cangaceiros se desembarcaram no local chamado “Passagem”. Aproximaram-se do
chalé do Coletor Federal Francisco Lantyer e em uma oficina que ficava na
frente do casarão encontraram João Lantyer e o mecânico José de Patápio que
consertava o radiador do automóvel.
Lampião perguntou:
- Esse carro tá
funcionando?
- Estamos tentando colocar
ele em funcionamento!
- É pena, se ele tivesse
funcionando a gente ia entrar em Queimadas montado nele!
O grupo entrou em Queimadas dividido em
duas alas, sendo uma comandada por Lampião e outra por Mariano. A população
confundiu os cangaceiros com uma volante pernambucana.
A professora de teatro Zulmira Lima
conheceu que era Lampião e por mais que alertasse sobre o perigo não lhe deram
atenção.
A Estação Ferroviária foi invadida sendo o
telegrafista Joaquim Cavalcante e o Agente Manuel Evangelista tornaram-se
prisioneiros dos cangaceiros. A bilheteria foi saqueada, o telégrafo foi
destruído a coronhadas de mosquetão. O telegrafista foi obrigado a arrumar uma
alta quantia em dinheiro para não ser morto. O agente foi obrigado a mostrar as
casas dos comerciantes que seriam extorquidos.
No momento da entrada dos
cangaceiros o Juiz Manoel Hilário do Nascimento conversava com alguns amigos,
dentre eles o Tabelião José Francisco, quando chegou preso pelo cós da calça o
Oficial de Justiça Alvarino que disse:
- Doutor, o Capitão
Lampião!
Lampião a notar que o Juiz,
o Escrivão, o Oficial de Justiça e o Tabelião eram negros, disse:
- Que terra desgraçada,
toda justiça é negra!
O cangaceiro Mariano e seu
grupo se dirigiram ao comércio do senhor Umbelino Joaquim de Santana que tinha
farmácia e um depósito com produtos da região, tais como: Mamona, Ouricuri,
Tecido, Bebidas, Peles e Gêneros Alimentícios. Os cangaceiros comeram, beberam
e saquearam vários produtos. Os cangaceiros mostraram uma relação com nomes dos
comerciantes que iriam ajudá-los dando dinheiro e o nome de Umbelino vinha em
primeiro plano na lista. Umbelino saiu e foi procurar Lampião e quando o
encontrou disse que já tinha aberto as portas do seu comércio para os
cangaceiros e queria que Lampião tirasse seu nome dessa relação de
contribuição, sendo de pronto atendido pelo cangaceiro.
Lampião se dirigiu ao quartel e lá chegando
pegou os soldados e o sargento desprevenidos dando-lhes ordem de prisão. O
cangaceiro soltou os preços das celas e prendeu os soldados.
Os cangaceiros foram à casa
do Juiz Manoel Hilário e o Juiz foi quem fez a relação de pessoas que poderiam contribuir
com dinheiro. A arrecadação ficou a cargo do coronel Elias Marques.
O cantor e violonista Antonio Rosa dos
Santos sabendo da invasão dos cangaceiros saiu às ruas para conhecer Lampião.
Antonio foi reconhecido pelo cangaceiro e acabou cantando várias músicas que
muito agradou a Lampião e seus comandados. Lampião deixou Antonio cantando e
foi para o quartel onde foi executar os soldados. Dos 8 policiais presos só
escapou o comandante do destacamento, o sargento Evaristo Carlos da costa. O
sargento acompanhou os cangaceiros no espaço de tempo que eles permaneceram na
cidade, portando um fuzil sem balas no ombro.
Quando lampião invadiu a casa do escrivão
da Coletoria Federal o senhor Amphilóphio Teixeira, observou que sua esposa
Austrialina Teixeira, conhecida pela alcunha de dona Santinha, usava um
belíssimo trancelim de ouro no pescoço. Dona Santinha vendo o interesse de
Lampião pela jóia retirou-a do pescoço e a ofereceu ao cangaceiro que diante da
cordialidade da senhora falou:
-
A senhora tem direito de me fazer um
pedido, dizem que bandido não tem palavra mais eu quero mostrar a senhora que
tem!
Santinha
pediu para que não matassem o sargento Evaristo,
pois tratava-se de um cidadão correto, bom pai de família, religioso e de
caráter.
O
sargento escapou, porém os soldados foram executados barbaramente. Os soldados mortos foram: Olímpio de Oliveira,
Aristides Gabriel de Souza, José Antonio Nascimento, Inácio Oliveira, Antonio
José da Silva, Pedro Antonio da Silva e Justino Nonato da Silva.
O sargento teve que carregar nas costas a
culpa de ter sido traidor e responsável pelo fato acontecido sendo relapso na
segurança dos seus comandados e da cidade. Depois do ocorrido o sargento teve
que responder um longo processo por negligencia. O processo foi concluído em
1931 e Evaristo foi absolvido por unanimidade. O sargento morreu em Santaluz em
1978, com 86 anos de idade.
Santo Antonio das queimadas que viu os
moribundos sobreviventes de Canudos, o exército que trafegava na velha Maria
fumaça que cruzava a cidade, viu também as marcas geradas e deixadas pelo
cangaço quando diante da população aflita e indefesa presenciou o assassinato
de 7 soldados da polícia baiana. As
marcas permanecem feitas feridas que não saram, as dores eclodem em cada triste
lembrança daquele fatídico mês de dezembro de 1929 e hoje quando se comemora o
Natal as luzes da cidade acendem velando as almas daqueles homens que foram
impiedosamente exterminados pelas mãos que fizeram uma história manchada de
sangue, capítulos que não se calam, feito ecos permanentes que se transfiguram
nos sons que ecoam nas páginas tristes e sangrentas que permeiam capítulos
vividos e que o tempo não apaga de nossas memórias.
Paulo Afonso, Bahia, Agosto
de 2012.
João de Sousa Lima
Escritor e Historiador
Membro da ALPA- Academia de
Letras de Paulo Afonso- Cadeira 06.
78-8807-4138 / 9101-2501
WWW.joaodesousalima.comPadre Carlos Gabbanelli e João no Chalé da família Lantyer.
o Dr. Zezito(hoje com 85 anos de idade) com seu pai Umbelino Joaquim de Santana.
Os cangaceiros saquearam o comércio do senhor Umbelino.
o Comércio do senhor Umbelino saqueado pelos cangaceiros.
O prédio a esquerda é a delegacia onde Lampião e seu grupo matou os 7 soldados.
o advogado Dr. José Ferreira de Santana (Zezito) com João de Sousa Lima, relatando os fatos acontecidos com seu pai.
Fotografia do sargento Evaristo Carlos da Costa, em seu túmulo, na cidade de Santaluz.
João e Floriano tendo por trás a que sobrou da estação invadida pelos cangaceiros.
Zulmira, professora de teatro, uma das primeiras pessoas e ver e reconhecer lampião. (ainda viva com 99 anos de idade)
João e Zulmira Lima Farias, professora que viu Lampião chegando em Queimadas.
Uma das covas dos soldados mortos por Lampião
Outro túmulo.
Túmulo de um dos soldados.
Túmulo de outro soldado.
Túmulo do soldado.
mais um túmulo.
João de Sousa Lima e Josué santana, na frente do quartel onde os soldados foram mortos.
Querido amigo João.
ResponderExcluirEspero poder lhe chamar assim, mesmo não lhe conheçendo pessoalmente, a tenologia e bom para isso né, risos. Adorei esse relato, adoro a historia do cangaço, gostaria se possivel receber mais relatos deste quilate, foi uma leitura que me levou até o momento do acontecido, fechei os olhos e me vi lá, parabéns, por favor continue me mandado esses relatos e se possivel mande fotos de tudo que puder um fraterno abraço.
Marcelo Cosentini
OAB/SP 99.499
obs: se tiver me mande tudo sobre o capitão corisco e seu bando.
ResponderExcluirOi João.
Que bela reportagem meu amigo. Também as fotos são muito interessante. Nunca ninguém mostrou os túmulos dos soldados mortos por Lampião. As duas fotos antigas da cidade são de uma beleza ímpar, também muito interessante a foto do sr. Umbelino com o garoto Zezito.
É isso aí João. Por essa e outras que você está sempre na frente. Descobrindo coisas e fatos e mostrando a todo mundo.
Abraço meu querido amigo. E muito obrigado
Sabino Basetti
simplemente fantastico
ResponderExcluirPrezado João.
ResponderExcluirParabéns pelo belo trabalho. Gostaria de informar que a pessoa a qual Lampião, ao atravessar o rio Itapicuru, indaga sobre o automóvel, chamava-se João Lantyer.
Bernadete Lantyer.
O sargento Evaristo Carlos da Costa,depois de sua mudança para sua cidade natal Santaluz ainda prestou serviços na força policial como delegado nomeado duas vezes.
ResponderExcluirCaro escritor. Belíssima matéria! Gostaria de informar que hoje a Polícia Militar do Estado da Bahia em parceria com a Prefeitura de Queimadas, realizam hoje uma homenagem póstuma aos soldados assassinados. Marco Senna - Comunicador social
ResponderExcluirCaro escritor. Belíssima matéria! Gostaria de informar que hoje a Polícia Militar do Estado da Bahia em parceria com a Prefeitura de Queimadas, realizam hoje uma homenagem póstuma aos soldados assassinados. Marco Senna - Comunicador social
ResponderExcluirOlá João! Que pena que nas matérias sobre o crime em Queimadas, só vemos foto do Sargento Evaristo, será que nem a família dos soldados mortos não têm uma foto deles? Abraço!
ResponderExcluirMinha avó contava que Lampião,antes de sair da cidade, ainda exigiu que houvesse um baile. Alguém sabe se foi assim mesmo que aconteceu ?
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