quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A Cachoeira de Paulo Afonso, por João de Sousa Lima - www.joaodesousalima.blogspot.com



     
A CACHOEIRA NA VISÃO DOS ARTISTAS.

    Dentre os grandes poetas brasileiros a cachoeira de Paulo Afonso serviu de tema na poesia de Castro Alves.
"O livro A Cachoeira de Paulo-Affonso foi publicado após a morte de Castro Alves. Foi publicado pela Imprensa Econômica, Bahia, em 1876.
Sete anos antes da publicação da sua obra principal, Os Escravos. [...] Para Afrânio Peixoto, A Cachoeira de Paulo-Affonso é a parte final dos Escravos, porque assim o desejava o autor. [...] A obra é composta de 33 poemas de metros e tamanhos variados que, no seu conjunto, constituem uma seqüência narrativa, emoldurada por quadros que fixam aspectos e momentos da natureza brasileira. Ruy Barbosa, que fez a primeira crítica, destaca os primores de descritiva das paisagens e dos tipos rústicos. Com efeito, a tragédia íntima da escravidão se desenrola dolorosa e inconsolável no cenário da bela cachoeira, imenso palco, digno de tamanha dor."

Antônio Frederico de Castro Alves foi um importante poeta brasileiro do século XIX. Nasceu na cidade de Curralinho (Bahia) em 14 de março de 1847.
 No período em que viveu (1847-1871), ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem baiano, simpático e gentil, apesar de possuir gosto sofisticado para roupas e de levar uma vida relativamente confortável, foi capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados.
 Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Este seu estilo contestador o tornou conhecido como o “Poeta dos Escravos”. 
 Aos 21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio Negreiro”. A contra gosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos. 
 Além de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos lírico-amorosos, de acordo com o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo. 
Este notável escritor morreu ainda jovem, antes mesmo de terminar o curso de Direito que iniciara, pois, vinha sofrendo de tuberculose desde os seus 16 anos.
 Apesar de ter vivido tão pouco, este artista notável deixou livros e poemas significativos.
Abaixo segue a poesia que fala daCachoeira de Paulo Afonso:

A cachoeira

MAS SÚBITO da noite no arrepio
Um mugido soturno rompe as trevas...
Titubantes — no álveo do rio —
Tremem as lapas dos titães coevas!...
Que grito é este sepulcral, bravio,
Que espanta as sombras ululantes, sevas?...
É o brado atroador da catadupa
Do penhasco batendo na garupa!...

Quando no lodo fértil das paragens
Onde o Paraguaçu rola profundo,
O vermelho novilho nas pastagens
Come os caniços do torrão fecundo;
Inquieto ele aspira nas bafagens
Da negra sucuruiúba o cheiro imundo...
Mas já tarde silvando o monstro voa...
E o novilho preado os ares troa!




Então doido de dor, sânie babando,
Co'a serpente no dorso parte o touro...
Aos bramidos os vales vão clamando,
Fogem as aves em sentido choro...
Mas súbito ela às águas o arrastando
Contrai-se para o negro sorvedouro...
E enrolando-lhe o corpo quente, exangue,
Quebra-o nas roscas, donde jorra o sangue.


Assim dir-se-ia que a caudal gigante
— Larga sucuruiúba do infinito —
Co'as escamas das ondas coruscante
Ferrara o negro touro de granito!...
Hórrido, insano, triste, lacerante
Sobe do abismo um pavoroso grito...
E medonha a suar a rocha brava
As pontas negras na serpente crava!...

Dilacerado o rio espadanando
Chama as águas da extrema do deserto...
Atropela-se, empina, espuma o bando...
E em massa rui no precipício aberto...
Das grutas nas cavernas estourando
O coro dos trovões travam concerto...
E ao vê-lo as águias tontas, eriçadas
Caem de horror no abismo estateladas...

A cachoeira! Paulo Afonso! O abismo!
A briga colossal dos elementos!
As garras do Centauro em paroxismo
Raspando os flancos dos parcéis sangrentos.
Relutantes na dor do cataclismo
Os braços do gigante suarentos
Agüentando a ranger (espanto! assombro!)
O rio inteiro, que lhe cai do ombro.

Grupo enorme do fero Laocoonte
Viva a Grécia acolá e a luta estranha!...
Do sacerdote o punho e a roxa fronte...
E as serpentes de Tênedos em sanha!...
Por hidra — um rio! Por áugure — um monte!
Por aras de Minerva — uma montanha!
E em torno ao pedestal laçados, tredos,
Como filhos — chorando-lhe — os penedos!



  





     Inúmeros poemas e versos enalteceram a Cachoeira de Paulo Afonso, o Rei do Baião, o famoso Luiz Gonzaga, que realizou dezenas de shows nessa cidade, fez com Zé Dantas, a música Paulo Afonso, retratando o Rio, o trabalho árduo dos cassacos nas escavações das rochas, o progresso e a Cachoeira:

 “Olhando pra Paulo Afonso
Eu louvo nosso engenheiro
Louvo o nosso cassaco
Caboclo bom verdadeiro
Vejo o Nordeste
Erguendo a bandeira
De ordem e progresso
A nação brasileira
Vejo a indústria
Gerando riqueza
Findando a seca
Salvando a pobreza
Ouço feliz mensageiro
Dizendo na força da CACHOEIRA
O Brasil Vai, o Brasil vai”


   






 Outros renomados autores e escritores escreveram sobre a cachoeira, a exemplo do compositor Ary Lobo, o poeta Olavo Bilac e tantos outros.
 Um dos relatos interessantes e que foi deixada pela cangaceira Dadá foi de ter visto o dirigível Zeppelin cruzando próximo a cachoeira de Paulo Afonso, lembrando também que por várias vezes, Corisco ficava apreciando, pelo lado alagoano e de longe, as quedas da cachoeira.

    A Cachoeira de Paulo Afonso, tão explorada, adorada, admirada e fotografada por sua grandeza, tão desejada por seu poderio econômico e tão visitada por sua beleza, sendo um dos grandes atrativos turísticos  do nordeste brasileiro, atraindo imensas massas de turistas de toda parte do mundo, hoje, sucumbiu em nome do progresso e só a vemos em filetes de águas quase imperceptíveis, córregos ínfimos entre fendas das rochas que o tempo abriu diante da magnitude de suas águas que correram no passado, por séculos e séculos a fio, lapidando e arredondando as formas pontiagudas das pedras que agora só escutam  os sons das águas rolando em turbilhões poderosos quando as chuvas se precipitam do norte de Minas e de seus inúmeros afluentes, ao longo de um Rio agonizante, sem esperança, castigado pela mão do homem, que se acha sábio e destrói a natureza, perfeita obra divina.
Resta-nos só esperança e o sonho de ver outra vez o Rio São Francisco em sua magnitude e o roncar da Cachoeira de Paulo Afonso rasgando as fendas das pedras que hoje aprisionam seu lento trajeto.


João de Sousa Lima
Escritor, Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso, Cadeira nº 06.
Paulo Afonso, 13/12/2018

para saber mais sobre a cachoeira de Paulo Afonso leia o livro "A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO: UM DOSSIÊ HISTÓRICO"