O
menino - primeiro dos seis filhos do casal - foi registrado como Inácio
Carvalho Oliveira, sobrenome da família que o adotou quando estava com 6 anos,
após a morte do padre. Adulto, Inácio mudou-se para o Rio. Entrou para a
Polícia Militar.
Tornou-se
segundo tenente. Em 2005, com 66 anos de idade e já reformado, soube enfim que
os pais estavam vivos e formavam o último casal sobrevivente do cangaço.
Moravam em Belo Horizonte e se chamavam Jovina Maria da Conceição e José
Antonio Souto, nomes registrados em carteiras de identidade e com os quais
buscaram afastar os fantasmas do passado.
Toda
esses fatos foram contados ontem por parte dos protagonistas, no encerramento
do 1º Congresso Nacional do Cangaço: Cultura e Memória, realizado no Museu da
República, mais um prédio futurista projetado por Oscar Niemeyer na Esplanada
dos Ministérios, em Brasília.
Durvinha,
de 92 anos, estava lá, para narrar seus feitos; Moreno, de 96 anos, sofreu uma
queda pela manhã e teve de ser levado para o Hospital de Base. "Me sinto
tão culpada. Ele caiu porque foi pegar um sapato meu. Nós dois já não
enxergamos quase nada." A informação do hospital é de que Moreno está bem
e deve ser liberado hoje.
O
crachá da cangaceira registrava o nome da identidade, Jovina Maria da
Conceição. Inácio, porém, não a chama assim. Para ele, é Durvalina ou Durvinha.
Do pai, nem conseguiu se lembrar o nome todo na identidade. "Acho que é
José Antonio, e tem um sobrenome aí que não sei. Para mim, ele é o Antonio
Inácio da Silva ou o Moreno." Inácio disse ter por hábito visitar Tacaratu
quase todo ano.
FUGA
Durvinha
nasceu em 1915 no povoado de Arrasta-pé, em Curral dos Bois, hoje Paulo Afonso
(BA). Ainda mocinha abandonou a casa dos pais para correr atrás do cangaceiro
Virgínio, cunhado de Lampião. Não sabe quantos anos tinha. "Não havia
registro. Era tudo na bruta. A gente se juntou. Não chegamos a ir ao
padre". Disse que teve dois filhos com Virgínio, dos quais nunca mais teve
notícias depois dos tempos do cangaço.
Virgínio
foi morto em 1936. "No bando não podia haver viúvas. Pelas leis lá, ou
elas se casavam com outro cangaceiro ou eram mortas. Moreno se propôs a ficar
comigo", disse Durvinha. Com ele teve outros seis filhos: Inácio, que só
conheceu há dois anos, e outros cinco, todos morando em Belo Horizonte. Durante
as fugas pela caatinga, o jeito era pegar um pedaço de rapadura aqui, um
punhado de farinha ali, driblar a fome e a polícia. "Morria de medo de ser
degolada, como Lampião."
No
filme Baile perfumado (1996), direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira,
aparecem imagens do bando de Lampião feitas entre 1935 e 1936 pelo libanês
Benjamin Abrahão. Numa delas, Durvinha dança com Moreno, embora estivesse na
companhia de Virgínio. Noutra, avança sobre a câmera com o revólver na mão.
Durante os combates, ela levou um tiro na coxa esquerda. "A carne rasgou
de fora a fora. Os cangaceiros me salvaram jogando um litro de pimenta."
Durvinha disse que só teve uma razão para aderir ao cangaço: a paixão por
Virgínio.
Durvinha e João de Sousa Lima, na residencia da cangaceira em Belo Horizonte.Durvinha lançando com o autor sua biografia.
almoço na casa da cangaceira com os filhos Murilo e Nely
em Brasilia participando do 1° encontro do cangaço do Brasil
Durvinha sendo entrevistada por João e Kidelmir , em Brasileira-DF
mensagem de João de Sousa Lima na morte da amiga Durvinha.
em Fortaleza o recontro do casal Moreno e Durvinha com a amiga Aristeia.
lançamento da biografia em Belo Horizonte
Parabenizo ao João pelo empenho de reescrever a História do Cangaço narradas por quem dele participou e viveu.
ResponderExcluirIsso é de um valor cultural, sociológico importantíssimo para compreendermos um momento difícil da nossa História.