Dia 11 de julho de 2018, eu, Sandro Lee e
Nilton Negrito estivemos traçando um dos Roteiros do Cangaço em Paulo Afonso e
demarcamos um dos mais famosos pontos da
história em nossa região.
Na Lagoa do Mel
colocamos uma cruz marcando o local da morte de Ezequiel e onde também morreram
16 soldados.
Essa ação faz parte do
movimento Rota do Cangaço que eu e Sandro Lee estamos lutando há anos para tornar
realidade em nossa cidade. Já pontuamos vários espaços onde houve histórias
sobre o tema. Ainda falta alguns locais a serem delimitados para podermos
finalizar esse projeto, que esperamos encerrar ainda em 2018.
PARA ENTENDER UM POUCO
MAIS DA HISTÓRIA SOBRE O LOCAL ONDE
ESTIVEMOS E ONDE MORREU EZEQUIEL, IRMÃO DE LAMPIÃO.....
Um dos mais ferrenhos combates de Lampião na
Bahia aconteceu em Paulo Afonso, no povoado Baixa do Boi. Nesse confronto
morreu, a principio, 16 soldados e posteriormente, em fuga e perdidos,
morreram mais 3 policiais.
O cangaço era movido por
tiroteios, mortes e ferimentos. Lampião foi grande estrategista e astucioso,
com uma grande capacidade de pressentir o perigo que constantemente o rondava.
O famoso cangaceiro vivia dividido entre os inúmeros combates e mesmo tendo desenvolvido
uma quase perfeita estratégia de segurança, contando com o apoio dos numerosos
coiteiros, tinha sempre a morte rondando seus dias e sofreu consideráveis
baixas em seu contingente. Entre seus maiores dissabores ele sofreu trágicas
perdas e ver alguns irmãos sucumbirem em combates sobre sua proteção, foi
doloroso. No campo de luta ele viu três irmãos morrerem. O primeiro morto em
combate foi o Livino ferreira da Silva, no abno de 1925, em um tiroteio
acontecido na fazenda baixa do Juá, próximo a cidade de Flores, Pernambuco, com
volantes paraibanas comandadas pelos sargentos José Guedes e Cícero de
Oliveira. Livino faleceu oito dias após esse tiroteio, com 29 anos de idade.
O segundo irmão a deixar
o mundo dos vivos foi Antonio Ferreira, nascido em 1896 e morto em janeiro de
1927, na fazenda poço do ferro, Tacaratu, Pernambuco, propriedade do coronel Ângelo
da Jia, em decorrência de um acidente ocasionado por Luiz Pedro, que disparou
sua arma acidentalmente atingindo o próprio amigo.
O terceiro morto em
combate foi Ezequiel Ferreira da Silva, o mais jovem irmão, nascido em 1908.
Ezequiel passou a acompanhar Lampião em 1927, junto com o cunhado Virgínio. Ele
tinha o apelido de Ponto Fino, alcunha adquirida pela justeza do seu tiro.
Sua morte aconteceu em
Paulo Afonso, Bahia, no povoado Baixa do Boi, terras pertencentes na época a
santo Antonio da Glória do curral dos Bois.
O tenente Arsênio Alves
de Souza chegou ás imediações do povoado Riacho com uma volante composta por
aproximadamente 20 soldados e tendo como guia os dois irmãos Aurélio e Joví,
que eram fugitivos da cadeia de Glória, preso pelo inspetor de quarteirão, o
senhor Pedro Gomes de Sá, pai da cangaceira Durvinha. A volante chegou ao
povoado riacho no dia 23 de abril de 1931, trazendo entre seu aparato bélico
uma metralhadora Hotchkiss. O primeiro contato do tenente no lugar foi com Zé
Pretinho e o jovem foi forçado a seguir com os policiais. Cruzaram o terreiro
de dona generosa Gomes de Sá, coiteira de Lampião e foram armar acampamento na
Lagoa do Mel, um tanque construído por Antonio Chiquinho.
Enquanto a policia se
preparava para passar a noite na lagoa do Mel, outras fontes confiáveis de
informações de Lampião se dirigiam para o povoado Arrasta-pé para avisar ao Rei
do Cangaço sobre a presença dos militares nas proximidades. Lampião mandou
avisar Corisco e Ângelo roque, que estavam arranchados bem próximos e junto com
eles combinaram um ataque aos soldados.
Ainda com o escuro da
noite, próximo ao amanhecer, Lampião recolheu alguns chocalhos com Pedro Gomes
e seguiu as veredas que davam a cesso a lagoa do mel.
No coito da policia,
prestes a amanhecer, o Zé Pretinho saiu com o intuito de pegar um bode para
fazer parte do desjejum de todos ali.
Com a escuridão se
transformando em luz, os soldados ouviram o tilintar de chocalhos e imaginaram
que seriam os bodes se aproximando para beber água (um dos sobreviventes desse
combate, o soldado José Sabino, ordenança do tenente, relatou, anos depois, que
realmente confundiram os chocalhos, achando que eram alguns caprinos se
aproximando para beber água na lagoa). Na verdade eram os cangaceiros cercando
o coito.
Despreocupados, os
policiais sofreram um forte e inesperado ataque, uma verdadeira chuva de balas
caiu sobre eles. Vários corpos caíram atingidos por balas mortais e certeiras.
A dificuldade encontrada pelos soldados foi que eles cometeram um grande
vacilo. A lagoa do Mel era rodeada por uma cerca de varas e eles haviam dormido
dentro do cercado. Quando eles tentavam transpor as madeiras se transformavam
em alvo fácil e caiam mortalmente feridos. Um exemplo dessas mortes trágicas
foi a do sargento Leomelino Rocha que morreu e ficou de pé pendurado nas
madeiras. Em um dos bolsos desse sargento lampião encontrou um bilhete do
coronel Petro indicando alguns locais onde ele se escondia.
O tenente Arsênio diante
o desespero do momento, conseguiu efetuar uma rajada de metralhadora e acabou
acertando a barriga de Ezequiel Ferreira. A arma depois emperrou e o tenente
conseguiu retirar o percussor (ferrolho) da arma e fugiu levando a peça que
deixaria a arma inutilizável.
Nesse dia Lampião chorou
amargamente a morte do irmão caçula e teve que enterrá-lo, com a ajuda de
Antonio Chiquinho, próximo a Lagoa do Mel.
Era a vida dos que
viviam pelo poder das armas, que tombavam no dia a dia, pelo aço lacerante do
pipocar das artilharias dos diversos grupos que traçaram as páginas do cangaço
no nordeste brasileiro.
João de Sousa Lima
Paulo Afonso 12 de julho de 2018
Membro da SBEC- Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço
Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso – cadeira 06
tenente Arsênio de souza |
Ezequiel ferreira e Virginio |
sargento leomelino Rocha |
Amaury, Antonio Chiquinho (enterrou Ezequiel) e João de sousa Lima |
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