A
CACHOEIRA NA VISÃO DOS ARTISTAS.
Dentre os grandes poetas brasileiros a
cachoeira de Paulo Afonso serviu de tema na poesia de Castro Alves.
"O livro A Cachoeira de
Paulo-Affonso foi publicado após a morte de Castro Alves. Foi publicado pela
Imprensa Econômica, Bahia, em 1876.
Sete anos antes da
publicação da sua obra principal, Os Escravos. [...] Para Afrânio Peixoto, A
Cachoeira de Paulo-Affonso é a parte final dos Escravos, porque assim o
desejava o autor. [...] A obra é composta de 33 poemas de metros e tamanhos
variados que, no seu conjunto, constituem uma seqüência narrativa, emoldurada
por quadros que fixam aspectos e momentos da natureza brasileira. Ruy Barbosa,
que fez a primeira crítica, destaca os primores de descritiva das paisagens e
dos tipos rústicos. Com efeito, a tragédia íntima da escravidão se desenrola
dolorosa e inconsolável no cenário da bela cachoeira, imenso palco, digno de
tamanha dor."
Antônio Frederico de Castro
Alves foi um importante poeta brasileiro do século XIX. Nasceu na cidade de
Curralinho (Bahia) em 14 de março de 1847.
No
período em que viveu (1847-1871), ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem
baiano, simpático e gentil, apesar de possuir gosto sofisticado para roupas e
de levar uma vida relativamente confortável, foi capaz de compreender as dificuldades
dos negros escravizados.
Manifestou
toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual
os negros eram submetidos. Este seu estilo contestador o tornou conhecido como
o “Poeta dos Escravos”.
Aos
21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração
cívica, o “Navio Negreiro”. A contra gosto, os fazendeiros ouviram-no clamar
versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram
submetidos.
Além
de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos
lírico-amorosos, de acordo com o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro
Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo.
Este
notável escritor morreu ainda jovem, antes mesmo de terminar o curso de Direito
que iniciara, pois, vinha sofrendo de tuberculose desde os seus 16 anos.
Apesar
de ter vivido tão pouco, este artista notável deixou livros e poemas
significativos.
Abaixo
segue a poesia que fala daCachoeira de Paulo Afonso:
A
cachoeira
MAS
SÚBITO da noite no arrepio
Um
mugido soturno rompe as trevas...
Titubantes
— no álveo do rio —
Tremem
as lapas dos titães coevas!...
Que
grito é este sepulcral, bravio,
Que
espanta as sombras ululantes, sevas?...
É
o brado atroador da catadupa
Do
penhasco batendo na garupa!...
Quando
no lodo fértil das paragens
Onde
o Paraguaçu rola profundo,
O
vermelho novilho nas pastagens
Come
os caniços do torrão fecundo;
Inquieto
ele aspira nas bafagens
Da
negra sucuruiúba o cheiro imundo...
Mas
já tarde silvando o monstro voa...
E
o novilho preado os ares troa!
Então
doido de dor, sânie babando,
Co'a
serpente no dorso parte o touro...
Aos
bramidos os vales vão clamando,
Fogem
as aves em sentido choro...
Mas
súbito ela às águas o arrastando
Contrai-se
para o negro sorvedouro...
E
enrolando-lhe o corpo quente, exangue,
Quebra-o
nas roscas, donde jorra o sangue.
Assim
dir-se-ia que a caudal gigante
—
Larga sucuruiúba do infinito —
Co'as
escamas das ondas coruscante
Ferrara
o negro touro de granito!...
Hórrido,
insano, triste, lacerante
Sobe
do abismo um pavoroso grito...
E
medonha a suar a rocha brava
As
pontas negras na serpente crava!...
Dilacerado
o rio espadanando
Chama
as águas da extrema do deserto...
Atropela-se,
empina, espuma o bando...
E
em massa rui no precipício aberto...
Das
grutas nas cavernas estourando
O
coro dos trovões travam concerto...
E
ao vê-lo as águias tontas, eriçadas
Caem
de horror no abismo estateladas...
A
cachoeira! Paulo Afonso! O abismo!
A
briga colossal dos elementos!
As
garras do Centauro em paroxismo
Raspando
os flancos dos parcéis sangrentos.
Relutantes
na dor do cataclismo
Os
braços do gigante suarentos
Agüentando
a ranger (espanto! assombro!)
O
rio inteiro, que lhe cai do ombro.
Grupo
enorme do fero Laocoonte
Viva
a Grécia acolá e a luta estranha!...
Do
sacerdote o punho e a roxa fronte...
E
as serpentes de Tênedos em sanha!...
Por
hidra — um rio! Por áugure — um monte!
Por
aras de Minerva — uma montanha!
E
em torno ao pedestal laçados, tredos,
Como
filhos — chorando-lhe — os penedos!
Inúmeros poemas e versos enalteceram a Cachoeira
de Paulo Afonso, o Rei do Baião, o famoso Luiz Gonzaga, que realizou dezenas de
shows nessa cidade, fez com Zé Dantas, a música Paulo Afonso, retratando o Rio,
o trabalho árduo dos cassacos nas escavações das rochas, o progresso e a
Cachoeira:
“Olhando pra Paulo Afonso
Eu
louvo nosso engenheiro
Louvo
o nosso cassaco
Caboclo
bom verdadeiro
Vejo
o Nordeste
Erguendo
a bandeira
De
ordem e progresso
A
nação brasileira
Vejo
a indústria
Gerando
riqueza
Findando
a seca
Salvando
a pobreza
Ouço
feliz mensageiro
Dizendo
na força da CACHOEIRA
O
Brasil Vai, o Brasil vai”
Outros renomados autores e
escritores escreveram sobre a cachoeira, a exemplo do compositor Ary Lobo, o
poeta Olavo Bilac e tantos outros.
Um dos relatos
interessantes e que foi deixada pela cangaceira Dadá foi de ter visto o
dirigível Zeppelin cruzando próximo a cachoeira de Paulo Afonso, lembrando
também que por várias vezes, Corisco ficava apreciando, pelo lado alagoano e de
longe, as quedas da cachoeira.
A Cachoeira de Paulo Afonso, tão explorada,
adorada, admirada e fotografada por sua grandeza, tão desejada por seu poderio econômico e tão visitada por sua
beleza, sendo um dos grandes atrativos turísticos do nordeste brasileiro, atraindo imensas
massas de turistas de toda parte do mundo, hoje, sucumbiu em nome do progresso
e só a vemos em filetes de águas quase imperceptíveis, córregos ínfimos entre
fendas das rochas que o tempo abriu diante da magnitude de suas águas que
correram no passado, por séculos e séculos a fio, lapidando e arredondando as
formas pontiagudas das pedras que agora só escutam os sons das águas rolando em turbilhões
poderosos quando as chuvas se precipitam do norte de Minas e de seus inúmeros
afluentes, ao longo de um Rio agonizante, sem esperança, castigado pela mão do
homem, que se acha sábio e destrói a natureza, perfeita obra divina.
Resta-nos só esperança e o
sonho de ver outra vez o Rio São Francisco em sua magnitude e o roncar da
Cachoeira de Paulo Afonso rasgando as fendas das pedras que hoje aprisionam seu
lento trajeto.
João de Sousa Lima
Escritor, Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso, Cadeira nº 06.
Paulo Afonso, 13/12/2018
para saber mais sobre a cachoeira de Paulo Afonso leia o livro "A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO: UM DOSSIÊ HISTÓRICO"
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