Já faz um tempo que meu telefone tocou e
falei com uma mulher que se identificou como sendo a jornalista e escritora
Adriana Negreiros. Ela estava vindo a minha cidade Paulo Afonso e queria me
entrevistar para colher e confrontar informações para um futuro livro falando
sobre Mulheres Cangaceiras, sem que antes ela me elogiasse dizendo que não se
poderia realizar uma pesquisa dessa natureza sem recorrer a minha pesquisa e
aos meus escritos. Sempre solícito, concordei de imediato com o encontro e
ajustamos uma data e um horário, encontro que aconteceria em meu trabalho na
Casa da Cultura. No dia e horário marcado a Adriana não compareceu e só a noite
mandou uma mensagem falando que estava hospedada no hotel San Marino e que
depois apareceria. Nosso encontro nunca aconteceu e eu soube dias depois que
ela havia procurado o escritor Luis Ruben, em sua residência, para
entrevistá-lo.
Achei estranha essa atitude dela,
porém, descobri depois que ela era casada com o escritor Lira Neto, a quem eu
havia feito duras críticas, em relação a um texto que ele escreveu, sendo que o
artigo saiu no jornal Diário do Nordeste no dia 10 de setembro de 2010 e se refere a morte do Cangaceiro Moreno.
Lira Neto diz entre tantos outros impropérios que existe uma “ignorância
cavalar de todos os sociólogos, historiadores, cineastas, jornalistas e
escritores que, ainda hoje, por estupidez ideológica, ranço acadêmico ou
ingenuidade histórica, insistem em glamourizar o cangaço”. E ainda chama todos
os escritores do cangaço de estúpidos e ingênuos.
Lógico que defendi minha pesquisa e meus amigos que tão seriamente pesquisam e registram o
cangaço. Só que confesso, não sou de medir palavras quando me sinto ferido e,
imbecil, foi a palavra mais educada que usei para descrever o texto idiota
vinculado no jornal e escrito por Lira Neto, a quem não devo favor e nem consideração nenhum.
Eis que agora me chega em mãos um texto de Juliana Linhares, da
“UNIVERSA”, texto vinculado também na UOL e que traça o perfil do livro a ser
lançado pela Adriana Negreiros. Confesso
que só na leitura desse escrito, fazendo talvez uma análise de valor de uma
obra ainda a ser lançada, me preocupei bastante com tantas baboseiras e
invencionices registradas pela escritora. Ela segue em passos largos a ser o
que o marido falou tempos atrás com seu texto ignorante quando chama todos os
escritores do cangaço de estúpidos e ingênuos. Talvez o Lira Neto não soubesse
que o telhado caísse um dia em sua cabeça e agora ele acobertado por seu próprio
telhado de vidro, tivesse uma escritora realmente Estúpida e Ingênua falando do
cangaço.
O texto que li na reportagem diz que Lampião e Maria Bonita deu sua
única filha e não há mentira nisso, só incompletude. Alem da Expedita, o casal
deu um outro filho para que os pais de Maria Bonita criasse.
Adriana cita que Maria Bonita usava as jóias mais caras e gostaria de
saber quem foi o avaliador dessas jóias e em que registro ela pesquisou essas
informações.
Em umas das maiores inverdades apresentada no texto Adriana cita Maria
Bonita como “ESPIÔ do grupo e além de tudo, ela arregimentando homens nas
cidades. Meu Deus quanta invencionice. Confesso que nunca li tamanho disparate
com a verdade. Mais não pára por ai a corrente de desconhecimentos. Ainda cita
Maria Bonita tocando Bandolim e, o mais incrível, sendo acompanhada por Lampião
que cantava e quando entalava a voz chupava pastilhas “Valda”. Só rindo mesmo
diante de tamanha falta de conhecimento. Seguindo o texto Adriana narra Maria
Bonita arrancando brincos e lóbulos de orelhas, cenas vinculadas nos filmes
brasileiros e que não corresponde a verdade.
Entre tantas inverdades a escritora fala que Maria Bonita adorava comer
“Passarinho ao Vinho” preparado por Lampião... ... Há se ela tivesse realizado uma
pesquisa séria e pudesse ter ouvido a cozinheira Dona Cabocla, ainda viva com
116 anos de idade e que durante muito tempo cozinhou para Lampião e outros
cangaceiros.
Adriana diz que Déa era o nome da mãe de Maria Bonita e não era. Déa era
apelido.
A Juliana Linhares diz que esse livro de Maria Bonita é sua primeira biografia
e ai recai sobre ela também a desinformação de quem nunca leu sobre o cangaço.
A primeira biografia sobre Maria Bonita, com o título “A Trajetória Guerreira
de Maria Bonita, A Rainha do cangaço”, livro hoje bastante referenciado, eu
escrevi há mais de 15 anos. Ainda temos outras grandes pesquisas sobre Maria
Bonita, sendo o livro de Antonio Amaury Correa de Araújo, Lampião, As Mulheres
e o Cangaço, outra importantíssima obra relatando em pormenores as questões e
costumes femininos dentro do tema.
Recorrendo ainda a pesquisa pouco ajustada a qual lemos estarrecidos
diante de tanta falta de conhecimento e levantamentos imprecisos. Adriana
Negreiro coloca Maria Bonita usando binóculo e só o perfume Fleurs D`Amour.
Binóculo eu nunca vi, aparece na película de Benjamim Abraão, filmada em 1936,
Lampião manuseando um binóculo que foi presenteado ao cangaceiro por Eronides
de Carvalho. Ela quer colocar Maria Bonita só usando perfume Francês e sabemos
que tanto as mulheres quanto os homens usavam vários tipos de perfumes, entre
eles uma versão do francês chamado Flor de Amor, Pompéia, Dedo de Moça, dentre
outros, comprados por coiteiros em feiras, povoados e, ainda presentes de
amigos, coronéis e pessoas ligadas ao cangaço.
Dentre os maiores absurdos da pesquisa de Adriana e, confesso, gostaria
de saber quem foi a cangaceira que deu tão incoerentes depoimentos, ela cita as
cangaceiras usando vestidos de seda e botas de canos curtos... ...Eita que não dar pra engolir. Bastava
uma simples pesquisa fotográfica, uma vez que sei que ela não conheceu
nenhuma cangaceira que pudesse atestar
essas aberrações, para a escritora pudesse observar que essas vestimentas não
fizeram parte das indumentárias das cangaceiras. Diz ainda que as cangaceiras
só usavam vestidos de tecidos duros e fortes quando entravam no mato e aqui eu
faço uma pergunta simples: QUAL O DIA QUE ELAS NÃO ANDAVAM NO MATO???.
Texto abaixo e vêm mais desinformações: “AS CANGACEIRAS NUNCA TINHAM
RELAÇÕES SEXUAIS ÀS SEXTAS FEIRAS”..... Nem querendo dá pra engolir mais essa
dentro de tantas outras histórias mirabolantes da escritora. E pra ter relações
ainda tinham que tirar os colares, sendo que Lampião tinha sete em seu pescoço.
Dentre tantos absurdos vem ainda o tratamento das DSTs, as doenças
sexuais transmissíveis. Narra Adriana que os abscessos eram abertos com
canivetes e se acocoravam sobre uma fogueira... Senta você um dia sobre uma
fogueira e tenta abrir um furúnculo com
um canivete ou qualquer lâmina cortante, sem anestesia. E ainda temos que ler
que nenhum resultado seria alcançado se o cangaceiro pisasse em rastro de
corno...
Além de cangaceiros tinham que ter parentesco com mãe Diná para
adivinhar quem era corno ou não. Quanta babaquice nessa pesquisa.
Em texto tão pequeno e tantas alvitres, imagino a leitura total do
trabalho da citada escritora. O que me preocupa é que por ser jornalista e o
tema abordado ela terá uma rede de divulgação bem ampla e essas informações
serão vinculadas em revistas, jornais, rádios, canais de televisão e por ai
vai.
Agora eu me pergunto: EU QUE OUVI E ESTIVE COM VÁRIAS EX CANGACEIRAS
(Durvinha, Antônia de Gato, Aristéia Soares, Adília, Dulce, Maria de
Juriti...), QUE OUVI INÚMEROS RELATOS DELAS E DE MULHERES QUE FORAM COITEIRAS,
QUE DANÇARAM COM OS CANGACEIROS, QUE COZINHARAM, LAVARAM, COSTURARAM... Nunca
ouvi das bocas delas nenhuma dessas afirmações. Se as mulheres que foram do
cangaço, que andaram com Lampião e outros cangaceiros, nunca citaram essas
informações que a Adriana citou, nós temos que acreditar em quem???
Já não basta o irresponsável Pedro de Moraes e agora vem a Adriana
Negreiros com uma pesquisa fajuta e mentirosa, fruto apenas de sua imaginação,
colocando tantas inverdades na cabeça de uma leva de jovens pesquisadores que
hoje estudam e pesquisam o cangaço.
Devemos rechaçar uma pesquisa desse quilate. Devemos cuidar com
responsabilidade dos fatos históricos e que pesquisamos com tanto afinco e
desprendimento, cruzando dias e dias de sol, chuva, picadas incertas, terrenos
irregulares, ouvindo pessoas ligadas com as histórias. Me coloco aqui com os
homens sérios na envergadura de Antônio Amaury, Frederico Pernambucano de Melo,
Ângelo Osmiro, Sérgio Dantas, Alcino Alves Costa, Archimedes Marques, Honório
de Medeiros, Sabino Basseti, Leonardo Gominho, Lourinaldo Teles, Marcos de
Carmelita, Geraldo Ferraz, Oleone Coelho, dentre tantos outros, para que não
aceitemos entre nosso meio esses fantasiosos escritores e pesquisadores e que
em nada engrandece a pesquisa sobre o cangaço.
Esse é mais um trabalho que surge apenas com o intuito de adquirir uma
boa vendagem, pautado na falsa pesquisa de uma pessoa que deveria defender sua
profissão de jornalista e realizar um trabalho sério e verdadeiro.
Clamo a SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, da qual sou
sócio, aos grupos GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, ao GFEC- Grupo
Florestano de Estudos do Cangaço, Cariri Cangaço, GPEC- Grupo Paraibano de
Estudos do Cangaço, Lampião Aceso, Cangaçologia, Tok de História, Ofício das
Espingardas, Mendes e Mendes e tantos outros que resguardam nossas histórias,
para que não contribuam com essas desinformações.
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Paulo Afonso, 27 de agosto de 2018
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso – cadeira 06
Membro do IGH – Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
essa sim é a 1ª biografia sobre Maria Bonita |
rastro de corno kkkkkk,niguem podia andar atras de ze baiano
ResponderExcluirTem o meu total apoio, meu amigo João de Sousa Lima. Ela poderia desistir do lançamento dessa "piada sem graça!"
ResponderExcluirParabéns pelo texto amigo João! Apenas lamento a ausência do meu nome ao lado do companheiro Sabino Bassetti já que eu também pesquisei com muita seriedade senso de justiça os aspectos e fatos do cangaço, rechaçando com veemência as mentiras e exageros. Um grande abraço. Carlos Megale.
ResponderExcluirQuase não acreditei quando dias atrás, li a mensagem enviada por um amigo que muito respeito. Disse ele que determinada senhora estaria lançando um livro, no qual diz que Maria Bonita, tocava violino, gostava de comer passarinhos temperados ao vinho, (minha nossa!!!) e as vezes fazia o papel de espiã para recrutar novos cabras para o bando.De inicio pensei ser uma brincadeira desse meu amigo. Mas como trata-se de homem bastante sério, e bem informado, resolvi dar corda ao assunto. Muito rapidamente ele enviou resposta me convencendo tratar-se de uma verdade. Em seguida outros amigos também estudiosos e pesquisadores de confiança também fizeram comentários a respeito.
ResponderExcluirJuro que eu pensava já não haver mais espaço para se escrever tantas asneiras sobre a história cangaceira. Também fico me perguntando o que levaria uma pessoa escrever tantas asneiras. tantas bobagens. Será que seria apenas falta de conhecimento? Ou essa pessoa escreveu tal coisa apenas para aparecer e ganhar notoriedade? Na verdade, eu acho que são as duas coisas. Esse tipo de coisa em nada contribui com a história do cangaço. Todos aqueles que conhecem o mínimo sobre cangaço, sabem que tudo isso não passa de uma tentativa de querer ganhar notoriedade. Que tudo isso não passa de total falta de conhecimento. UMA LÁSTIMA!!!
José Sabino Bassetti.