NO DIA EM QUE UMA EQUIPE DE CINEMA LOCAL INVADIU A ZONA
RURAL DE PAULO AFONSO.
“Pequena
História de um Filme realizado em Paulo Afonso”
A cidade Paulo Afonso serviu de cenário
para várias produções cinematográficas. Já na década de 1960 foi filmada aqui a
película Os três cabras de Lampião, filme que foi exibido no Cine Coliseu e
depois desapareceu do Brasil. O ator Milton Ribeiro, que também participou do
famosíssimo “O Cangaceiro”, foi um dos protagonistas desse filme.
A Rede Globo de Televisão nos
anos oitenta realizou aqui o seriado Lampião e Maria Bonita, que fez muito
sucesso.
Em 2009, trabalhando nesse período na Secretaria
de Turismo, falei de um projeto que eu tinha em filmar sobre um índio da Tribo
Pankararé, conhecido na época do cangaço pelo apelido de Gato, que fez umas
mortes dentro da própria família.
Montamos uma equipe e
decidimos convocar alguns profissionais do ramo e que pudessem nos ajudar nesse
projeto, uma vez que sem recursos externos, teríamos que trabalhar sem
pagamento.
Os cinegrafistas Jardel
Menezes, Izael de Jesus e Ricardo Cajá se prontificaram de imediato.
Procuramos alguns atores da
cidade e alguns também concordaram fazer parte do projeto abrindo mão do cachê.
Começamos então a produzir
os chapéus com um artesão local chamado Ari, contratei costureiras para
confeccionarem roupas e bornais para os cangaceiros e cangaceiras, consegui uns
mosquetões antigos com o 20º Batalhão de Policia e transportes e balas de
festim com o exército na 1ª Cia de Infantaria.
Conseguimos as alimentações
com a prefeitura e o apoio logístico do Grupo Jeep Clube de Paulo Afonso para
levar a comida nos povoados onde estaríamos filmando.
Uma das primeiras cenas foi realizada
na Baixa do Chico, no centro do Raso da Catarina. Nesse dia tivemos o apoio de
“Seu Lino”, que era um índio Pankararé que tomava conta daquela região onde
caçava e residia e ficou conhecido como o Guardião do Raso.
O exército que nos deu total
apoio, inclusive com um caminhão para transportar a equipe e o material, quando
estávamos retornando, motorista ruim de
volante, derrubou logo uma parte do telhado da igreja da povoação. No meio do
caminho, já na escuridão da noite, o caminhão atolou na areia. Um dos membros
da equipe, o Alan, diabético, não havia tomado sua insulina e passou mal.
Tentamos de todas as formas desatolar o veículo e não conseguimos. Colocamos
pedras, troncos de madeiras, garranchos de matos, escavamos próximo aos pneus e
nada surtiu efeito. Por sorte o pessoal do Jeep Clube havia avisado ao
tratorista no povoado Juá que se até escurecer não chegasse ninguém por lá, que
ele fosse nos procurar e assim ele fez. Alegria geral quando o trator roncou
próximo de onde estávamos já acampados. Com muito trabalho o trator conseguiu
puxar o caminhão do atoleiro e seguimos viagem direto para o hospital pra
socorrer o Alan e segundo o diagnóstico médico, por pouco, ele não acabou
falecendo, mesmo assim permaneceu vários dias internado, sendo medicado e em
recuperação.
Dias depois o povoado escolhido foi o
“Serrote” e lá tivemos por base a casa do amigo Abel. A prefeitura enviou dois
eletricistas para ligarem uns refletores, pois filmaríamos umas cenas noturnas.
Os eletricistas fizeram o trabalho e como teria que permanecer até o anoitecer
para poderem desligar os fios e cabos, caíram na cachaça e se embriagaram. A
noite aconteceram umas cenas de um baile e para que houvesse a dança convidamos
várias moças do local para formarem os pares com os atores. A casa que
utilizamos foi a mesma casa onde os pais de Abel receberam por diversas vezes o
famoso cangaceiro Lampião.
Com a fogueira acesa, o
forró acontecendo na casinha, a equipe trabalhando, o local virou uma atração
onde dezenas de pessoas assistiam as cenas. Pessoas da comunidade participaram
de vários momentos do filme. Transformaram-se em atrizes e atores. Momentos
inesquecíveis de um curta-metragem acontecido em nossas terras.
João de Sousa Lima
Paulo Afonso, 20 de dezembro
de 2019.
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