segunda-feira, 26 de novembro de 2018

REVISTA VEJA NÚMERO 2610 E UMA PÉSSIMA REPORTAGEM SOBRE O CANGAÇO. - www.joaodesousalima.blogspot.com


REVISTA VEJA NÚMERO 2610 E UMA PÉSSIMA REPORTAGEM SOBRE O CANGAÇO.

     Há tempos deixei de ler a revista VEJA por achar seus textos tendenciosos e por muitas vezes discordar de suas matérias que tentava incutir suas verdades em uma verdade diferenciada das que entendo como sendo a mais justa. Quando me sentia ultrajado e rebatia as noticias, nunca, jamais, tive minhas observações impressas como opinião nas matérias rebatidas.
Hoje pedi a um amigo que me comprasse um exemplar da citada revista, pois sabia que na edição 2610 – ANO 51 – Nº 48 – DE 28 DE NOVEMBRO DE 2018, tinha uma reportagem abordando o tema cangaço e que é um assunto que a mais de 20 anos venho estudando e escrevendo. O conteúdo da reportagem tem por base a referencia de dois livros, no caso da Jornalista Adriana Negreiros e de Wagner Barreira.
Ouvi alguns comentários antes sobre a reportagem dizendo que a matéria vinha cheia de erros, pois foi baseada no livro de Adriana Negreiros a quem já fiz duras críticas pelo péssimo livro e sua pesquisa medíocre, informações totalmente inverídicas.
Já o livro do Wagner Barreira é um livro bem elaborado e de bom conteúdo.
A reportagem vem assinada por João Batista Júnior e já começa errada, na 1ª página que é a número 92, onde tem um a foto de Maia Bonita e o cangaceiro Juriti e ele diz que é Lampião e Maria Bonita, mostrando seu fraquíssimo conhecimento sobre o cangaço.
     João Batista fala que Maria de Déa quando estava separada do marido Zé de Neném vivia “SARACOTEANDO” em festas  da região e a verdade é que não vivia, durante as brigas com o marido ela se refugiava na casa dos pais e no povoado vizinho Sítio do Tará,  onde residia sua prima e melhor amiga Maria Rodrigues de Sá.
Mais abaixo Batista diz que Lampião começou sua vida de crimes para vingar a morte do pai e todos  que pesquisam sabem que Lampião já era cangaceiro quando o pai foi assassinado.
A reportagem fala que Lampião foi à casa de Maria para saber quem era a menina que tanto falava dele e a verdade é totalmente diferente dessa informação.
João Batista Júnior continua sua narrativa dizendo que Maria assumiu o nome de Maria Bonita e essa observação mostra a total desinformação desse jornalista.
No mapa que vem na página 94, no tópico 2 diz que Lampião fez um assalto à “FAZENDA” da Baronesa e a verdade é que não foi em uma fazenda e sim no centro da cidade de Água Branca, Alagoas, onde os cangaceiros assaltaram o “CASARÃO” da Baronesa Joana Torres. No tópico 4 do mapa e ainda no texto a seguir diz que os as cabeças de Lampião e Maria Bonita foram expostas na escadaria da “IGREJA”  de Piranhas e na verdade foram expostas na escadaria da PREFEITURA de Piranhas.
    Seguindo o texto o João Batista recorre aos mesmos erros que tantos outros querem colocar como sendo uma verdade, que é dizer que Lampião só usava perfume Francês FLEUR dÀMOUR e só bebia uísque WHITE HORSE. Lampião e os outros cangaceiros bebiam todo tipo de cachaça e conhaque, diversas delas oriundas de Sergipe como no caso das cachaças “RINCHONA” e “SERGIPANA”. 
Perfumes usavam de várias marcas principalmente os mais simples adquiridos pelos coiteiros nas feiras da região, exemplo dos perfumes Flor de Amor (uma versão brasileira do Francês Fleur d Àmour), Pompéia e Dedo de Moça.
Batista ainda cita que os cangaceiros percorriam o Agreste quase sempre a pé pois descobririam os rastros dos animais pelas fezes e isso é uma informação totalmente sem lógica pois muitos sertanejos usavam animais e se eles fossem utilizados (e serviram muitas vezes aos cangaceiros) por cangaceiros as fezes não  denunciaria se era cangaceiro, policial, coiteiro ou outro tipo de pessoa que estava montando. Na verdade os cangaceiros andaram bem pouco no Agreste, fato marcante quando Maria Bonita foi baleada em Serrinha de Catimbau e nesse momento entraram na localidade caminhando. O Sertão, esse território sim, foi bem palmilhado pelas alpercatas de couro dos cangaceiros e cangaceiras.
    Texto abaixo e vem a total desinformação desse jornalista medíocre vinculado na revista Veja quando diz que os cangaceiros deixavam para trás seus ouros  por “Bondade”e ainda por questão de peso.
A pior (des) informação vem agora: LAMPIÃO E MARIA BONITA NÃO DEIXARAM FILHOS...
Ignorância cavalar essa, pois uma simples pesquisa na internet ele saberia que a Expedita Ferreira, que é filha de Lampião e Maria Bonita, ainda viva, residindo em Aracaju, Sergipe.
Se o jornalista se aprofundasse um pouquinho mais e visse os livros sérios que tratam o cangaço, poderia aprender que Lampião e Maria Bonita tiveram 04 filhos no cangaço e a história cita fatos bem marcantes sobre esses filhos.
Que pena que a Revista Veja ainda acredita que é dona da razão e vive dando atenção a pessoas que mal sabem e que nada interpretam da realidade dos fatos acontecidos e registrados em nosso país.
O jornalista João Batista Júnior está no mesmo patamar da jornalista Adriana Negreiros ou seja: NÃO SABEM NADA DE CANGAÇO....

Paulo Afonso, 26 de novembro de 2018
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso – Cadeira 06.

 ALGO EM REFERÊNCIA AO LIVRO DE ADRIANA NEGREIROS

     Já faz um tempo que meu telefone tocou e falei com uma mulher que se identificou como sendo a jornalista e escritora Adriana Negreiros. Ela estava vindo a minha cidade Paulo Afonso e queria me entrevistar para colher e confrontar informações para um futuro livro falando sobre Mulheres Cangaceiras, sem que antes ela me elogiasse dizendo que não se poderia realizar uma pesquisa dessa natureza sem recorrer a minha pesquisa e aos meus escritos. Sempre solícito, concordei de imediato com o encontro e ajustamos uma data e um horário, encontro que aconteceria em meu trabalho na Casa da Cultura. No dia e horário marcado a Adriana não compareceu e só a noite mandou uma mensagem falando que estava hospedada no hotel San Marino e que depois apareceria. Nosso encontro nunca aconteceu e eu soube dias depois que ela havia procurado o escritor Luis Ruben, em sua residência, para entrevistá-lo.
Achei estranha essa atitude dela, porém, descobri depois que ela era casada com o escritor Lira Neto, a quem eu havia feito duras críticas, em relação a um texto que ele escreveu, sendo que o artigo saiu no jornal Diário do Nordeste no dia 10 de setembro de 2010 e se refere a morte do Cangaceiro Moreno. Lira Neto diz entre tantos outros impropérios que existe uma “ignorância cavalar de todos os sociólogos, historiadores, cineastas, jornalistas e escritores que, ainda hoje, por estupidez ideológica, ranço acadêmico ou ingenuidade histórica, insistem em glamourizar o cangaço”. E ainda chama todos os escritores do cangaço de estúpidos e ingênuos.
Lógico que defendi minha pesquisa e meus amigos que tão seriamente pesquisam e registram o cangaço. Só que confesso, não sou de medir palavras quando me sinto ferido e, imbecil, foi a palavra mais educada que usei para descrever o texto idiota vinculado no jornal e escrito por Lira Neto, a quem não devo favor  e nem consideração nenhum.
Eis que agora me chega em mãos um texto de Juliana Linhares, da “UNIVERSA”, texto vinculado também na UOL e que traça o perfil do livro a ser lançado pela Adriana Negreiros.  Confesso que só na leitura desse escrito, fazendo talvez uma análise de valor de uma obra ainda a ser lançada, me preocupei bastante com tantas baboseiras e invencionices registradas pela escritora. Ela segue em passos largos a ser o que o marido falou tempos atrás com seu texto ignorante quando chama todos os escritores do cangaço de estúpidos e ingênuos. Talvez o Lira Neto não soubesse que o telhado caísse um dia em sua cabeça e agora ele acobertado por seu próprio telhado de vidro, tivesse uma escritora realmente Estúpida e Ingênua falando do cangaço.
O texto que li na reportagem diz que Lampião e Maria Bonita deu sua única filha e não há mentira nisso, só incompletude. Alem da Expedita, o casal deu um outro filho para que os pais de Maria Bonita criasse.
Adriana cita que Maria Bonita usava as jóias mais caras e gostaria de saber quem foi o avaliador dessas jóias e em que registro ela pesquisou essas informações.
Em umas das maiores inverdades apresentada no texto Adriana cita Maria Bonita como “ESPIÔ do grupo e além de tudo, ela arregimentando homens nas cidades. Meu Deus quanta invencionice. Confesso que nunca li tamanho disparate com a verdade. Mais não pára por ai a corrente de desconhecimentos. Ainda cita Maria Bonita tocando Bandolim e, o mais incrível, sendo acompanhada por Lampião que cantava e quando entalava a voz chupava pastilhas “Valda”. Só rindo mesmo diante de tamanha falta de conhecimento. Seguindo o texto Adriana narra Maria Bonita arrancando brincos e lóbulos de orelhas, cenas vinculadas nos filmes brasileiros e que não corresponde a verdade.
Entre tantas inverdades a escritora fala que Maria Bonita adorava comer “Passarinho ao Vinho” preparado por Lampião...      ... Há se ela tivesse realizado uma pesquisa séria e pudesse ter ouvido a cozinheira Dona Cabocla, ainda viva com 116 anos de idade e que durante muito tempo cozinhou para Lampião e outros cangaceiros.
Adriana diz que Déa era o nome da mãe de Maria Bonita e não era. Déa era apelido.
A Juliana Linhares diz que esse livro de Maria Bonita é sua primeira biografia e ai recai sobre ela também a desinformação de quem nunca leu sobre o cangaço. A primeira biografia sobre Maria Bonita, com o título “A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do cangaço”, livro hoje bastante referenciado, eu escrevi há mais de 15 anos. Ainda temos outras grandes pesquisas sobre Maria Bonita, sendo o livro de Antonio Amaury Correa de Araújo, Lampião, As Mulheres e o Cangaço, outra importantíssima obra relatando em pormenores as questões e costumes femininos dentro do tema.
Recorrendo ainda a pesquisa pouco ajustada a qual lemos estarrecidos diante de tanta falta de conhecimento e levantamentos imprecisos. Adriana Negreiro coloca Maria Bonita usando binóculo e só o perfume Fleurs D`Amour. Binóculo eu nunca vi, aparece na película de Benjamim Abraão, filmada em 1936, Lampião manuseando um binóculo que foi presenteado ao cangaceiro por Eronides de Carvalho. Ela quer colocar Maria Bonita só usando perfume Francês e sabemos que tanto as mulheres quanto os homens usavam vários tipos de perfumes, entre eles uma versão do francês chamado Flor de Amor, Pompéia, Dedo de Moça, dentre outros, comprados por coiteiros em feiras, povoados e, ainda presentes de amigos, coronéis e pessoas ligadas ao cangaço.
Dentre os maiores absurdos da pesquisa de Adriana e, confesso, gostaria de saber quem foi a cangaceira que deu tão incoerentes depoimentos, ela cita as cangaceiras usando vestidos de seda e botas de canos curtos...     ...Eita que não dar pra engolir. Bastava uma simples pesquisa fotográfica, uma vez que sei que ela não conheceu nenhuma  cangaceira que pudesse atestar essas aberrações, para a escritora pudesse observar que essas vestimentas não fizeram parte das indumentárias das cangaceiras. Diz ainda que as cangaceiras só usavam vestidos de tecidos duros e fortes quando entravam no mato e aqui eu faço uma pergunta simples: QUAL O DIA QUE ELAS NÃO ANDAVAM NO MATO???.
Texto abaixo e vêm mais desinformações: “AS CANGACEIRAS NUNCA TINHAM RELAÇÕES SEXUAIS ÀS SEXTAS FEIRAS”..... Nem querendo dá pra engolir mais essa dentro de tantas outras histórias mirabolantes da escritora. E pra ter relações ainda tinham que tirar os colares, sendo que Lampião tinha sete em seu pescoço.
Dentre tantos absurdos vem ainda o tratamento das DSTs, as doenças sexuais transmissíveis. Narra Adriana que os abscessos eram abertos com canivetes e se acocoravam sobre uma fogueira... Senta você um dia sobre uma fogueira e  tenta abrir um furúnculo com um canivete ou qualquer lâmina cortante, sem anestesia. E ainda temos que ler que nenhum resultado seria alcançado se o cangaceiro pisasse em rastro de corno...   
Além de cangaceiros tinham que ter parentesco com mãe Diná para adivinhar quem era corno ou não. Quanta babaquice nessa pesquisa.
Em texto tão pequeno e tantas alvitres, imagino a leitura total do trabalho da citada escritora. O que me preocupa é que por ser jornalista e o tema abordado ela terá uma rede de divulgação bem ampla e essas informações serão vinculadas em revistas, jornais, rádios, canais de televisão e por ai vai.
Agora eu me pergunto: EU QUE OUVI E ESTIVE COM VÁRIAS EX CANGACEIRAS (Durvinha, Antônia de Gato, Aristéia Soares, Adília, Dulce, Maria de Juriti...), QUE OUVI INÚMEROS RELATOS DELAS E DE MULHERES QUE FORAM COITEIRAS, QUE DANÇARAM COM OS CANGACEIROS, QUE COZINHARAM, LAVARAM, COSTURARAM... Nunca ouvi das bocas delas nenhuma dessas afirmações. Se as mulheres que foram do cangaço, que andaram com Lampião e outros cangaceiros, nunca citaram essas informações que a Adriana citou, nós temos que acreditar em quem???
Já não basta o irresponsável Pedro de Moraes e agora vem a Adriana Negreiros com uma pesquisa fajuta e mentirosa, fruto apenas de sua imaginação, colocando tantas inverdades na cabeça de uma leva de jovens pesquisadores que hoje estudam e pesquisam o cangaço.
Devemos rechaçar uma pesquisa desse quilate. Devemos cuidar com responsabilidade dos fatos históricos e que pesquisamos com tanto afinco e desprendimento, cruzando dias e dias de sol, chuva, picadas incertas, terrenos irregulares, ouvindo pessoas ligadas com as histórias. Me coloco aqui com os homens sérios na envergadura de Antônio Amaury, Frederico Pernambucano de Melo, Ângelo Osmiro, Sérgio Dantas, Alcino Alves Costa, Archimedes Marques, Honório de Medeiros, Sabino Basseti, Leonardo Gominho, Lourinaldo Teles, Marcos de Carmelita, Geraldo Ferraz, Oleone Coelho, dentre tantos outros, para que não aceitemos entre nosso meio esses fantasiosos escritores e pesquisadores e que em nada engrandece a pesquisa sobre o cangaço.
Esse é mais um trabalho que surge apenas com o intuito de adquirir uma boa vendagem, pautado na falsa pesquisa de uma pessoa que deveria defender sua profissão de jornalista e realizar um trabalho sério e verdadeiro.
Clamo a SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, da qual sou sócio, aos grupos GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, ao GFEC- Grupo Florestano de Estudos do Cangaço, Cariri Cangaço, GPEC- Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço, Lampião Aceso, Cangaçologia, Tok de História, Ofício das Espingardas, Mendes e Mendes e tantos outros que resguardam nossas histórias, para que não contribuam com essas desinformações.

João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Paulo Afonso, 27 de agosto de 2018
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso – cadeira 06

Membro do IGH – Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso

Um comentário:

  1. no livro dela ela escreveu que o cangaceiro que chantageou Lídia foi o cangaceiro Besouro e não o coqueiro como mostra a maioria das fontes,mas na nota de rodapés ela escreveu que Amaury havia escrito que o nome do cangaceiro era Coqueiro.

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