quarta-feira, 30 de abril de 2014

CANGACEIRO VINTE E CINCO: O ÚLTIMO GUERREIRO DO CANGAÇO

João de Sousa Lima entrega chapéu de cangaceiro a Vinte e Cinco
       Dia 29 de abril de 2014, eu Josué Santana e Neli fizemos uma visita ao cangaceiro Vinte e Cinco (José Alves de Matos).
José Alves encontra-se em recuperação de saúde.
Sempre muito  educado não ligou muito para as observações de falar pouco e conversou com todos, agradeceu alguns presentes recebidos e falou da alegria de conhecer Neli, que é filha do casal dos cangaceiros Moreno e Durvinha.
A família de José Alves é bastante educada e carinhosa e tivemos alguns minutos juntos em torno do último guerreiro do cangaço.
SAÚDE E PAZ MEU AMIGO E QUE SUA RECUPERAÇÃO VENHA MUITO EM BREVE.
ABRAÇO: João de Sousa  Lima.
João e Neli presenteia 25 com um livro de Moreno e Durvinha

o neto de 25 é um dos membros que participa de vários eventos culturais

25 recebe uma fotografia onde ele aparece ao lado de Lampião



segunda-feira, 28 de abril de 2014

OS RASTROS DO CANGAÇO NO TINGUI

Aldiro, João, Paulo e Lira na fazenda Craunã, Tinguí
     OS RASTROS DO CANGAÇO NO TINGUI
“A VIOLÊNCIA TANTO CANGACEIRA QUANTO POLICIAL DEIXOU MARCAS PROFUNDAS”.

     O cangaço deixou marcas profundas nos povoados Tingui, Cachoeirinha, Riacho Seco e Alto dos Coelhos, em Água Branca, Alagoas. Desde a entrada no cangaço de Manuel Maurício dos Santos, o cangaceiro “Barra Nova”, que teve sua família espancada pela volante policial comandada por Zé Joaquim, até as mortes de inocentes realizadas por cangaceiros, tendo por pretexto apenas o interesse de algum vizinho de roçado que fazia intrigas por coisas banais, como no caso de uma cerca arrombada por animais, um mourão avançado em alguns centímetros de terra, a água de um poço ou barreiro particular ou pela inveja de ver os animais do vizinho se reproduzindo e com o curral abarrotado, tudo era pretexto para desavenças, porém uma das principais causas envolvia namoros, traições e a honra de uma virgem seduzida.
Tudo isso era motivo de fuxico e o fuxico foi uma peste que assolou o Sertão na época do cangaço; Muitas mortes aconteceram motivadas pelo fuxico, conversas muitas vezes infundadas, inventadas por desafetos apenas para prejudicar seus inimigos.
     Lampião teve vários coiteiros e intermediários na região do Tingui, Cachoeirinha, Riacho Seco e no Alto dos Coelhos, como João Rodrigues de Oliveira “Joãozinho Pedrão”, tropeiro dono da fazenda Zuleiros; os irmãos Belo Salú e Miguel Salú (que depois entrou pro cangaço) Cazuza, Zé Lucas, Louzinho Coelho, Sebastião Vieira Sandes “Santo” (que foi cangaceiro e volante, estava no ataque a Grota do Angico, quando Lampião morreu), Ozório, Antonio Zezé, Ernesto e Nicolau, que era casado com Lídia Gomes.
     Mesmo tendo grandes coiteiros nessa região alagoana os cangaceiros atacaram no Tingui, a casa do senhor Lulú e não encontrando o patriarca da família carregaram Manuel  “Neco” Lulú e o levaram até a casa de Antonio Xavier de Carvalho. Na casa de “Xavier” Lampião amarrou Neco Lulú, pendurou no esteio da casa e exigiu dinheiro. O velho Lulú chegando em casa soube que os cangaceiros haviam carregado  seu filho Neco Lulú e pegou um facão e foi resgatar o filho. Na casa do velho Xavier, Lulú falou com Lampião e o cangaceiro disse que só libertaria Neco por dinheiro e Lulú mandou um portador ir até Água Branca buscar emprestado o valor solicitado e quando o portador retornou que o dinheiro foi pago Neo Lulú foi liberado.
Lateral a casa de Xavier, seu filho Abílio Xavier tinha um armazém e os cangaceiros seguiram pra lá onde encontraram um comerciante de Mata Grande que estava em um caminhão negociando peles e algodão; Os cangaceiros pegaram o caminhão e inventaram de dirigi-lo e saíram da rota apertada e entraram com veículo no mato, batendo em árvores, tocos e pedras danificando o automóvel que foi logo abandonado.
      Na fazenda Craunã residia o casal Joaquim Antonio de “Oliveira” e Joana Sandes de Oliveira e os filhos José (Duquinha), Manuel, Alcidor, Gonçalo, Natalício, Joaquim, Adecir e Maria.
Joana estava grávida de José.
     No passado Joaquim havia namorado com Lídia Gomes e depois acabou casando com Joana, porém Lídia nunca esqueceu essa desfeita e mesmo casada com Nicolau restou essa rixa.
     Lampião pediu um dinheiro a Oliveira, o coiteiro que foi levar o recado de Lampião foi Antonio Zezé. Chegando a fazenda Craunã Antonio entregou o bilhete com a solicitação de Lampião e Oliveira disse que estava sem dinheiro e pediu pra ele ir buscar depois. Oliveira vendeu uma vaca, juntou um dinheiro totalizando a quantia solicitada por Lampião, comprou uns cigarros e entregou a Antonio Zezé, fazendo o seguinte comentário:
- É duro trabalhar pra dar a quem não trabalha!
 Antonio Zezé entregou o dinheiro e os cigarros a Lampião que estava acoitado nas proximidades. Os cangaceiros estavam bebendo e jogando baralho. Lampião começou enaltecendo Oliveira, falando das qualidades dele e dizendo que era um bom rapaz.
Antonio Zezé ouviu calado o comentário de Lampião e depois comentou com Nicolau que Oliveira tinha dito que era duro trabalhar e dar a quem não trabalha.
Nicolau já tinha ciúmes por sua esposa ter namorado com Oliveira e também havia tido uma discussão por causa da água de um açude que pertencia a Oliveira. Nicolau aproveitou a ocasião e desabafou:
-  É capitão o senhor diz que oliveira é isso  e aquilo mais ele falou que era duro trabalhar e dar pra quem não trabalhava.
Os cangaceiros todos entregues a cachaça, Lampião enfurecido com o comentário pegou as notas e as espetou nos espinhos de um mandacaru e ordenou que  ninguém pegasse o dinheiro.  
Dia 02 de novembro de 1932, um dia de finados, na fazenda Craunã, a família no alpendre, Oliveira estava com a pequenininha Maria em seu colo e cantando músicas fúnebres; Lampião chegou com mais dois cangaceiros; A aflição tomou conta da família; O casal com os filhos pequenos ficaram frente ao terror.
Oliveira pediu pra Lampião matá-lo mais que deixasse seus filhos em paz; nesse momento foi chegando os filhos José “Duquinha” ( com 17 anos ) e Manuel (com 15 anos); Lampião pegou a “Mauser” e atirou em Oliveira, depois matou Duquinha e Manuel. Os filhos pequenos viram a triste cena.  Lampião fez Joana beber cachaça forçadamente. De repente chegou Belo Salú que havia ouvido os tiros. Belo era irmão do cangaceiro Miguel Salú e pediu pra que Lampião não fizesse mais nada com a família, Lampião disse que o filho mais velho, chamado Alcidor “Cidô”, teria que morrer pra que não viesse depois vingar a morte da família. Belo Salú insistiu pra que o cangaceiro não fizesse mais nada, pois Cidô era o mais velho e era quem iria cuidar da família. Lampião atendeu Salú, reuniu os comparsas e ordenou pra que o pequeno Gonçalo Joaquim de Oliveira fosse buscar uns animais na roça para que eles fossem embora; Gonçalo pegou os animais e trouxe para o algoz de sua família; Lampião e os cangaceiros montaram e foram embora. Naquela manhã de finados restou a dor, o sangue jorrado na terra sagrada, o dia de finados perpetuado na música fúnebre, na visão horripilante que a morte deixou pelas armas de homens perversos e impiedosos.
Hoje, domingo, dia 27 de abril de 2014, eu, Neli Conceição, Josué Santana e Antonio Lira, tendo a ajuda de Aldiro e Paulo Soares de Oliveira, visitamos  a casa da fazenda Craunã e vimos a capela onde Oliveira, Duquinha e Manuel foram enterrados; três cruzes lembram as três vítimas. Ouvimos os lamentos dos irmãos Gonçalo e Maria, hoje aos 88 e 85 anos de idade, figuras caladas, conversa pouca, dores eternas.
A casa da fazenda encontra-se fechada, suas terras servem para a família plantar e colher, há algo de triste neste chão, mesmo com o  verde apontando e a chuva caindo, uma dor paira no ar, vento gelado açoita as paredes do casarão e da capela, chuva fina molha, enxágua, faz a semente adormecida florescer, florir, mais a tristeza impera, como mágoa que macula a terra em veios permanentes que absorveram sangues de inocentes almas, ensopadas frestas de areias que não cicatrizam as dores de uma família marcada por grande tragédia e nem o tempo é capaz de sarar as feridas do coração que sentiu a dor.......

João de Sousa Lima
Historiador e Escritor

Paulo Afonso, 27 de abril de 2014.
casa onde Lampião matou Oliveira e os filhos Duquinha e Manuel

Capela onde foram enterrados os mortos da chacina do Craunã

cruzes dos mortos do Craunã

enterrados Oliveira, Duquinha e Manuel

Capela e casa da fazenda Craunã

Josué sSntana, João Lima, Paulo e Aldiro

fazenda Craunã: Marcada pela morte sombria

pia da fazenda Craunã

casa onde Lampião amarrou Neco Lulú - Tinguí


Capela da família Xavier.

ouvindo Gonçalo: sobrevivente da chacina do Craunã

Aldiro, João Lima, Gonçalo e Josué santana

João Lima, SGT. Lira, Gonçalo e Nely 

Maria e João. Ela é sobrevivente da fazenda Craunã





quinta-feira, 24 de abril de 2014

GECILDO QUEIROZ: A ARTE LEVADA ATÉ O POVO

Gecildo e João de S. Lima, em uma esquina da Rua da Frente
      um dos novos talentos da literatura pauloafonsina é o professor e escritor  Gecildo Queiroz.
Gecildo lançou seu primeiro trabalho relatando suas memórias sobre a famosa "Rua da Frente".  o segundo trabalho "Melhorar Incomoda" encontra-se em eterno lançamento. Gecildo não espera  os convites das autoridades e dos órgãos competentes para realizar seus lançamentos. Ele vai aonde o povo está. É fácil encontrá-lo em alguma esquina, na SUPRAVE, no banco do Brasil, no barzinho "Gato Risonho", parque Belvedere e outros pontos da cidade.
Gecildo leva na alma a velha frase: QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER.....
seu novo livro: Melhorar Incomoda


sua arte levada ao povo

uma das formas de divulgação: Senegal e seu eterno Megafone...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

SEBASTIÃO DA SILVA E RAFAEL NETO: UMA CANTORIA MEMORÁVEL

Sebastião da Silva, João de Sousa Lima, Fernando e Rafael Neto
Rafael, João de Sousa lima e fernando
 Um grande público prestigiou dois grandiosos violeiros repentistas. Sebastião da Silva e Rafael Neto deram um show de poesias. Os  improvisos foram aplaudidos por um grande público e a cidade de Paulo Afonso recebeu um grande evento, com esse público prestigiando e valorizando nossas raízes culturais nordestinas.

João S. Lima, Sebastião da Silva, poeta Toni, Rafael e Sebastião











sexta-feira, 11 de abril de 2014

OS ÚLTIMOS CANGACEIROS: NA TV BRASIL.....ASSISTAM, DIVULGUEM.



AVISAMOS A TODOS OS AMIGOS, PARA QUEM QUISER ASSISTIR, O DOCUMENTÁRIO " OS ÚLTIMOS CANGACEIROS ", QUE DE ACORDO COM A PROGRAMAÇÃO DA TV BRASIL, SERÁ EXIBIDO DIA 11/04/2014 à 00:15.. E DOMINGO DIA 13 ÀS 21:30 HS.
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Casal Durvinha e Moreno fala sobre a trajetória de vida dentro e fora do cangaço no bando de Lampião Os últimos cangaceiros Durante mais de meio século Durvinha e Moreno esconderam sua verdadeira identidade até dos próprios filhos, que cresceram acreditando que os pais se chamavam Jovina Maria da Conceição e José Antônio Souto, nomes falsos sob os quais haviam reconstruído suas vidas.
Durvinha e Moreno fizeram parte do bando de Lampião, o mais controverso líder do cangaço. A verdade só é revelada quando Moreno, então com 95 anos, resolveu dividir com os filhos o peso das lembranças e reencontrar parentes vivos, entre eles seu primeiro filho, deixado aos cuidados de um padre, mais de cinco décadas antes.
O documentário lembra a trajetória do cangaço, um tipo de ‘banditismo social’ que ocorreu no Nordeste brasileiro, mais intensamente no início do século XX. O cenário era de extrema pobreza, violência e ausência de poder constituído. Inédito. 79 min.
Ano: 2011. Gênero: documentário. Direção: Wolney Oliveira.
Classificação Indicativa: 18 anos

Moreno e Durvinha - acervo João de Sousa Lima

segunda-feira, 7 de abril de 2014

PAULO AFONSO E AS ROTAS DO CANGAÇO SÃO NOTÍCIAS NO JORNAL "A TARDE"

Um pequeno e belo conjunto de construções populares, em meio à paisagem rústica do semiárido baiano, descortina-se com a visita ao Riacho, povoado distante 25 quilômetros de Paulo Afonso, situado à beira da Rodovia BR-110. Ali se encontram as ruínas da casa de dona Generosa, coiteira de Lampião, famosa por promover bailes perfumados que atraíam os cangaceiros pelo sertão.
O conjunto engloba ainda uma capela com um cruzeiro em frente ao cemitério contíguo. Logo adiante, mais três casas deterioradas, tudo emoldurado pela imponente Serra do Umbuzeiro, o ponto mais alto do município, com mais de 500 metros acima do nível do mar. Um prato cheio para pesquisadores do cangaço. 
Diz a lenda que o perfume usado por Lampião era tão forte que todos se escondiam quando percebiam sua presença pelo cheiro vindo lá da serra. E dona Generosa então preparava o baile para o rei do cangaço e seu bando, que andaram também pelo Raso da Catarina, reserva ecológica e indígena que serviu de abrigo para os cangaceiros  e também integra o roteiro do cangaço em Paulo Afonso. 
Cenário
Generosa Gomes de Sá, que morreu na década de 1950, aos 114 anos de idade, "contratava as mulheres  e os músicos e fazia os bailes. O que a gente chama de forró, eles chamavam de baile. Mas tudo era feito no maior respeito", informa o historiador e escritor João de Sousa Lima.
Ele destaca os símbolos esculpidos pela coiteira na capela,  que são as mesmas estrelas que aparecem nos chapéus dos cangaceiros. "Tanto as orações quanto esses símbolos eram para pedir proteção divina", diz.
Autor de nove livros, o historiador conta que as casas e a capela foram construídas por dona Generosa em 1900, que contratou pedreiros de Pernambuco para fazer o adobe, pois na região se erguiam imóveis apenas de taipa. Tudo aquilo, acrescenta, "forma um dos mais espetaculares conjuntos arquitetônicos". Um cenário cada vez mais determinante em meio à rota que define, pelos nove estados da Região Nordeste, os caminhos percorridos por Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, morto na Grota do Angico, em Canindé de São Francisco (SE), em julho de 1938.
As construções de alvenaria erguidas em um sertão remoto chamam a atenção em meio à vegetação típica.
Restam poucas paredes em pé, sobretudo da casa onde aconteciam os bailes perfumados, que sobressaem pela espessura e formato, em contraposição à taipa usada normalmente naquela época e lugar. Dona Generosa não teve filhos, mas construiu as outras três casas para os adotivos, conta João de Sousa Lima.
A 13 quilômetros do Riacho, no povoado de Malhada da Caiçara, encontra-se a casa em que Maria Bonita morou antes de fugir com o bando de Lampião. Transformada em museu, ali podem ser contemplados objetos, referências e reproduções de fotos do cangaço.
Perto, ergue-se a Serra do Umbuzeiro, de onde se avistam Delmiro Gouveia e toda a cidade de Paulo Afonso. Entre os atrativos, também, o Raso da Catarina, maior reserva de caatinga do mundo, distante cerca de 48 quilômetros do centro de Paulo Afonso.
São destinos que precisam ser melhor explorados, segundo o presidente do Sindicato de Turismo da Bahia (Sindetur), Luiz Augusto Leão Costa

quinta-feira, 3 de abril de 2014

FIRMINA MARIA DA CONCEIÇÃO, “CABOCLA”: COITEIRA DE LAMPIÃO AINDA VIVE EM PAULO AFONSO AOS 109 ANOS DE IDADE.



FIRMINA MARIA DA CONCEIÇÃO, “CABOCLA”: COITEIRA DE LAMPIÃO AINDA VIVE EM PAULO AFONSO AOS 109 ANOS DE IDADE.

    Conheci Cabocla em dezembro de 1999, ela foi uma das minhas grandes descobertas para falar da passagem de Lampião por Paulo Afonso.  Pude entender através de Cabocla os pontos percorridos, os coitos visitados, alguns costumes, detalhes de cangaceiros, gostos, estratégias e conhecer um pouco da rede de proteção para a sobrevivência do cangaço no que abrange a região de Paulo Afonso e o Raso da Catarina.
    Firmina Maria da Conceição nasceu em 1905, no povoado “POÇOS”, uma das fazendas que se situava às margens do Raso da Catarina e foi incluída por Lampião nos seus trajetos como rota secreta e segura, favorecendo sua passagem em direção aos povoados Malhada da Caiçara, São José, Santo Antônio, Várzea, Riacho e todo o estado Sergipano.
O primeiro filho de Firmina acabara de nascer no meio daquele mundo inóspito e primitivo, tendo por testemunha apenas a população resumida de cinco famílias simples. Presente naquele momento de perpetuação da vida estava o sogro Faustino, dona Clara, Batista, Maria de Zeca e Zé Antônio. Cabocla completou quinze dias de resguardo e como de costume acordou cedo e foi fazer a visita matinal na casa da amiga Clara. O que aquela manhã havia lhe reservado de surpresa a acompanharia pelo resto da vida. Na sala da residência de dona Clara, Cabocla parou extasiada diante do que seus olhos contemplaram. Muitas vezes ouvira falar de Lampião, porém, jamais imaginaria ficar diante daquela figura real. Uma voz que mais parecia o som de um trovão quebrou o silêncio que se abatera naquele cubículo abarrotado de cangaceiros:
-   Tá cum medo?
Diante de toda expectativa a resposta saiu:
-   Não!
-   Você sabe cunziar?
-   Sei!
Com este pequeno diálogo começaria uma grande amizade entre Cabocla e Lampião. Neste dia Cabocla preparou um verdadeiro banquete para os cangaceiros.
Os Poços passaria a ser um dos principais esconderijos do Rei do Cangaço. Os coitos que cercavam os Poços e foram utilizados pelos cangaceiros onde permaneciam por dias e dias arranchados, foram: Saco da Palha, Sítio do Sabino, Malhada Bonita, Quixabeira e Serrotinho.  
No princípio Cabocla não contou aos pais do encontro que tivera com Lampião.
Como as visitas de Lampião foram ficando muito freqüentes Cabocla teve que pedir ajuda a amiga Lúcia de Sabino para ajudá-la a cozinhar. Depois Lúcia se encarregou da cozinha e Cabocla da lavagem das roupas, uma árdua tarefa, tendo em vista que as roupas eram lavadas na casa dos pais, no povoado São José e eram escondidas por causa do forte cheiro que ficava, pela quantidade de perfume que os cangaceiros usavam. Cabocla tinha que adentrar alguns metros no mato temendo ser descoberta pelas volantes policiais. A lavagem às vezes era feita durante a noite, tornando a tarefa ainda mais penosa. Sem contar que o sabão era fabricado pela própria lavadeira em um processo milenar: Cabocla queimava a lenha, pegava a cinza e molhava, deixando-a de molho por três dias, depois destilava e misturava com o sebo de boi. A constante fabricação, através da fumaça que se formava, afetou a visão de Cabocla pro resto da vida.
O Sr. Dionísio, do povoado São José, era quem fazia o contato entre Lampião e Cabocla. Assim que o Rei do Cangaço chegava a um dos coitos dos Poços Cabocla era logo avisada.
Dos Poços uma das cunhadas de Cabocla, se apaixonou pelo famoso cangaceiro Mariano Laurindo Granja, um dos homens de confiança de Lampião.
Otília Maria de Jesus era filha do velho Faustino e resolveu acompanhar seu grande amor passando a chamar-se Otília de Mariano. Os Poços jamais seriam o mesmo depois que Otília passou a ser cangaceira, Lampião perdia aí um dos mais famosos coitos da região de Paulo Afonso.
Agora em fevereiro de 2014 fiquei surpreso ao saber que Cabocla ainda estava viva aos 109 anos de idade. Imediatamente lhe fiz uma visita. Por incrível que pareça ela lembrou minha pessoa.
Encontra-se lúcida, recordando fatos, lembrando momentos vividos e perpetuados em sua memória, fatos esses envolvendo as histórias de Lampião e seus diversos grupos de cangaceiros. Firmina Cabocla é um capitulo vivo desses momentos.

João de Sousa Lima
Historiador e escritor

Paulo Afonso, Bahia, madrugada de 25 de fevereiro de 2014.


obs- O JORNAL FOLHA SERTANEJA POSTOU ESSA MATÉRIA TANTO IMPRESSA COMO ON LINE, NA EDIÇÃO 121, MARÇO DE 2014.

Dona Cabocla

Cabocla contando a João sobre sua amizade com Lampião

Cabocla é bem cuidada por suas filhas e netas