quarta-feira, 29 de maio de 2019

Vladimir Carvalho: o mais expressivo documentarista Brasileiro e um Ser Humano Brilhante

Vladimir Carvalho e João de Sousa Lima em Fortaleza, ceará
conheci Vladimir Carvalho em 2006 durante o Cine Cerá quando fui lançar o livro: Moreno e Durvinha, Sangue, amor e fuga no cangaço.
eu já era fã dos seus documentários e conversamos bastante sobre suas produções. quando nos despedimos eu o convidei para o lançamento do livro e a noite ele compareceu ao lançamento, chegou na hora marcada e falou da satisfação de está naquele momento tão importante e do prazer de conhecer os cangaceiros Moreno e Durvinha.
anos depois nos reencontramos em outro momento do Cine Ceará e pra minha surpresa me reconheceu e chamou pelo nome. aquilo me deixou muito feliz, um homem que tem uma obra importantíssima, ser uma pessoa tão simples ao ponto de recordar de uma pessoa que passou poucos momentos. nesse dia fomos jantar juntos e depois participar de um programa de rádio junto ao amigo Ângelo Osmiro.

MAIS QUEM É MESMO VLADIMIR CARVALHO???....

Vladimir Carvalho

Nasceu em Itabaiana31 de janeiro de 1935) é um cineasta e documentarista brasileiro de origem paraibana.
Começou seu curso universitário em João Pessoa, Paraíba, mas transferiu-se para Salvador a fim de ir ao encontro de um dos grandes núcleos do Centro Popular de Cultura CPC da União Nacional dos Estudantes UNE. Frequentando a Universidade Federal da Bahia conheceu Glauber Rocha e integrou o chamado movimento do cinema novo (sendo parte da vertente documentarista do movimento, ao mesmo tempo, sendo influenciado e influenciando-o também, com o estilo de sua cinematografia documentária inovadora).
A mãe, Mazé, é marcante na sua condição de líder de sua família e pelo espírito de solidariedade para com os pobres. O pai, Luís Martins, um homem dos sete instrumentos, vai da atividade em sua fábrica de móveis Lyon, em Itabaiana, cidade da zona da mata do estado da Paraíba, ao jornalismo bissexto que pratica na região do vale do rio Paraíba, próxima à capital do estado da Paraíba, e exerce profunda influência sobre o filho, até sua morte prematura aos 39 anos.
Preocupado com a educação de Vladimir, o pai o conduz a Recife, entregando-o aos cuidados de sua tia Alayde, irmã de Mazé. Ali começa, de fato, a cursar o primário, longe dos banhos de rio e dos apelos da feira semanal de Itabaiana, uma verdadeira festa para o menino. Sente profundamente a ausência dos pais. Conforta-o, entretanto, a vida na metrópole pernambucana, onde descobre um mundo inteiramente diferente da sua Itabaiana, na Paraíba. Assiste ali, entre tantos acontecimentos e lugares grandiosos e diferentes de sua cidadezinha de interior, com grande emoção, a chegada dos pracinhas (Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial) de volta da Itália e o navio que os transporta aproximar-se do porto tocando os hinos e canções patrióticas.
Em 1949 volta à Paraíba, sempre morando com a tia Alayde, que vai viver em João Pessoa. Neste ano, nasceu seu irmão, Walter Carvalho, que não tem tempo de conhecer verdadeiramente o "velho" Lula, que morre antes dele completar um ano. Hoje, Vladimir considera Walter como a cópia fiel do mestre Lula, não só fisicamente, mas na habilidade com equipamentos e na genialidade como se conduz no ofício cinematográfico.
Terminado o ginásio, em 1954, onde foi aluno de geografia de Linduarte Noronha, que ainda não era cineasta, ingressa no curso clássico. Fazia um programa de rádio, Luzes do Cinema, em 1959, em João Pessoa, e colaborou na imprensa local como crítico iniciante (ganhando o apelido de Vladimir Vorochenko por conta da mania de filmes russos-soviéticos), quando Linduarte Noronha o convidou para escrever o roteiro de Aruanda, do qual seria, depois, também assistente de direção, com João Ramiro Mello, um amigo para sempre.
A obra
Depois de um desentendimento com Linduarte Noronha a respeito do documentário Aruanda, Vladimir e João Ramiro realizam o documentário Romeiros da Guia. Em seguida vai para Salvador terminar o curso de filosofia na Univeridade da Bahia. Entre seus colegas de curso incluem-se Caetano Veloso, que ainda era desconhecido do grande público, e Carlos Nelson Coutinho. Além destes intelectuais, conhece também Glauber Rocha, que estava preparando Deus e o Diabo na Terra do Sol. Passa as noites na boemia artística, sempre na companhia destes amigos, como Caetano, Torquato Neto (Gilberto Gil trabalhava e não podia acompanhar), Orlando Senna e Álvaro Guimarães, teatrólogo e cineasta que lançou Maria Bethânia em Salvador, bem antes do show Opinião, e Manoel Araújo, gravurista que posteriormente dirigiu a Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Foi em Salvador que Vladimir entrou para as fileiras da militância político-cultural no CPC, Centro Popular de Cultura (entidade vinculada à UNE, União Nacional dos Estudantes), da Bahia.
De Salvador, Vladimir recebe o convite de Eduardo Coutinho para ser seu assistente no filme Cabra Marcado para Morrer. Paralelamente a este envolvimento no Cabra Marcado para Morrer, Vladimir foi com Eduardo Coutinho visitar as filmagens de Os Fuzis, do cineasta Rui Guerra, no interior.
Cabra marcado para morrer
Em 1964, ano do Golpe de Estado que instalou a ditadura militar no país, Vladimir e Coutinho foram surpreendidos em plena filmagem do documentário Cabra Marcado para Morrer, no engenho Galiléia, em Pernambuco. Após saberem sobre o golpe, a fuga e a entrada na clandestinidade são inevitáveis, porque sabiam que seriam presos pela ditadura; já que estavam filmando um tema explosivo, o das Ligas Camponesas. A pressão política e a repressão que se seguiram foram enormes. Portanto, Vladimir foi encarregado de proteger dona Elisabete Teixeira, viúva de João Pedro, durante a debandada. Maria do Socorro, sua noiva, com quem se casaria dois anos depois, foi procurá-lo no engenho Galiléia (com medo do que poderiam fazer ao noivo após o golpe) e foi levada presa para o Recife. Depois de constatada sua "inocência" (porque ela não estava participando diretamente das filmagens, nem tinha ligações políticas oficiais com a esquerda), foi solta. Foi ela quem ajudou Vladimir a provicenciar um disfarce para dona Elisabete: oxigenaram seus cabelos, vestiram-na com um chitão colorido, pintaram-lhe os lábios e os rostos e deram-lhe uns óculos escuros. Com isto, eles conseguiram ultrapassar as barreiras policiais sem serem vistos. Vladimir coloca dona Elisabete à salvo em um bairro suburbano do Recife, junto a uma família de um antigo companheiro de Joâo Pedro. A partir daí, Vladimir entra decididamente na clandestinidade,para se proteger da prisão política, ocultando-se em um sítio nas proximidades da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Com uma identidade falsa, passa a se chamar José Pereira dos Santos. Foi no sítio, no interior da Paraíba, que Vladimir ficou conhecido como Zé dos Santos, em virtude das esculturas de santos de madeira que ele passou a esculpir, desenvolvendo a herança paterna de sua vocação artística (desde então, ele nunca parou de esculpir, realizar xilogravuras e pintar, revelando o outro lado de sua sua personalidade).

No Rio de Janeiro
Passados os primeiros sobressaltos advindos com o golpe de 1964, Vladimir pôde sair da clandestinidade e viajar para o Rio de Janeiro, onde foi apresentado por Eduardo Coutinho a Arnaldo Jabor. Como diretor assistente de Jabor, Vladimir participou das filmagens de Rio Capital do Cinema e Opinião Pública. Aprende com o Jabor a forma descontraída de filmar, desmistificando o endeusamento do ofício de cineasta que havia na época. Estabelece-se, então, no Rio de Janeiro, trabalhando como repórter no Diário de Notícias. Neste ofício de repórter, ele fica conhecendo todos os meandros da cidade do Rio de Janeiro. Freqüentou também o bar da Líder, onde se encontravam periodicamente todos cineastas. Apesar disto, ele não perde os vínculos com o Nordeste, voltando para lá para filmar.
Como repórter, Vladimir cobriu as famosas passeatas contra a ditadura, a dos cem mil, inclusive, e entrevistou os líderes estudantis do movimento. Ele próprio, junto com a esposa Maria do Socorro, forma um grupo de passeata com Luís Carlos Lacerda de Freitas, o Bigode, Norma Bloom e Arduíno Colasanti.
Em 1969, Vladimir apresentou o seu curta metragem A Bolandeira no Festival de Cinema de Brasília, ganhando um dos prêmios. Foi por isto que ele reencontra Fernando Duarte, companheiro das filmagens do Cabra Marcado para Morrer; que o convida para ficar em Brasília a fim de realizar o projeto do núcleo de produção de documentários do Centro Oeste na UnB. Ele aceitou o desafio e ficou, sem saber que seria uma estadia permanente; porque o convite inicial foi para permanecer na cidade apenas dois meses. Vladimir, sem ter planejado inicialmente isto, adota então a cidade como sua e por ela também é adotado, tornando-se professor de cinema na UnB e importante líder intelectual local. A partir de Brasília, ele pôde dar prosseguimento ao seu trabalho enquanto documentarista preocupado com as questões sociais. Realizou vários de seus curtas e longas metragens, ganhando inúmeros prêmios, entre eles, a Margarida de Prata, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros). Com isto, seu prestígio enquanto cineasta documentarista cresce visivelmente.
Em Brasília
Em 1971, seu longa metragem O País de São Saruê foi retirado bruscamente do Festival de Cinema de Brasília pela censura federal. Em sinal de protesto contra tal fato, a comissão de seleção do festival se demite. Houve uma grande celeuma, porque o filme, depois de ter sido selecionado, foi vetado e apreendido pela censura. As autoridades presentes ao festival são vaiadas. "São Saruê" permanecerá apreendido e impedido de ser exibido durante toda a década de 1970. Apesar disto, o filme recebe convites até do Festival de Cannes, sem poder ser apresentado fora do país (porque havia uma únca cópia em película do filme).
Após o triste e autoritário episódio da censura e apreensão do filme O País de São Saruê, Vladimir continuou suas atividades, lecionando na UnB e filmando outros filmes, mesmo com parcos recursos. Além disso, ele fundou, em Brasília, a Associação Brasileira de Documentaristas seção DF, da qual será, posteriormente, presidente. A associação realizou o primeiro Festival do Filme Brasiliense.
Em 1979, com o processo político chamado de Abertura, pela ditadura militar, o filme O País de São Saruê é liberado do "cárcere" onde se encontrava e é recebido calorosamente pela crítica e pelo Festival de Brasília, ganhando o prêmio especial do júri.
Na década de 1980, Vladimir filma seus longas "O Homem de Areia" (1981) (sobre a vida de José Américo de Almeida) e "O Evangelho Segundo Teotônio". "Teotônio" ganha a Margarida de Prata e "O Homem de Areia", o prêmio do Concine (Conselho Nacional de Cinema). Em 1986, Vladimir reativou suas filmagens sobre um tema que lhe foi muito caro: a realidade dos operários que construíram Brasília, os chamados candangos. Conterrâneos Velhos de Guerra traz de volta o obscuro episódio de uma chacina de operários ocorrida num acampamento de uma das empreiteiras responsáveis pela construção de Brasília.
A Cinemateca Uruguaia o homenageou com uma retrospectiva completa de sua obra e, por isto, Vladimir foi ao Uruguai participar das homenagens e dos debates.
Em 1990, Conterrâneos Velhos de Guerra surpreende o Festival de Brasília e sai consagrado com muitos prêmios, inclusive o de melhor filme em sua categoria. Como sua primeira apresentação no festival foi em 16mm, o filme, transformado para 35mm, foi reapresentado no encerramento do Festival de Brasília de 1992, com a presença do ministro Antonio Houaiss. Ainda em 1992, Vladimir viaja para a Europa, porque foi convidado para ser jurado no Festival Cinéma du Réel, na França, onde Conterrâneos Velhos de Guerra é convidado hour-concours.
Em 1994, Vladimir cria a Fundação Cinememória, mudando-se para uma casa na avenida W3 sul, em Brasília, para onde leva todo o seu acervo. A inauguração da Fundação Cinememória dá-se durante o Festival de Brasília, com o apoio de Luíza Dornas, então Secretária de Cultura. O cineasta italiano Bernardo Bertolucci é um dos assinantes do livro de presença e saúda a iniciativa de Vladimir propondo "entrar para o Cinema Novo brasileiro".
Em 1998, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) - Poder Legislativo local - confere-lhe o título de Cidadão Honorário de Brasília, pelos serviços prestados à cultura e por sua dedicação à comunidade brasiliense. Ainda neste ano, Vladimir dá início à produção de seu longa metragem Barra 68, outro projeto que lhe era muito caro desde que chegou a Brasília. O filme conta as agressões que a Universidade de Brasília sofreu com a ditadura militar e a dura repressão que se seguiu.
Barra 68 é o filme que inaugura o Festival de Brasília de 2002. Com o prêmio que recebeu pelo filme, Vladimir constrói um pequeno auditório na Fundação Cinememória.
Em 2004, por decreto do governo do DF, Vladimir é nomeado embaixador cultural da cidade, junto com outras personalidades.
Em 2005, Vladimir começa a filmagem do longa metragem O Engenho de Zé Lins, sobre o escritor paraibano José Lins do Rego. Em 2000 Vladimir é convidado para presidir a Fundação Astrojildo Pereira , entidade criada com o objetivo de divulgar e incentivar a cultura brasileira, além de preservar a história dos militantes comunistas brasileiros.












João de Sousa Lima, Ângelo Osmiro e Vladimir Carvalho












Vladimir Carvalho e João de Sousa Lima

Vladimir Carvalho participando de palestra de João de Sousa Lima com grupo de estudos do cangaço do Ceará

Vladimir e João de Sousa Lima na Rádio Assunção



segunda-feira, 20 de maio de 2019

A TRAJETÓRIA DE JOÃO DE SOUSA LIMA: UM DOS MAIS NOTÁVEIS ESCRITORES DO TEMA CANGAÇO

João de Sousa Lima e Antonio Amaury entrevistam Olindina Café


     No rastro do cangaço
Reportagem especial conta a trajetória de João de Sousa Lima, um dos maiores pesquisadores do cangaço

Por José Augusto Araújo
Colaboração de Dorisvan Lira

    Teatro José de Alencar, junho de 2011, lançamento do filme “Os Últimos Cangaceiros”. Filme sobre a trajetória e fim do cangaço, inspirado no livro Moreno e Durvinha, escrito por João de Sousa Lima. Olhares atentos à telona, João assiste o filme acompanhado de Aristéia Soares, ex-cangaceira, Damarys Soares, nora da ex-cangaceira, Dinho, Nely, Inacinho e João Souto (todos filhos de Moreno e Durvinha).
Já havia três anos que Durvalina havia falecido e apenas um ano que Moreno seguiu sua eterna companheira também nesse caminho. Seus filhos reviam seus pais com imensa saudade, as lágrimas foram inevitáveis. Quatro anos antes fora mostrado no Jornal Nacional o reencontro entre Moreno, Durvinha, Aristéia, todos ex-cangaceiros e os dois ex soldados de volantes, Antonio Vieira (presente no dia da morte de Lampião) e Teófilo Pires do Nascimento..
Foi essa a primeira vez que o nome de João de Sousa Lima apareceu na imprensa nacional, e marcou sua trajetória. Nesta reportagem especial contamos detalhes da carreira de um dos maiores pesquisadores do cangaço na atualidade, confira.
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Biografia (BOX?)
Ao norte do estado de Pernambuco se encontra a mesorregião do sertão Pernambucano, onde a vegetação é composta pela caatinga, o clima da região é o clima semiárido, onde predomina as altas temperaturas e baixos índices de umidade relativa do ar. Já mais próximo do litoral pernambucano se localiza a cidade de São José do Egito, que fica a apenas 404 km da capital deste estado. Era nesse município que morava o casal Raimundo José de Lima e Rosália de Sousa Lima juntos com seus quatro filhos José de Sousa Lima, Manuel José de Lima, Maria Bernadete Lima Santos e João de Sousa Lima.
Em meados de 1960 a economia pernambucana começava a se estruturar novamente, porém, a vida no sertão nunca é fácil e sempre cobra seu preço. Por esse motivo, pouco tempo depois do nascimento de seu quarto filho o casal decidiu mudar-se para no norte da Bahia, mas precisamente para a cidade de Paulo Afonso, que havia pouco tempo havia sido fundada e tombada como município. Esse quarto filho foi batizado de João de Sousa Lima.

Chegando ao novo município a família se alocou na “Rua da Frente”, próximo a Baixa Funda, todos os irmãos de João eram mais velhos e dessa forma ele dividia seus dias entre o estudo, na escola Casa da Criança I e na rua com seus primos que também se mudaram para Paulo Afonso acompanhando os seus pais. Nesta época João não imaginava que se tornaria um historiador, quanto mais o historiador renomado que é hoje em dia.

Nasce o pesquisador
João de Sousa Lima é antes de tudo entusiasta pelo cangaço, entusiasmo que contagia qualquer um que o conheça. A fala segura, o cuidado com as palavras, ele é o ideal de pesquisador, pois sempre reforça seu compromisso na busca e no relato dos fatos. “O historiador tem compromisso com os fatos, não com as versões”, comenta.
São cerca de 20 anos pesquisando sobre o Cangaço, luta caracterizada como revolucionária, em que grupos armados desafiavam a autoridade do estado e teve como principal líder Lampião (Virgolino Ferreira da Silva), ex-capitão da Guarda Nacional. Episódio segundo ele ainda pouco explorado e cheio de distorções tendo encontrado inúmeros absurdos.
O interesse pelo tema começou em 1994, quando o amigo e professor Edson Barreto o incentivou a pesquisar na região as inúmeras histórias de pessoas que viveram a época do Cangaço. “Depois desse dia, quando travei contato com as pessoas que haviam vivido a saga do cangaço, nunca mais consegui parar de pesquisar”, conta João.
Praticamente um Indiana Jones do Cangaço, no seu trabalho pioneiro sobre Lampião percorreu mais de 12 mil km em uma moto CG (Honda) 125 cc, durante quatro longos anos através das terras áridas do Raso da Catarina, reserva ecológica com 105 hectares. A experiência rendeu o livro “Lampião em Paulo Afonso”.
O que muitas pessoas não sabem é que essa ligação de João pelo Cangaço também tem raízes de sangue. Isso mesmo, ele é descendente de Antônio Silvino, chamado Rifle de Ouro, cangaceiro conhecido por sua boa índole, que não roubava famílias nem incomodava inocentes, só ia atrás de seus desafetos para cobrar as ofensas que recebeu. Tanto conhecido pela boa índole que quando saiu da vida de cangaceiro assumiu o cargo de feitor na construção de uma estrada, emprego dado pelo presidente Getúlio Vargas.
O seu trabalho já rendeu a publicação de 13 livros. O último deles se chama “LAMPIÃO, O CANGACEIRO! Sua ligação com os coronéis baianos, Raso da Catarina e outras histórias”, e foi lançado em outubro. De suas andanças pelo sertão João diz o que lhe dá mais prazer:
“Poder conhecer as pessoas da época, colher a história oral e real, conviver com ex-cangaceiros, coiteiros, soldados volantes, foram momentos marcantes. Com vários deles fiz grandes amizades, me tornei confidente. Muitos ainda estão vivos, mesmo que beirando os 100 anos de vida. Essa é a parte mais gratificante de tudo”, relatou o pesquisador.
Reconhecimento
Sua carreira é nacionalmente reconhecida. Um dos episódios que remonta a construção dessa trajetória foi contado no início dessa reportagem, quando um de seus livros, “Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço”, teve adaptação para o cinema.
Nas mãos do cineasta cearense Wolney Oliveira, que transformou a história desses dois membros do bando de Lampião no filme “Os últimos cangaceiros”. A película recebeu inúmeros prêmios no país e no exterior, entre eles o de Menção Especial do Júri no 8° Amazonas International Film Festival (2011) e no México ganhou como Melhor Longa-metragem Ibero-americano em 2012.
Na ocasião ainda da obra sobre Moreno e Durvinha surgiu a oportunidade de realizar o reencontro entre três ex-cangaceiros e dois ex-policiais da volante, o encontro tornou-se reportagem para o Jornal Nacional e impulsionou ainda mais a divulgação do seu trabalho.
Para ele, outro trabalho lançado em 2011 lhe deu igual prazer. O livro “A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço” marcou seu trabalho.
“Eu escrevi a biografia dela, colhendo informações desde sua infância até a morte, foi o primeiro trabalho especifico só sobre sua vida e hoje esse trabalho é uma referência para quem estuda as mulheres e o cangaço, também foi um dos livros que mais me deu prazer em concluir”, contou João.
Sobre a personagem ele a descreve como “uma mulher que rompeu parâmetros de uma época machista, andou a margem da lei, se apaixonou por Lampião e nas veredas infinitas do sertão viveu sua mais interessante paixão”.
Historiador, Escritor, Pesquisador, autor de 13 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, onde ocupa a cadeira número 06 e da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Fomentador da cultura
Além de escritor e pesquisador, João de Sousa Lima é no momento Diretor de Cultura do Município de Paulo Afonso. A frente dessa responsabilidade ele busca promover a cultura local. Uma das primeiras inovações que trouxe foi transformar o Espaço Cultural Raso da Catarina, outrora biblioteca em um espaço para exposições artísticas e culturais.
"Quero realizar alguns projetos com os artistas que vivem sua cultura que chamamos de cultura marginalizada; dar apoio aos que nunca puderam publicar ou realizar seus projetos por falta de apoio. Para isso, vamos buscar os Fundos Culturais Federais e do Estado, para que possa continuar o processo de crescimento", falou em uma entrevista o historiador.
Desenvolve entre outros projetos o trabalho “Cultura e Arte” que levará a história para os alunos e comunidades da Zona Rural, ministrando palestras em escolas públicas.
Apóia o grupo “Os Cangaceiros” que há 56 anos reencena confrontos entre a volante e o bando de Lampião. Ministra palestras em universidades, seminários e encontros voltados para a educação e a cultura popular nordestina.
Uma de suas ações mais notáveis ações para o resgate da história do cangaço foi o projeto que recuperou e transformou em museu a casa onde Maria Bonita nasceu. A residência localizada na área rural de Paulo Afonso hoje se chama Museu Casa de Maria Bonita.
Instituições que participa
·         João de Sousa Lima participa de algumas instituições dedicadas a pesquisa e ao resgate e preservação da cultura, conheça algumas delas.
·         É imortal e criador da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso e ocupa a cadeira número 06.
·         Sócio permanente da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
·         Membro e secretário da UNEHS – União Nacional de Estudos Históricos e Sociais, com sede em São Paulo.
·         Membro fundador do IGH – MSPA - Instituto Geográfico e Histórico da Microrregião do Sertão de Paulo Afonso.
·         Membro do CECA/NECTAS – Centro de Estudos da Memória do Cangaço – UNEB CAMPUS VIII.
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O tesouro

Em sua casa João guarda um verdadeiro tesouro, em suas prateleiras tem desde gramofones que ainda tocam, até o facão que decepou a cabeça de Lampião, possui espadas que foram usadas na batalha de Canudos, o punhal perdido por Maria Bonita em uma situação que ela se viu ferida em meio a um combate e teve que ser carregada para segurança.
Mas segundo o próprio João o item mais valioso de sua coleção é o Punhal que pertenceu a Lampião, que o presenteou a Militão Teixeira Lima, do povoado Olho D’água do Souza. Militão repassou o punhal para seu filho, Irineu. João passou 14 anos tentando comprar o punhal de Lampião até que um dia, para surpresa do historiador, Irineu lhe presenteou com o punhal. Hoje João o guarda como um tesouro inestimável.

João de Sousa Lima é um expoente da pesquisa da história brasileira, especialmente de um capítulo ainda negligenciado em nossos livros e escolas. Andarilho do sertão, A marca que Lampião deixou em nossa terra fica evidente até os dias de hoje e como a lenda de Lampião é imortal, também será imortal o trabalho de João, responsável pela desmistificação do Capitão Virgolino Ferreira da Silva, estudando os seus passos e quebrando as mentiras e lendas contadas acerca de seus atos.

OLHO: “O historiador tem compromisso com os fatos, não com as versões”

Livros publicados
Conheça alguns dos 19 títulos escritos por João de Sousa Lima:
·         Lampião em Paulo Afonso;
·         A Trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço;
·         Moreno e Durvinha: sangue, amor e fuga no Cangaço;
·         Maria Bonita: diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço;
·         100 Anos de Luiz Gonzaga;
·         100 Anos da Usina Angiquinho, O Rio São Francisco, Delmiro Gouveia e a CHESF;
·         Na Mala do Poeta I
·         Na Mala do Poeta II
·         No Silêncio do Ocaso.
·         As caatingas, debates sobre a ecorregião do Raso da Catarina.
·         Ecologias do São Francisco.
·         Ecologia de Homens e Mulheres do Semi-Árido
·         Lampião, o cangaceiro! Sua ligação com os coronéis baianos, Raso da Catarina e Outras histórias.

www.joaodeosousalima.blogspot.com



João de Sousa Lima ladeado pelo soldado João Calunga e Ozeias Oliveira (irmão de Maria Bonita)


João de Sousa Lima, Ozeias e João Maria do olho Dágua (um dos matadores do sargento Deluz)




















João de Sousa Lima e Antonio Amaury Correa de Araujo na casa da coiteira Generosa Gomes de Sá