quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Turismo em Paulo Afonso

Lagos de São Francisco serão objeto de estudo do MTur

Análise de competitividade turística fornecerá diagnóstico das localidades que necessitam de investimentos
Com forte vocação para o turismo náutico, cultural, religioso, histórico, de aventura e para o ecoturismo, a região dos Lagos de São Francisco será objeto de estudo de competitividade turística aos moldes do realizado nos 65 destinos indutores do desenvolvimento turístico regional. O objetivo do estudo é fornecer diagnóstico preciso das localidades, por exemplo, infra-estrutura e hospitalidade, que necessitam de investimentos públicos e privados, ante a perspectiva de aumento da demanda turística da região. Originária da construção das hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó, a região dos Lagos do São Francisco abrange uma área com forte vocação turística. Cidades de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe serão atingidas.

Para o diretor do Departamento de Financiamento e Promoção de Investimentos no Turismo, Hermano Carvalho, há uma perspectiva real de aumento de demanda turística na região devido, principalmente, à implementação de programas de incentivo à interiorização do turismo no Nordeste e à realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. "A captação de investimentos para a região é fundamental para que o turismo se desenvolva como fator de geração de emprego e renda para a população local", destacou. A instituição que realizará o estudo, bem como a metodologia, está sendo discutida pelos técnicos do Ministério do Turismo (MTur).
 
I Encontro de Turismo Regional dos Lagos do São Francisco
A iniciativa de realizar o estudo sobre a região dos Lagos do São Francisco é resultado do I Encontro de Turismo Regional dos Lagos do São Francisco, realizado no período de 1º a 3 de outubro, em Jatobá (PE). O evento contou com a participação de prefeitos e secretários de turismo de municípios locais, além de representantes de entidades ligadas ao desenvolvimento regional, como o Instituto Xingó, a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), o Banco do Nordeste e a Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário (Sebrae).
O objetivo foi discutir o potencial, a ampliação da oferta turística e as políticas para atração de novos investimentos públicos e privados para a região, bem como a adequação e ampliação da oferta de meios de hospedagem e equipamentos turísticos.
Durante o evento, os participantes debateram a reativação comercial do aeroporto de Paulo Afonso, na Bahia, como questão estratégica para o desenvolvimento do turismo na região. Além disso, tiveram a oportunidade de conhecer as belezas naturais do cânion do São Francisco e o roteiro compreendido pelo lago e cânion da represa de Xingó.
Já em visita a Piranhas (AL) – palco de expressivo patrimônio histórico da região – visitaram o Museu do Sertão e o Centro de Artesanato.  Durante a visita foi apresentado também o roteiro Caminhos da História, que trilha os passos de D. Pedro II quando de sua visita à região em 1859.
ASCOM

Maria Bonita Estilizada e o Turista, Símbolos da Rota do Cangaço em Paulo Afonso


O Que Meus Olhos Viram de Belo... Por:João de Sousa Lima

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O que meus olhos viram de belo...meus olhos contemplaram a beleza, vi a essência do que nos aproxima de fato dos nossos sentimentos humanos: vi uma filha emocionar-se com as lembranças de um bom pai, vi um caminho iluminado por candeeiros, luzes quase apagadas de nossas memórias, o caminho iluminado nos levou até um verde e extenso jardim, vi no jardim flores, flores chamadas ANICETOS, flores musicais, rítmos angelicais, sonoras composições que abrandam a alma, acalmam o espirito, fazem dançar os anjos; vi a imensidão do Vale do Cariri e o verde da Chapada do Araripe, percorri mundos, vivi momentos, compreendi os momentos e conheci os motivos de inspiração do grande Patativa do Assaré e do maior cantor: Luiz Gonzaga, saudades eternas; Vi o horto da fé, a fé que abala, o momento que cala na oração aos pés do Padre Cicero Romão, o outro Batista; Vi todos os grandes do estudo do cangaço, apertei mãos, abracei, compreendi sorrisos e olhares, vi tantos lugares, lugares de morte, da morte de Lourenço, Beato da Vida; vi exaltados, emocionados, felizes, tristes; eu vi um mundo, um mundo de artistas, nos cordeis, artesanatos, na transformação do couro em arte, a arte que não está presa as normas e leis, a arte natural, do homem, da vida; vi o futuro, o futuro do Brasil, jovens, estudantes, aprendizes na arte do escrever, do ver, do compreender, eu vi tudo isso e queira meu Deus dar-me força para ver muito mais, quando novamente cruzar meu caminho o próximo Cariri Cangaço, quero estar lá, quero ver tudo novamente, quero ver vidas, pessoas, amigos, arte, sabedoria e beleza; quero que meus olhos vejam novamente o que poucas vezes avistei e que eu possa novamente saborear os sabores do Cariri, vislumbrar a paisagem do Araripe, ser maleável e ser SEVERO, Severo amigo, meu castigo é não fazer parte da tua confraria, pois sei que aí meus olhos deixariam de ver beleza, quando for o próximo CARIRI CANGAÇO.

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João de Sousa Lima

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Postado por CARIRI CANGAÇO

5 comentários:


Anônimo disse...

Muita linda a cronica. parabens

Renia

15 de Novembro de 2009 15:04


Anônimo disse...

Novamente parabens amigo João, sua sensibilidade é incrível por retratar em seu texto tudo que viu no cariri cangaço, mas, tenha certeza que traduziu o sentimento de todos nõs.

E ao elegante Severo, digo: Parabens.

Professora Vilma

15 de Novembro de 2009 16:53


Anônimo disse...

Muito Bacana João.
Valeu

Assis.

15 de Novembro de 2009 17:44


Helio disse...

O poeta sempre acaba vendo aquilo que até muitos conseguem ver, mas não conseguem traduzir. É assim que vejo o texto do grande João de Souza, de Paulo Afonso, todos que estivemos no Cariri Cangaço poderíamos ter visto o mesmo, mas só o poeta consegue traduzir dessa forma.

Professor Mario Hélio.

17 de Novembro de 2009 03:42


Helio disse...

Além do mais não posso deixar de falar de sua espetacular palestra falando das mulheres e o cangaço, Maria Bonita e Durvinha, foi elucidativa, principalmente vindo de um pesquisador que se empenhou ao máximo para buscar a verdadeira história da reainha do cangaço.

Professor Mario Helio.

As Belas Mulheres no cangaço e uma visão diferenciada das pessoas sobre a Importância delas como Cangaceiras

Paulo Afonso e as belas Mulheres.


 

As sociedades regem-se por padrões de condutas, leis, direitos e deveres estabelecidos. Notadamente as manifestações de épocas remotas serviram para criar personagens polêmicos, tantos odiados quanto amados, dependendo da ótica de quem vivia os extremos da situação. É notório observar que as escolhas de caminhos percorridos podem ser vistas como trajetos positivos ou negativos, dependendo da visão de quem se posiciona fora do quadro acontecido. O Sertão nordestino tem sido palco de inesquecíveis posicionamentos de pessoas que de alguma forma mudaram suas trajetórias e envolveram vidas de outras pessoas, havendo dentre os fatos ocorridos um pré-julgamento de uma sociedade que muda seus pensamentos com o passar do tempo. A guerra de Canudos é a síntese de uma grande falha de pensamentos de uma sociedade equivocada e hoje se tenta justificar os meios utilizados, as formas de atuações e as várias análises do que na época chamou vitória de Heróis em referência às ações dramáticas realizadas pelo exército, ao martírio de um povo que almejava só provar que era possível uma vida longe dos impostos e dos deveres criados apenas para uma classe menos abastada, obedecendo ao líder Antonio Conselheiro. A esse fenômeno junte-se Pau - de - Colher, Pedro Batista e o polêmico e adorado Padre Cícero Romão Batista.

O cangaço era particularmente, pela sua brutal forma de vida, um mundo exclusivamente machista. A mulher era figura descartada nesse meio. Os cangaceiros sempre que possível mantinham suas relações sexuais, aproveitando os bailes realizados nos coitos, sítios, fazendas, ou quando eram seviciadas e vítimas dos GERÁS (palavra usada na época para definir a prática do estupro).

A entrada das mulheres nos bandos foi visto por uns como sendo a desgraça e a decadência do cangaço. Para outros as mulheres vieram aplacar a fúria assassina e o desejo disforme que tanto feriram e humilharam as famílias nordestinas. Com a chegada e a permanência feminina, os cangaceiros adquiriram mais respeito para com as indefesas caboclas sertanejas.

Sebastião Pereira da Silva, o famoso Sinhô Pereira, único cangaceiro a chefiar Lampião, fez a seguinte declaração:

"Eu fiquei muito admirado quando soube que Lampião havia consentido que mulheres ingressassem no cangaço. Eu nunca permiti e nem permitiria. Afinal, o Padre Cícero tinha profetizado: Lampião será invencível enquanto não houver mulher no seu bando".

O certo é que Lampião contrariou todas as expectativas e cedeu às armadilhas invisíveis do amor, lançando-se nos braços formosos e entregando-se aos beijos ardentes e sedutores da bela morena, da Malhada da Caiçara.

Foi em Paulo Afonso que Lampião encontrou sua grande paixão, Maria Gomes de Oliveira, a eternizada Maria Bonita. Foi ela a primeira mulher cangaceira e com ela abriu-se o precedente das companhias femininas, sendo Paulo Afonso, responsável por uma enorme leva de mulheres para o cangaço. Das mais famosas cangaceiras que saíram de Paulo Afonso, podemos citar as seguintes: Maria Bonita ( a Rainha do Cangaço), Lídia Pereira de Souza ( a mais bela das cangaceiras), Nenê (Nenê, de Luiz Pedro), Otília Maria de Jesus (Otília, de Mariano), Inácia Maria das Dores (Inacinha, de Gato), Catarina Maria da Conceição ( Catarina, de Nevoeiro) e a recém descoberta, Durvalina Gomes de Sá (Durvinha, de Virgínio e Moreno).

Com as mulheres vieram alguns contratempos, pois elas não tinham a valentia e a resistência dos homens e muitas vezes atrapalhavam quando ficavam doentes ou grávidas, tendo os cangaceiros que baterem em constantes retiradas, quando dos combates, para resguardarem a integridade física das companheiras.

Segundo relatos das próprias cangaceiras sobreviventes, a pior coisa era ter filhos e não poder criá-los. O amor de mãe era substituído pela dor ao ver seus frutos carnais serem postos em outros braços. Os filhos eram doados, geralmente a algum conhecido que tivesse condições para dar um mínimo de conforto à criança. Relato forte que temos nos dias atuais é o de Inácio Carvalho de Oliveira, Inacinho. Filho do casal de cangaceiros Moreno e Durvinha, que foi deixado com o cônego Frederico Araújo, religioso responsável pela igreja de Tacaratú, em Pernambuco.

Inacinho nasceu em plena caatinga, cercado pelo medo da aproximação das volantes policiais, parto realizado com recursos primordiais. Diante do risco dos tiroteios e do constante choro da criança que poderia ser rastreado, a alternativa para resguardá-lo foi a entrega ao Padre. Uma sábia e abençoada decisão.

Inacinho procurou durante anos por seus verdadeiros pais, nunca perdendo a esperança e sendo recompensado pelo reaparecimento do casal e do reencontro depois de setenta longos anos.

Outro caso célebre foi o caso Sílvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, entregue ao Padre Bulhões, em Santana do Ipanema, Alagoas.

Maria Bonita, também sofreu seus dissabores, quando do seu primeiro parto teve que se contentar com a dor ao ver seu primogênito ser um natimorto e ter que enterrá-lo no fundo do quintal do coiteiro que lhe deu guarida, o velho Venceslau, Seu Lau, fiel guardião dos trajetos do Rei do Cangaço, nas proximidades do povoado Campos Novos, em Paulo Afonso.

O que aparentemente seria uma ótima vida na visão das mulheres, que viam os cangaceiros como algo novo, uma aventura que poderia lhe trazer proveitos, acabava por mostrar o outro lado de uma vida sempre atribulada, de combates, fugas, mortes e desassossego. Arrastar as alpercatas sem ter pouso certo era tarefa penosa, muito mais para as mulheres que geralmente estavam sonhando com os príncipes que povoam os sonhos da adolescência. Na rebeldia de meninas-moças muitas deixaram o calor das moradias paternas para se lançarem nesse caminho sem volta. Muitas outras foram raptadas, relembrando o caso da cangaceira Dadá que foi raptada por Corisco, sendo estuprada e ficando sob a guarda de uma tia do cangaceiro. Dadá deixou um forte depoimento relatando que só o tempo curou os traumas do estupro e depois ela foi se apaixonando por Corisco e por ele nutriu o mais fiel sentimento de amor, até morrer.

Com Maria Bonita foi diferente ela já tinha sido casada quando conheceu Lampião e com ele resolveu seguir para o cangaço e a partir daí o cangaço nunca mais foi o mesmo, as mulheres trouxeram outra cara àquele mundo só de homens.

Maria Bonita, A Rainha do cangaço, em breve histórico do escritor João de Sousa Lima

MARIA BONITA

"A RAINHA DO CANGAÇO"


 

Dia 08 de março de 1911, o dia amanhece nublado e apesar da aparente calma que cerca o Sítio Malhada da Caiçara, município de Paulo Afonso, Bahia, no casebre do casal José Gomes de Oliveira ( conhecido como Zé, de Filipe) e Maria Joaquina Conceição Oliveira (dona Déa), uma forte tensão ronda um dos quartos da casa. Mais alguns minutos e ouve-se um choro de uma criança que acabara de nascer. Era a segunda filha do casal, a primogênita chamava-se Benedita Gomes de Oliveira.

A parteira levou a criança até a sala onde o pai e a mãe aguardavam a nova vida. No calor dos braços paterno a criança foi acalentada e admirada. Nos mesmos braços ela receberia o nome: Maria Gomes de Oliveira. Um nome que na adolescência seria reduzido para Maria de Déa e alguns anos mais tarde, já no cangaço, passariam a se chamar Maria de Lampião ou Maria do Capitão, até tombar morta, em 28 de julho de 1938 e ter o nome de Maria Bonita, imortalizado, propagando-se e ganhando fama através das violas dos ágeis improvisos dos poetas repentistas, sendo tema de livros, filmes, teses e estudos sociológicos.


 

MORENA BONITA E FACEIRA

DOS LÁBIOS BELOS ROSADOS

FLOR QUE A DOCE BRISA CHEIRA

NOS RAMALHETES SAGRADOS


 

CABOCLA COR DE CANELA

QUE ATÉ O VENTO PALPITA

SENTINDO OS OLHOS DA BELA

DA RAINHA MARIA BONITA


 


 

João de Sousa Lima

Escritor.


 

Paulo Afonso, 29 de setembro de 2009

João de Sousa Lima e suas lembranças Poéticas

Variedades

05/11/09  18h35m - Paulo Afonso-BA

"No silêncio do Ocaso" será lançado neste mês

Da Redação PAN, Natália Cleuber
naty_cleuber@pauloafonsonoticias.com.br

Crédito: Divulgação

Capa do livro

De João de Souza Lima, o livro "No silêncio do Ocaso" será lançado no dia 14/11 através do I Congresso Interdisciplinar da Faculdade Sete de Setembro (COINFA) que acontecerá de 10 a 15 de novembro deste ano.

O pernambucano técnico em contabilidade, João, já tem lançado outros 4 livros sobre cangaço. "Lampião em Paulo Afonso" em 2000; "A trajetória guerreira de Maria Bonita- A rainha do cangaço" em 2004; "Cartilha fotográfica-Casa de Mãria Bonita" em 2005 e "Moreno e Durvinha- Sangue, amor e fuga no cangaço" em 2007. Como co autor, João participou de três livros: "As caatingas" em 2006; " Sertanejos e sertanejas no bioma da caatinga" em 2007 e " Ecologias do São Francisco" em 2007.

Para o futuro próximo, João, que afirma escrever por vocação, lançará a 2ª edição de "Lampião em Paulo Afonso" em dezembro deste ano a pedido dos leitores e, para janeiro ou fevereiro do próximo ano, lançará "Paulo Afonso- A história não contada"

Em vários Estados do país, João é convidado para dar palestras sobre cangaço. "Já fui para Salvador, Belo Horizonte, Recife, Ceará, Brasília, São Paulo e vários outros Estados fazer palestras sobre o cangaço" afirmou João.

O Seminário Cariri e Cangaço que aconteceu de 22 a 26 de setembro deste ano em Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha foi o último que João participou. Além de todos estes afazeres, o escritor (que lança seus livros com recursos próprios), técnico em contabilidade e palestrante ainda disponibiliza tempo para ser o Chefe da Divisão de Cultura em Paulo Afonso.

URL: http://www.pauloafonsonoticias.com.br/internas/read/?id=6256

O Escritor João de Sousa Lima e a Sétima arte em Paulo Afonso

LUZ, CÂMERA, AÇÃO...

A PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA CHEGA AO SERTÃO PAULOAFONSINO.


 


 

Quatro jovens se reúnem e fundam o NÚCLEO EXPERIMENTAL DE CINEMA DE PAULO AFONSO. Os idealizadores atuam em diversos setores da sociedade pauloafonsina.


 

Em reunião acontecida em Janeiro de 2009, João de Sousa Lima, Rafael Bezerra de Andrade, Gilmar Teixeira e Haroldo Santos criaram o NEC, tendo por finalidade a produção independente de vídeos documentários experimentais, fundamentando os temas escolhidos com nossos fatos reais, registros históricos acontecidos em nossa região.


 

O NEC – Núcleo Experimental de Cinema de Paulo Afonso começou suas atividades com a produção de um filme, com as primeiras cenas rodadas nos dias 21 e 22 de maio de 2009, o filme-documentário contará a participação de jovens sertanejos que entraram para o grupo do famoso cangaceiro Lampião, fatos acontecidos em 1930. O foco principal é o cangaceiro Gato, nascido no Brejo do Bugre, índio Pankararé e que se tornou um dos mais perversos homens a trilhar os caminhos do cangaço..


 


 

O objetivo principal das produções é contribuir com o desenvolvimento da nossa cultura, colaborando com a formação e educação dos nossos jovens ao tempo que as imagens colhidas servirão para perpetuar nossa história levando conhecimento as gerações vindouras, conservando os arquivos para futuras pesquisas, perpetuando as raízes genealógicas de nosso povo.


 

Esse primeiro projeto esta acontecendo sem captação de recursos das fontes federais e estaduais, contando apenas com a colaboração de setores do município, tais como: Prefeitura Municipal de Paulo Afonso - BA, Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes, 1º Cia. de Infantaria, 20º Batalhão de Polícia de Paulo Afonso, Jeep Clube de Paulo Afonso, Supermercado Suprave, Jornal Folha Sertaneja, Ótica Pérola, Ótica Cristal, Loja Milleniun, APDT – Associação Pauloafonsina de Dança e Teatro – ASCOM - Assessoria de Comunicação e, UNEB – Campus VIII, Candeeiro Iluminações, Provideo Comunicação, Paraíba Jóias, TV São Francisco, IGH – Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso.


 

Representantes das instituições envolvidas diretamente com o filme:

Prefeitura: Jânio Ferreira Soares, João de Sousa Lima, Cristiane Guimarães, Marlos Guerra, Alan Cavalcante Brito, Izael de Jesus, João Bosco, Marco Pietro, Glória Lira.

20º Batalhão de Polícia: Tenente Coronel Antonio Santana Rosário, Haroldo Santos, Mel,


 

1º Cia. de Infantaria: Capitão Bortoluzzi, Tenente Vasconcelos.

Jeep Clube: Sebastião César, Binho.

APDT: Maria Dolores, Maurício Mendes, Adriano Machado, Jackson Alexandre e Cícero Junior.

Folha Sertaneja: Antonio Galdino, Ricardo Costa Santos.

Provideo: Jardel Menezes.

Candeeiro Iluminações: Rafael Andrade.

Atrizes Independentes: Aretuza Simoneta e Jaqueline Santos.

Grupo Prosub Mergulhos e Esportes de Aventura: Luciano Moura e Ivan Trindade.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

casas de Generosa Gomes de Sá, coiteira de Lampão



conjunto arquitetônico construído por Generosa Gomes de Sá, no povoado Riacho, em Paulo Afonso - Bahia.
ao fundo vê-se a imponente Serra do Umbuzeiro, fica a 507 metros a nível do mar
o conjunto de 04 casas e 01 capela fazem parte do Roteiro Integrado do cangaço.

a casa de Generosa Gomes de Sá, uma das maiores coiteiras de Lampião


Generosa Gomes de Sá foi uma das maiores coiteiras de Lampião e residia no povoado Riacho, Paulo Afonso, Bahia.
a casa de Generosa e mais três casas que ela construiu para os filhos, assim como uma imponente capela, formam um dos mais espetaculares conjuntos arquitetônicos.
as construções das casa começaram em 1900 e vieram alguns pedreiros do estado pernambucano tendo em vista que a arte do adôbe era desconhecido pelos construtores dessa região, acostumados a construirem casa de taipa.
por ter uma localização no meio do caminho entre a saída do Raso da Catarina, a casa de Maria Bonita e o estado sergipano, Lampião passava sempre na casa de Generosa e lá realizava os famosos bailes.
o conjunto arquitetônico agora esta incluído no Roteiro Integrado do Cangaço, projeto realizado pelo escritor João de Sousa Lima.
um detalhe curioso é que Generosa está enterrada na capela ao lado da casa onde podemos ver as datas de nascimentoe morte, onde consta que ela morreu com 114 anos de idade.
Generosa era prima legítima de Santina Gomes (mãe da cangaceira Durvinha) .
para os interessados nas nossas histórias do cangaço e do sertanejo, esse é um ponto que vale a visita.

as cangaceiras Durvinha e Aristeia Soares


raro momento onde a cangaceira Aristeia faz um afago na amiga do cangaço Durvinha, enquanto relembravam os momentos sofridos que viveram nas caatingas sertanejas, palco de lutas e sofrimentos.
quando Arsiteia teve o companheiro ferido mortalmente em um combate, Durvinha e Moreno ajudaram a entregar Aristeia aos familiares. Ela estava grávida e poucos dias depois teve o bebê.
estes são fatos retratados no livro Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço,
para adquirir, entrar em contato com o autor: 75-8807-4138

Raimundo Piancó


Raimundo José de Lima, pai do escritor joão de sousa lima.
foto na década de 40.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

o cangaceiro Jurity



mais uma rara foto do cangaço do arquivo do escritor João de Sousa Lima

João de Sousa Lima indica programa de rádio falando de mestre Luiz Gonzaga


para quem gosta da boa música sertaneja sintonize no programa feito pelo professoar Wilson Seraine, onde o nosso Rei do Baião solta sua inconfundível voz

rara foto do cangaceiro Juriti




mais uma foto conseguida pelo escritor João de Sousa Lima, onde mostra o cangaceiro Jurity

o cangaceiro Ezequiel será o tema do novo filme do escritor João de Sousa Lima


foto onde aparece Lampião, o irmão Ezequiel e o cunhado Virgínio, vendo-se ainda, na direita de quem olha, o cangaceiro-menino Volta Seca.
o Ezequiel será tema do novo video documentário que será produzido por João Lima.
os inicios das filmagens acontecerão em março de 2010.

a cangaceira Dadá, retirando os ossos de Corisco para serem enterrados em salvador, Bahia.


a cangaceira Dadá no exato momento em que retirava os ossos do companheiro no cangaço, o cangaceiro Corisco, para serem enterrados na cidade onde residia (Salvador).

João de Sousa Lima divulga a história de Maria Bonita


em uma nova reportagem para a Rede Record de Televisão, o escritor João de Sousa Lima falou diretamente do Museu casa de Maria Bonita, onde apresentou a Rota do Cangaço.
a Rota do Cangaço será um novo roteiro integrado com as cidades de Piranhas, Alagoas e Caninde do São Francisco, Sergipe.

João de Sousa lima e sua primeira pesquisa no raso da Catarina


 

EXPEDIÇÃO RASO DA CATARINA

( NAS TRILHAS DE LAMPIÃO )


 


 


 


 


Desde muito tempo, que eu guardava o desejo de palmilhar as veredas quase intransponíveis do desértico Raso da Catarina, reserva ecológica de suma importância para o Brasil e o mundo. Com a realização do meu primeiro livro: Lampião em Paulo Afonso, pude margear , em partes , esse árido pedaço de chão nordestino. Enquanto realizava as pesquisas nos povoados pauloafonsinos, que situa-se no que chamamos em torno do Raso, travei o primeiro contato com a vegetação seca e disforme que cobre essa intrigante reserva ecológica. No entanto, continuava a vontade e a necessidade de conhecer e adentrar nesse enigmático e rico ecossistema.

Quando no dia 06 de setembro de 2004, encontrei-me, por acaso, com o amigo de infância Petrucio Luiz Rodrigues, funcionário da Petrobrás, que trabalha embarcado em uma plataforma, na cidade de Macaé , Rio de Janeiro, e que, descansava em Paulo Afonso seus dias de férias, falou-me da alegria do reencontro e gentilmente elogiou o meu trabalho literário, externando sua vontade de conhecer alguns dos lugares citados no livro, por onde os cangaceiros passaram. O Raso da Catarina foi o palco da nossa conversa final e acertamos que iríamos cruzar este extenso labirinto. O difícil foi acreditar que o seu carro, "um Toyota corolla", por ser um veículo de passeio, conseguiria realizar a proeza de atravessar esse saara nordestino. Confesso que embarquei nessa arriscada aventura um pouco temeroso.

É chegado o dia 08 de setembro de 2004, eu , Petrucio e Gatão, guia turístico da nossa cidade , com o clarear dos primeiros raios do sol , começamos a expedição. O Povoado Salgadinho, foi a nossa primeira parada, onde fotografamos a casa da ex - cangaceira Lídia, de Zé Baiano. De lá seguimos até o Brejo do Burgo , aldeia dos índios Pankararés, onde adquirimos alguns artesanatos indígenas e colhemos dados dos que viveram a saga do cangaço. Do Brejo do Burgo nos dirigimos até a Baixa do Ribeiro, local onde nasceu a famosa cangaceira Dadá, de Corisco. Aí, a Toyota já cruzava as estradas poeirentas e pedregosas do Raso da Catarina.

O Salgado do Melão foi a próxima parada e aproveitamos para conversar com Joana, irmã da cangaceira Dadá.

A expedição continuou, sendo entrecortada por breves paradas necessárias para registrarmos a fauna e a flora, patrimônios naturais que a sociedade tem por dever, conservar. (Divulgando este trabalho, estou convicto que ofereço uma parcela de colaboração na árdua tarefa de conscientizar a população a cerca das questões ambientais).

As estradas que a Petrobrás abriu para a exploração do Raso da Catarina, servem hoje de entrada para caçadores e traficantes de animais silvestres. É uma grande dívida social dessa empresa e uma ferida que mostra sua eterna marca. O bom é que as fontes de gás natural, perfuradas em nome do progresso , estão fechadas como fonte de reserva e a clareira que abriram para servir de campo de pouso, está sendo tomada pelo mato, sendo revestida pela natureza que reage. Ironia do destino, a expedição seguia com o apoio de Petrucio, um dos grandes incentivadores da cultura nordestina e apaixonado pelas histórias sertanejas. Ele que é funcionário da Petrobrás.

Seguimos com a expedição, com o sol abrasador queimando a flora diversificada, castigando as várias espécies, tais como: Catingueira, jatobá, umbuzeiro, quipemba, jurema, mandacaru, xique - xique, prém-prém, coroa de frade, faveleira, macambira, gravatá, quipá e araticum. Plantas que teimosamente sobrevivem, assim como sobrevive com mais dificuldade a escassa fauna, abalada pela caça predatória. Eis alguns animais que estão sendo extintos pelas mãos vorazes do homem: Onça suçuarana, caititu, cotia, preá, tamanduá, veado, tatu, tatu verdadeiro, peba, ribaçã, arara azul, papagaio, carcará, gavião, Seriema, entre outros.


 


 


 


 


 


 


 

O Povoado São Francisco pertencente a Macururé, foi a nossa próxima parada.Localidade onde encontramos familiares dos cangaceiros Azulão, Balão e Esperança.

Em São Francisco encontramos várias peças que pertenceram aos cangaceiros e falamos para a população, da importância que é a preservação daquela localidade por se encontrar dentro do Raso da Catarina. De lá, já com o cair da noite, regressamos a cidade de Paulo Afonso , onde traçamos novos roteiros para prosseguirmos com o nosso trabalho.

No dia seguinte, ao raiar do dia, a Toyota novamente nos conduzia às areias disformes do Raso da Catarina, e assim foi durante vinte dias, onde percorremos 900 quilômetros, realizamos 8:00 horas de filmagens e tiramos aproximadamente 4.000 fotografias .

Terminamos a expedição exaustos, porém realizados. O carro que no princípio parecia frágil, passou com méritos na missão. O amigo Petrucio, incansável e de uma sensibilidade ímpar, está de parabéns tanto pela realização do trabalho, quanto pela consciência de preservação que o acompanha e que ele possa ser o elo entre a Petrobrás e o Raso da Catarina, no que se trate de uma nova visita, desta vez, por uma nova causa, onde possa resguardar e proteger este patrimônio brasileiro, que por centenas e centenas de anos, a vida tenta se defender da ação exterminadora do homem.


 


 


 


 


 


 

Paulo Afonso, 05 de Novembro de 2004.


 


 

JOÃO DE SOUSA LIMA.

Escritor / pesquisador.


 


 

JUÁ


 

No início do século XVIII, morava na Folha Branca, município de Tacara tu – PE, o senhor Anacleto da Cunha Lima, o qual tinha um filho por nome de Francisco Xavier da Cunha.

Francisco apaixonou-se por uma moça chamada Maria Quota, que residia em Petrolândia-PE. O pai da moça era holandês e não concordava com a união da moça e Francisco porque ela era branca e ele bem moreno.

Francisco contratou alguns pistoleiros e tomou a moça das mãos do pai à força, depois casou com ela e temendo alguma emboscada do sogro decidiu juntamente com sua esposa e seu pai, deixarem o estado de Pernambuco e se mudaram para a Bahia, fazendo antes um estágio na Volta do Moxotó e partindo depois para o Brejo do Burgo, tribo dos índios Pankararé.

Depois que surgiu a Casa da Torre de Garcia DÁvila foi realizado o primeiro contato de arrendamento feito por Anacleto, em 1818. com a morte de Anacleto, Francisco Xavier continuou pagando renda até quando comprou a terra. Nesse tempo a fazenda Juá já pertencia ao município de Curral dos Bois, hoje Glória.

A escritura titular do terreno foi lavrada em Monte Santo, no dia 02 de novembro de 1892. nesse mesmo ano foi passada em Jeremoabo a transmissão de propriedade. Em 2002 a escritura completou 110 anos.

O Juá foi um dos lugares mais visitado por Lampião, depois que o famoso cangaceiro atravessou vindo de Pernambuco para a Bahia, em 1928. do Juá saíram 12 homens e mulheres para as fileiras do cangaço.

A polícia perseguindo Lampião e não encontrando acabou matando João Lima, a polícia o espancou até a morte, João Lima era um homem honrado e querido por todos e pagou com a vida apenas por ter visto Lampião participar de uma festa de noivado de uma das suas filhas.

lPaulo Afonso, Bahia, 22 de Maio de 2009


 


 


 


 


 

Caríssima Diretora Maria da Penha Morais,

Diretora de Redação da Revista Na Poltrona


 

Sou fã incondicional dessa excelente revista e quando não estou viajando sempre consigo uma forma de adquirir os novos exemplares com amigos. Hoje estou escrevendo para discordar e tentar corrigir as informações passadas pelo jornalista Ricardo Beliel, lançadas na revista número 118, abril de 2009, no texto iniciado na página 16, seção turismo, com o título: Morte e Vida Cangaceira. Esse artigo já havia saído em outra revista, salvo engano na revista Terra. O Ricardo vai acabar me taxando de chato por que na outra oportunidade também respondi ao texto falando dos erros de informações por ele vinculados, porém primo pela responsabilidade relacionada aos fatos históricos preferindo ser chato a ser omisso sobre inverdades com um tema que estudo a mais de 14 anos.

No começo do texto é citado que Lampião entrou no cangaço junto com dois irmãos, o Antônio e o Livino, em resultado ao assassinato do pai e a verdade é que Lampião já era cangaceiro quando o pai foi assassinado por José Lucena.

Seguindo o texto o jornalista Beliel cita uma informação do padre escritor Frederico Bezerra Maciel onde ele dá a informação que Lampião e seu bando haviam percorrido 273 mil quilômetros pelas caatingas, informação essa sem lógica por sabermos que seria impossível esse cálculo até por que o citado escritor não acompanhou Lampião e mesmo se o tivesse feito seria impossível medir esse trajeto e se chegar a um cálculo tão preciso. Em seguida é afirmado que Lampião "celebrava missas todas as manhãs" para o grupo e andava com imagens espalhadas pelo corpo. O que sabemos na verdade é que ele rezava o ofício de Nossa Senhora junto com os companheiros ou ao amanhecer ou ao cair da tarde quando não estavam fugindo das perseguições policiais. Essa é uma tradição comum do sertanejo e missas só eram celebradas por padres e seguimentos da igreja católica, quanto as imagens espalhadas pelo corpo essa é uma informação desconhecida de quem estuda o cangaço, agora usar um crucifixo de ouro em uma corrente ou em um chapéu isso também era prática comum como comum é usar até os dias atuais.

No próximo parágrafo é dito que Lampião quando foi assassinado estava com um grupo de 50 pessoas quando sabemos que o grupo era de 30 homens e 5 mulheres, total confirmado por quem estava lá e sobreviveu pra contar a história, informações dos próprios cangaceiros a exemplo de Candeeiro, Dulce, Criança, Sila, Zé Sereno e Balão, salientando que a maioria dos companheiros ainda dormiam antes do tiroteio. Quando é citado o cangaceiro Amoroso a informação cita que ele foi o primeiro a ser baleado e na realidade o soldado que atirou em Amoroso estava tão nervoso que mesmo sendo o tiro quase a queima roupa ele errou o alvo e Amoroso só foi morrer um ano depois, com Lampião já morto.

Quando o Beliel se refere a Missa na Caatinga que acontece todos os meses de julho na Grota do Angico ele faz uma referência que uma estranha romaria de velhas senhoras com terços nas mãos misturam-se a sertanejos vestidos ao estilo de Lampião. Com todo respeito o Ricardo Beliel teve ter ido assistir essa missa em outro local, pois tenho participado de todas essas missas e não recordo essas cenas bonitas de serem transcritas no papel conflitando com a realidade vista no local. As pessoas que participam são escritores, cineastas, estudantes, fotógrafos, jornalistas, comunidade em geral e turistas.

Beliel cita um octogenário senhor que encontrou na Grota do Angico e transcreve a informação do encontro temeroso desse senhor com Lampião. Se o senhor é octogenário e a missa é relatada na revista de 2009 então o Beliel deve ter colhido as informações em 2008, contabilizando as datas citadas o octogenário nasceu em 1929 e afirma que encontrou Lampião nos idos de 1927, então com02 anos de nascido. É provável que uma criança de 02 anos de idade tenha pouca lembrança de um encontro desses e por conseqüência nada a informar a não ser de "ouvir falar", salientando que então qualquer depoimento deve ser bem analisado antes de ser levado a quem interessar possa para não se cometer distorção da história.

Mais adiante Beliel cita o nome gruta e o nome é "Grota", Gruta é uma caverna. Seguindo a narrativa o jornalista fala dos 700 metros da trilha e que a trilha "foi aberta pela polícia". Quando a polícia chegou lá a trilha já existia e também essa trilha não é o único acessa ao local como Beliel afirma, pode-se chegar lá vindo também de Poço Redondo, Sergipe, cidade onde situa-se a Grota.

Uma das entrevistadas de Beliel, a senhora Bia Grinalda fala que Benjamim Abraão fotografou Lampião próximo a Entremontes e Lampião foi fotografado por Benjamim em Canapi, distante uns 80 quilômetros, mais uma vez as informações não foram confrontadas na tentativa de se chegar o mais próximo da verdade.

O Ricardo além de relatar uma inverdade fala uma idiotice quando se refere aos índios Pankararé ferindo profundamente nosso povo quando faz uma análise totalmente desprovida da realidade existente no Raso da Catarina, dizendo que a alimentação resume-se a lagartos, cobras e roedores, apesar do local ser uma das partes mais áridas do Brasil, a dieta do povo de lá não se resume a lagartos, cobras e pequenos roedores. Apesar de aquela comunidade viver em uma localidade de difícil acesso eles plantam, colhem, criam animais, preservam, tem acesso a parabólica, escola, energia solar e estão acostumados a serem visitados por estudiosos, jornalistas, fotógrafos, escritores e aventureiros, pessoas oriundas de todas as partes do mundo. Se alguém tiver interesse em conhecer aquela comunidade eu terei a honra de acompanhá-los e com certeza verão que lagartos, cobras e roedores fazem parte sim daquele bioma, só que em total liberdade de vida e não como dieta de sobrevivência.


 


 

Deixo aqui minha contribuição para correção do registro histórico com a finalidade de levar as verdadeiras informações para o conhecimento das gerações vindouras.


 


 

João de Sousa Lima*

Escritor / Pesquisador.


 

* Membro da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Paulo Afonso, membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

Autor dos livros: Lampião em Paulo Afonso, A trajetória Guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço e Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço.


 


 


 


 


 


 


 


 

Assista o vídeo do cangaço, nesse link.


 


 

http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1039910-7824-SABIA+PRATICA+ESPORTES+RADICAIS+NA+TERRA+DE+LAMPIAO,00.html

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

João de sousa lima, escritor, participa da o lançamento da rota do cangaço, em paulo afonsoParte superior do formulário

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Folha Sertaneja - Paulo Afonso - BA
10/12/2009 - 17:56

Canion e cangaço na Oficina de Roteirização do turismo em Paulo Afonso

Antônio Galdino


 

Este ano, alguns eventos importantes para a retomada do crescimento da região a partir do turismo, aconteceram em Paulo Afonso e na região.

Em março, em seminário promovido pela Bahiatursa foi revista o zoneamento turístico do estado e criada a Zona Turística Lagos e Canions do São Francisco, sediada em Paulo Afonso, reunindo os municípios de Paulo Afonso, Glória, Abaré, Rodelas e Santa Brígida, que deixaram a ZT Lagos do São Francisco, sediada em Juazeiro.

A nova Zona Turística Lagos e Canions do São Francisco foi aprovada pelo Forum de Turismo da Bahia na reunião de 18 de março de 2009. Entre 1º e 3 de outubro, estiveram na região um diretor e assessores do Ministério do Turismo, da área de investimentos públicos e privados e se reuniram em Jatobá-PE, num primeiro momento, com prefeitos e representantes do turismo da região.

Antonio Galdino Impossível não se extasiar com este espetáculo

Ali estiveram os prefeitos de Paulo Afonso, Glória e Jatobá e representantes de Piranhas e Poço Redondo. Segundo o diretor Hermano, assessorado por José Rocha e Bruno, "esse encontro preliminar terá desdobramentos e o MTur estará bem mais presente na região". No dia 3 de outubro aconteceu a Maratona de Canoagem no cânion do São Francisco, de Paulo Afonso a Xingó.

O evento realizado numa parceira do Secretaria de Turismo da Bahia e a Prefeitura de Paulo Afonso trouxe ao município o Secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli e os deputados Lídice da Mata, José Carlos Aleluia e Luiz de Deus que fizeram, junto com o Prefeito Anilton Bastos e outras autoridades da região de grande número de jornalistas o trajeto, no Catamarã Raso da Catarina, até o Rio do Sal.

Dia 4 de outubro, a Prefeitura de Paulo Afonso realizou a 1ª procissão fluvial no rio São Francisco, no Lago Moxotó até a Prainha do Lago PA-IV, evento que entra para o calendário do município.

Antonio Galdino

Entre 16 e 19 de outubro aconteceu a Expedição D. Pedro II, a Rota do Imperador, um projeto de iniciativa privada que contou com o apoio e participação de prefeituras alagoanas(7), sergipanas(1), baianas(1) e pernambucana(1). O projeto refaz a viagem do Imperador D. Pedro II, feita em outubro de 1859, até a Cachoeira de Paulo Afonso. (veja matéria no site http://sistema.padigital.com.br//";">www.folhasertaneja.com.br).

No período de 9 a 12 de novembro foi realizado em Paulo Afonso o Seminário de Roteirização Lagos e Canions do São Francisco, organizado pela Bahiatursa, em parceria com a Prefeitura de Paulo Afonso e participação dos Estados de Alagoas e de Sergipe.

Os debates focaram a grande potencialidade turística da região, como destacou o Professor Antônio Galdino, presidente do COMTUR/Paulo Afonso, na sua palestra, mas voltaram-se especialmente para dois grandes temas, comuns à maioria dos municípios no entorno de Paulo Afonso: o cânion do São Francisco e o cangaço.

Antonio Galdino Museu Casa de Maria Bonita - Malhada da Caiçara/Paulo Afonso

Paulo Afonso possui o maior canion natural navegável do mundo, com paredões de mais de cem metros de altura e o cangaço está presente nos livros de João de Souza Lima, outro palestrante do seminário e Luiz Ruben, nas muitas andanças de Lampião pelo Riacho (Casa de Genorosa), Malhada da Caiçara, onde está o Museu Casa de Maria Bonita, Baixa do Boi, onde, na Lagoa do Mel, morreu Ezequiel o irmão mais novo de Lampião, E no Raso da Catarina, em Água Branca, em Glória, em Canindé do São Francisco e dezenas de lugares na região.

Mesmo sem nunca ter entrado vivo em Piranhas, ali foram expostas as cabeças de Lampião, Maria Bonita e sete cangaceiros, emboscados pela polícia na Grota de Angico, que está em Poço Redondo mas a sua visitação é feita pelo rio e trilha de 700 metros, por Canindé do São Francisco. Seminários como o do Centenário de Maria Bonita, realizado em março deste ano em Paulo Afonso e muitos outros que acontecem na região têm sempre uma grande participação popular para um tema que já rendeu centenas de livros, filmes, seriadas de televisão, teses de mestrado e doutourado no Brasil e no exterior.

 
 

Antonio Galdino Em Paulo Afonso, representantes de três estados nordestinos discutem o turismo regional

Para se ter uma idéia da importância ou da preferência pelo tema, os sites de consulta na internet revelam números fantásticos. A palavra cangaço, Lampião, no Google, por exemplo, leva para centenas de milhares de páginas e o nome Maria Bonita tem quase 4 milhões de páginas nesse site.

Depois de uma abertura, dia 9, no Memorial Chesf, com a presença do Vice-prefeito de Paulo Afonso, Jugurta Nepomuceno, Prefeita de Glória, Ena Vilma, do presidente da Câmara de Paulo Afonso, Antônio Alexandre e diretores de turismo da Bahia, Alagoas e Sergipe, o Seminário de Roteirização teve seqüência nos dias 10 e 11 no auditório do Hotel Belvedere e no dia 12 com passeio à Casa de Maria Bonita e de catamarã no câniom de Paulo Afonso, no Rio do Sal sendo encerrado com almoço no Restaurante Carioca, na Prainha de Paulo Afonso.

joão tavares Catamarã Raso da Catarina nas águas do Canion de Paulo Afonso - Rio do Sal

Representantes dos órgãos governamentais municipais e estaduais, empresários e profissionais da cadeia produtiva do turismo, sociedade civil de diferentes segmentos sociais, como organizações locais, associações comunitárias, instituições de ensino, organizações não governamentais (ONGs), associações comerciais, entre outros, reuniram-se para discutir a elaboração de novos roteiros turísticos integrados nos Cânions, explorando a história do cangaço, abrangendo os estados da Bahia, Alagoas e Sergipe. Assim como, avaliar os roteiros já existentes visando à sua qualificação.

A expectativa de todos os que atuam ou lutam para o desenvolvimento regional a partir da incrementação de projetos na área do turismo e de incentivos e apoios mais marcantes dos governos e investimentos na melhoria da qualidade dos serviços pelo trade é o real desenvolvimento sustentável da região a partir desse importante segmento.


 

joão de sousa lima, escritor, visita a grota do angico, 70 anos depois da morte de lampiãoParte superior do formulário

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Folha Sertaneja - Paulo Afonso - BA
09/08/2008 - 00:22

Lampião: 70 anos depois - Os 12 mortos de Angico

João de Souza Lima

Pesquisadores na Grota do Angico, local da morte de Lampião, há 70 anos

O tema Cangaço tem merecido grande atenção de pesquisadores em todo o mundo. Sobre ele existem milhões de páginas na internet e centenas de sites. Mais de quatrocentos livros já foram publicados sobre o assunto e, segundo o pesquisador João de Souza Lima, "apenas cerca de 150 deles merece credibilidade total. Outros fantasiam muitos e outros ainda estão recheados de bobagens e totalmente fora da seriedade deste tema".

O autor dos livros
Lampião em Paulo Afonso, A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, Morena & Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço e de uma cartilha sobre a restauração da Casa de Maria Bonita, João de Souza Lima atendeu ao convite da Folha Sertaneja e refez o trajeto da volante que matou Lampião, Maria Bonita e 9 cangaceiros na Grota de Angico, em Poço Redondo, onde também morreu o soldado Adrião, conhecido como Adriano.

Veja o seu relato e as histórias que contou sobre a morte de Lampião e os desdobramentos do assunto ainda hoje. (AGS)

Dia 27 de julho de 2008, eu, Antonio Galdino e a equipe do Jornal Folha Sertaneja, juntamente com Renato Oliveira Mendonça (sobrinho neto de Maria Bonita), o jornalista Glauco Araújo do G1 – Portal de Notícias da Globo, saímos de Paulo Afonso em direção a Grota do Angico, em Poço Redondo, Sergipe.

Antônio Galdino Jairo, turismólogo e Diretor de Cultura de Piranhas (com microfone) foi o anfitrião do passeio

Com nosso próximo destino sendo Piranhas, Alagoas, uma embarcação nos aguardava já tendo a bordo o Diretor local de Cultura Jairo Rodrigues, o escritor pernambucano Antonio Vilela, o documentarista cearense Aderbal Nogueira e, umas duas dezenas de pessoas interessadas no tema cangaço e em conhecer o local onde 70 anos antes havia sido dizimado Lampião e uma parte do seu grupo.

Todos reunidos, filmadoras e câmeras a postos e o barco foi desatracado do pequeno cais. A rota foi à mesma realizada exatamente 70 anos antes, pelo comandante tenente João Bezerra, o aspirante Chico Ferreira, sargento Aniceto Rodrigues e seus comandados.

Enquanto as corredeiras favoráveis impulsionavam mais rápido o barco, as imagináveis lembranças iam sendo despertadas com a visão da bela paisagem. Uma leve chuva caía, mesma cena vivida pela volante policial 70 anos passados.

Com os afluentes bicos de pedras e lajedos no meio do milenar Rio São Francisco, fica difícil entender como a polícia conseguiu descer aquelas águas em três barcos ajoujados (unidos e amarrados com cordas), durante o anoitecer e sem iluminação. O fato é que o percurso foi realizado com sucesso.

Alguns minutos depois estaríamos diante de um restaurante, já pelo lado sergipano, na entrada da Grota do Angico. Desembarcamos por uma plataforma bamba e uma tábua submersa, molhando os calçados. Reunidos no restaurante nos municiamos com água e seguimos os 800 metros na trilha que nos levaria a Grota.

Antônio Galdino A trilha tem 800 metros

Em fila indiana fomos aos poucos galgando o caminho com paradas esporádicas para entrevistas e fotos. A vereda molhada e escorregadia dificultou ainda mais o trajeto. Algumas pessoas de mais idade, cansadas, tiveram que contar com a ajuda de outros mais jovens nas subidas e descidas cheias de pedregulhos.

Alguns versos da época do cangaço iam sendo recitados. No caminho encontramos três ciclistas que faziam o caminho inverso, oriundos de Canindé do São Francisco, Sergipe.

Com uns respirando acelerado, outros cansados e mais alguns exaustos, sem contabilizarmos alguns tombos sofridos, chegamos ao local onde duas cruzes e uma placa com os nomes dos cangaceiros marca o local que ficou eternizado por ser o ponto da morte de Lampião, o Rei do Cangaço.

Fotos eternizaram a visita e fatos sobre as mortes foram esclarecidos, discutidos e analisados naquele momento.

Antônio Galdino Escritor João Souza Lima, na Grota do Angico, em Poço Redondo-Se

Entre a conversa em torno das cruzes comentamos a falha do tenente João Bezerra que sendo o comandante do grupo que matou os cangaceiros, retornou lá, na década de 70 e em homenagem aos cangaceiros mortos deixou uma cruz grande tendo o detalhe de dez pequenas cruzes, totalizando onze, que foi a quantidade de cangaceiros abatidos, esquecendo o policial de prestar também sua homenagem (e talvez a mais justa) ao soldado Adrião, que foi o único soldado morto no tiroteio.

A velha cruz colocada pelo tenente foi tempo depois retirada por Vera Ferreira (neta de Lampião e Maria Bonita) e ela vem sofrendo vários pedidos de historiadores que assinaram um manifesto para que devolva a peça para seu devido lugar.

No local o escritor Antonio Vilela, que é evangélico, foi convidado para fazer uma oração e como ele deixou claro, não contrariando sua fé, orou apenas pela nossa segurança, saúde e a amizade estabelecida naquele ambiente. Ambiente tão cheio de histórias e controvérsias.

Antonio Galdino e sua equipe (Ricardo e Nícolas) e Glauco Araújo realizaram seus trabalhos jornalísticos, documentando entrevistas com suas câmeras e aí chegou o momento de retornarmos.

Antônio Galdino doces - referências ao cangaço

O grupo pôs novamente os pés no caminho argiloso e escorregadio de pedras tantas e soltas. No trajeto uma pausa para fotografar um preá que morreu espetado nos espinhos de um mandacaru. O caminho de volta foi vencido, chegamos ao restaurante onde degustamos um tucunaré acompanhado de uma gostosa comida caseira, ainda discutindo sobre os onze cangaceiros e o soldado Adrião, os mortos da Grota do Angico.

Em partes restabelecidos do cansaço e em todo da fome nos dirigimos para a embarcação. Tiramos os calçados e enfrentamos dessa vez a plataforma de subida totalmente submersa.

Antônio Galdino Rota de Angico, pelo rio São Francisco

Contra a correnteza começamos o mesmo trajeto também feito pela volante policial. Para trás ficou a Grota do Angico, há 70 anos passados onze cabeças e um corpo subiram as corredeiras do Velho Chico, em barcos rusticamente manobrados por experientes canoeiros, enquanto onze corpos degolados ficavam no silêncio do Riacho do Angico, onde a fumaça e o cheiro da pólvora impregnavam o ambiente antes acolhedor de um sono vacilante, de uma história que teima em não calar, talvez por ser hoje parte da história do nosso Brasil.

Hoje, 28 de julho de 2008, exatos 70 anos das mortes enquanto escrevo estas memórias o pensamento retorna aquela Grota e diante de tantos depoimentos deixados, alguns fantasiosos e outros tantos por quem realmente vivenciou o momento.

Sinto que apesar de 70 anos do ocorrido, ainda é cedo, muito cedo para análises precipitadas e julgamentos tendenciosos e defendo a releitura histórica apenas pelo valor histórico dos fatos acontecidos e não por críticas preconceituosas que possam ferir a nossa imagem de Sertanejo-Nordestino tão avaliada e avariada por "Doutores" que não conhecem a nossa realidade e são formados com suas teses através de conhecimentos de gabinete, sem nunca ter pisado a verdadeira escola do homem do campo.

Antônio Galdino A visão de Piranhas, no retorno

Sabe lá quantos mistérios se escondem naquela manhã úmida e fria de 28 de julho de 1938? Nos resta saber que hoje, 28 de julho de 2008, doze corpos restaram naquele fatídico dia e o silencio ainda impera enigmático e ao mesmo tempo ensurdecedor.

A história continua lá, as cruzes marcam e lembram o momento, o tempo eterniza a história.

João de Sousa Lima, coordenador geral do Seminário do centenário de maria bonitaParte superior do formulário

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Folha Sertaneja - Paulo Afonso - BA
12/03/2009 - 02:40

Folha Sertaneja - ESPECIAL - MARIA BONITA e o cangaço: cem anos de História

Antônio Galdino

Benjamim Abrahão Maria Bonita na caatinga posando para Benjamim Abrahão

UNEB e Prefeitura de Paulo Afonso realizam seminários do Centenário de Maria Bonita

A temática do cangaço e a vida de Lampião têm merecido estudos cada vez mais intensos. Nas universidades, é tema de mestrados e doutorados pelo mundo afora. A literatura, e desde a sua contemporaneidade, os folhetos de cordel, espalham os feitos do Rei do Cangaço e de muitos dos cangaceiros que cruzaram o Nordeste desafiando o Brasil Oficial ou a seu serviço.

O cinema, ao longo de décadas, tem mostrado a figura do cangaceiro, real ou caricata, para consumo de milhões de pessoas, como O Cangaceiro, de Lima Barreto, de 1953, com diálogos de Raquel de Queiroz, o primeiro filme sobre o tema cangaço e ganhador de vários prêmios internacionais, inclusive o Festival de Cannes daquele ano. Na internet, o tema ganha milhões de páginas, milhares de sítios (sites).

Tão intensa é a procura pelo assunto que, ao lado de escritores e estudiosos sérios têm aparecido oportunistas que criam fatos e enredos gerando conflitos entre a verdadeira história e as invencionices mais absurdas que povoam o imaginário popular.

Benjamim Abrahão Posando, no meio da caatinga

E a história ganha contornos contraditórios, o que leva o jornalista e professor de História da UFP, Mário Hélio a afirmar que "há, obviamente, um Lampião real, e um outro, muito mais vivo e forte que este, mítico." E acrescenta, na Apresentação do livro "De Virgulino a Lampião" de Vera Ferreira e Antônio Amaury, que "ainda está aberto a exame o que há de mítico e de real em Lampião e no cangaço, num trabalho de história comparada, interdisciplinar pela sua própria natureza".

Se o tema "cangaço" ou "Lampião" merece milhões de páginas em sites como o Google, bem menor tem sido o espaço dedicado ao estudo da presença da mulher como parte integrante desse universo.

O escritor Antônio Amaury, em seu livro "Lampião: as MULHERES e o Cangaço", DE 1984, mostra, segundo Franklin Maxado ao apresentar este livro, "o lado sexual ou o das mulheres no cangaço, lado pouco explorado desse mundo".

Em 1997, Ilda Ribeiro de Souza, a cangaceira Sila, assina o livro "Angico, eu sobrevivi – confissões de uma guerreira do cangaço". Mais adiante, em 2003, Antônio Amaury destaca a importância da cangaceira Dadá, valente, guerreira, companheira do "Diabo Louro" e sua privilegiada memória que lhe permitiu conseguir informações importantes sobre o cangaço nos muitos meses em que ela foi sua hóspede, em São Paulo e escreve "Gente de Lampião: Dadá e Corisco".

Mais recentemente, em 2005, João de Souza Lima focou suas pesquisas em Maria Bonita, e escreveu "A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço" e em 2007 escreveu "Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço".

Benjamim Abrahão Maria Bonita, o sorriso da guerreira

E o que dizer de Maria de Déa, Maria Bonita, a Rainha do Cangaço, que ousou deixar um marido com quem se casara ainda adolescente, rompeu os paradigmas de sua época, abandonou os costumes, tradições e feriu a honradez da família ao optar em acompanhar Lampião e viver uma vida de confrontos com a polícia, fugas pela caatinga, sem a paz suficiente para manter vivos em seu ventre os filhos gerados e poder sequer ser a mãe presente na vida de sua menina, Expedita, criada por amigos?

Como compreender essa mulher que nasceu em 8 de março de 1911, data em que se comemora, em todo o mundo, o Dia Internacional da Mulher?

A ela, quando mandou de volta o irmão que queria entrar no cançaço é atribuída a frase: "desgraçada por desgraçada aqui, basta eu". O Cangaço, especialmente para as mulheres, era um caminho sem volta?

Foi para buscar mais compreensão sobre a trajetória de Maria Bonita que a Universidade do Estado da Bahia e a Prefeitura de Paulo Afonso uniram suas forças, buscaram parceiros, convidaram estudiosos do tema e promovem o I Seminário Internacional – O Centenário de Maria Bonita.

A grandiosidade do tema levou um grupo de estudiosos de Paulo Afonso, como o Professor/Doutor Juracy Marques, atual diretor da UNEB – Campus VIII, os escritores João de Souza Lima, Luiz Ruben, Antônio Galdino, também diretor do jornal Folha Sertaneja, Roberto Ricardo, presidente do IGH, Glória Lira, atual diretora de Cultura da Prefeitura, Professor Edson Barreto, a trabalhar a idéia de se fazer o Seminário Internacional – O centenário de Maria Bonita, nesses três anos, até 2011.

A idéia, que se arrasta desde 2007, tomou mais impulso pela receptividade que encontrou na atual gestão municipal, na Secretaria de Turismo e seus departamentos de Cultura, Turismo e Eventos.

Organiza-se então o I Seminário, em 2009, no período de 3 a 8 de março, reunindo pesquisadores e estudiosos da região. Haverá debates com escritores regionais, exibição de documentários, exposição de livros, revistas e jornais sobre o tema, além de apresentação de musicais e encenação teatral.

E há interesse de participação, nos próximos seminários, de pesquisadores franceses e alemães e cineastras e grandes empresas de comunicação, tendo em vista a grandiosidade do tema. O evento, organizado pela UNEB – Campus VIII e Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, conta com o apoio da Chesf, Sesc Ler, 1ª Cia de Infantaria, IGH, SEBRAE, SBEC e jornal Folha Sertaneja

Nos anos seguintes o II Seminário, em 2010 e o III Seminário em 2011, terão uma dimensão muito maior, realmente internacional.

Lampião andou por sete estados nordestinos Paulo Afonso – território privilegiado, habitat natural de cangaceiros

A região de Paulo Afonso possui um cenário privilegiado onde se podem encontrar centenas de pessoas que ainda falam, por conhecimento próprio ou por conhecerem de familiares contemporâneos de Lampião e Maria Bonita, sobre os movimentos dos cangaceiros e das volantes por estas terras.

Nos vários povoados do município de Paulo Afonso e ainda em Glória e outras cidades vizinhas, o escritor João de Souza Lima, autor de "Lampião em Paulo Afonso", "A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço" e Moreno e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço", encontrou-se com dezenas de cangaceiros, coiteiros, seus parentes e descendentes e guarda com carinho muitas horas de entrevistas em áudio e vídeo com depoimentos que ajudam a conhecer um pouco mais da vida dos que faziam parte dos vários bandos de cangaceiros e dos que militavam nas tropas das volantes que andavam no seu encalço.

O escritor possui também farto material pertencente aos cangaceiros e volantes que estarão sendo no acervo do Museu Regional do Sertão que será construído pela Prefeitura Municipal de Paulo Afonso. Pessoas como a cangaceira Aristéia Soares de Lima que nasceu em 23 de junho de 1916 em Capiá da Igrejinha, no município de Canapi, Estado de Alagoas e que, embora nunca tenha conhecido Lampião, percorreu a caatinga alagoana no Bando de Moreno e Durvinha e conta histórias dos tiroteios e das fugas no sertão tem acompanhado João Lima em suas palestras pelo Brasil.

Hoje, beirando os 93 anos, lúcida, alegre, mora no Jardim Cordeiro, ao lado da Ponte D. Pedro II onde recebeu, em 18 de fevereiro de 2009, a reportagem da Folha Sertaneja, levada pelo escritor João de Sousa Lima, e nos concedeu longa entrevista.

Na preparação desta matéria especial, sempre acompanhado do escritor João de Sousa Lima, fomos a Carqueja, município de Floresta. Ali mora o Ten. João Gomes de Lira um dos mais ferrenhos perseguidores do bando de Lampião. Homenageado pelos seus feitos, com diplomas e comendas, o Ten. João Gomes ainda guarda com todo zelo e cuidado a arma e a farda que usou nas muitas léguas percorridas no sertão à busca do cangaceiro e seu bando.

O que viu está registrado em dois volumes do livro Memórias de um Soldado da Volante, publicados em 2007 pela Prefeitura Municipal de Floresta. Chegando aos 96 anos, o Ten. João Gomes Lira também nos recebeu em sua casa e sua memória privilegiada nos contou passagens dessa luta na dureza da caatinga.

Quem foi Maria Bonita?

Benjamim Abrahão Maria penteia os cabelos de Lampião

Em 8 de março de 2011 faz 100 anos que uma mulher, sertaneja, guerreira, nasceu na Malhada da Caiçara, hoje no Município de Paulo Afonso. Maria Gomes de Oliveira, filha de José Gomes de Oliveira, conhecido como José de Felipe e de dona Maria Joaquina Conceição Oliveira, conhecida como Dona Déa. A criança ficou conhecida como Maria de Déa e como é ainda hoje muito comum nas terras sertanejas, casou muito cedo, com apenas 15 anos, com um primo, José Miguel da Silva, conhecido como Zé de Neném.

O casamento atribulado, de muitas brigas e separações, pode ter favorecido a virada na vida da sertaneja da Malhada da Caiçara. Decidida e com o apoio da mãe, mesmo contra a vontade do pai, aceita o convite e acompanha Lampião em suas peripécias pelo sertão. Deixou de se chamar Maria Gomes ou Maria de Déa.

Passou a ser chamada de Maria de Lampião ou Maria do Capitão e se consagrou na literatura, nas canções da época, nos filmes e documentários, nas teses de mestrado e doutorado pelo mundo como Maria Bonita, a Rainha do Cangaço.

Destemida nas lutas diárias, companheira inseparável de Lampião, sabia impor respeito e a sua presença no bando trouxe mais leveza, mais feminilidade à aridez do sertão e dos homens do grupo. Há relatos que a sua intervenção, o seu instinto maternal ajudou a salvar vidas de homens que estavam na mira do mosquetão ou na ponta do punhal.

Coincidentemente Maria Bonita nasceu no Dia Internacional da Mulher e a amplitude do tema, o que representou a sua presença forte dentro do cangaço, numa época em que a mulher não possuía nenhum direito, a sua coragem de deixar um casamento desestruturado, uma família que regia seus atos debaixo de rigorosos conceitos de honra, continua merecendo estudos, livros, debates, seminários.

Lampião, Maria Bonita, o Cangaço: Um mito, uma lenda, uma grande história

Benjamim Abrahão Maria Bonita e Lampião

Passados 110 anos do nascimento de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião e 70 anos de sua morte cresce a cada momento o interesse de estudiosos e pesquisadores do mundo inteiro em conhecer mais sobre esse sertanejo, menino nascido na aridez da caatinga nas terras de Vila Bela, hoje Serra Talhada, em junho de 1898.

Certamente teria sido mais um sertanejo anônimo, tocador de roças, sofredor das secas, sonhador com a fartura das invernadas, não tivesse ele vivido, "num ambiente de violência gerada pela disputa de terras entre famílias inimigas daqueles lugares", como diz sua neta Vera Ferreira. Muito já se escreveu sobre ele e são inúmeras as formas como é analisado pelos que se aprofundam no tema. Temido por muitos, amado por outros tantos, sua figura virou um mito e um mito nunca morre.

A sua coragem, a determinação e os apoios que sempre recebeu de importantes coronéis da época, de poderosos do governo e do Pe. Cícero Romão Batista, o fez sobreviver às agruras do sertão. Andou por quase todos os Estados Nordestinos, -Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Sergipe, Alagoas e Bahia, com seu bando que variava de tamanho e se dividia em outros muitos de acordo com esta sua necessidade de sobrevivência.

Exímio estrategista ganhou respeito dos que formavam o seu bando. Autores sérios falam de técnicas por eles utilizadas nos combates e nas fugas que deixavam malucos os soldados que se embrenhavam pela caatinga, à sua procura. Por isso que os que pesquisam com seriedade sobre Lampião refutam a informação publicada por outros escritores de que a Furna dos Morcegos, existente na margem alagoana do cânion do rio São Francisco, ao lado da Cachoeira de Paulo Afonso, teria sido um dos seus coitos. Argumentam esses historiadores, entre eles João de Sousa Lima, que a Furna dos Morcegos tem apenas uma entrada e saída de difícil acesso e que, ao seu lado funcionava, até 1961, a Usina Angiquinho, com trabalhadores se movimentando a todo momento o que faria do coito um alvo fácil para a polícia.

Em entrevista publicada no site mantido pela neta de Lampião, Vera Ferreira e no seu livro "De Virgulino a Lampião" ele, que foi almocreve e tinha inegável habilidade no trabalho com o couro, diz "Estou me dando bem no cangaço e não pretendo abandona-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso trabalhar ainda uns três anos... Depois, talvez me torne comerciante".

As muitas histórias sobre Lampião chamado pelo poeta Ivanildo Vilanova de "herói, bandido e louco", levou sua neta Vera Ferreira a escrever, com o escritor Antonio Amaury o livro "De Virgulino a Lampião", "parte da história desse nosso personagem passada a limpo", como escreveu na dedicatória ao exemplar que me ofereceu.

Outro escritor sobre Lampião, Oleone Coelho Fontes, em "Lampião na Bahia" diz que "Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi quem introduziu o cangaço na Bahia. Sabe-se até a data em que o fenômeno aconteceu, fato singularíssimo na história: 21 de agosto de 1928, depois do meio-dia".

E acrescenta Oleone: "Verdade é que se Lampião nunca tivesse invadido a geografia baiana jamais teríamos tido aqui o fenômeno cangaceirismo que assolou de modo endêmico o outro lado do rio."

E foi do outro lado do rio São Francisco, nas terras baianas onde Lampião reinou absoluto por mais 10 anos. Foi do lado baiano do rio São Francisco que Lampião encontrou um coito seguro no Sítio do Tará, apoiado por "um dos maiores criadores da região, o Sr. Odilon Martins de Sá, conhecido por Odilon Café", como narra João de Sousa Lima em seu livro "A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço".

Nesse livro, que será lançado no I Seminário do Centenário de Maria Bonita, João diz ainda que o "Sítio do Tará passou a servir de base quando os cangaceiros empreendiam suas viagens aos estados de Alagoas e Sergipe" e que ali também morava "um dos principais coiteiros de Lampião, Antônio Felipe de Oliveira, tio da cangaceira Maria Bonita".

Diz ainda João Sousa Lima que nessas andanças para Alagoas e Sergipe, "Lampião passava pela Malhada da Caiçara, onde morava Maria de Déa, que tinha casado com apenas 15 anos e estava separada do marido, Zé de Nenen." "Numa dessas viagens, diz João, Lampião, que seguia um pouco à frente do seu bando, acompanhado de Odilon Café, pisou o batente da casa de Zé Felipe e Dona Déa.

Odilon apresentou a Lampião Maria de Déa". Segundo esse autor, aconteceu ali, nesse primeiro encontro, o seguinte diálogo:

 - Você sabe bordar?

- Sei.

- Vou deixar uns lenços pra você bordar e volto daqui a duas semanas pra buscar!"

"Dias depois, de surpresa, os cangaceiros reaparecem na Malhada da Caiçara. Lampião recebeu os lenços bordados por Maria de Déa e suas irmãs, pagou o trabalho e tiveram uma longa conversa". João acrescenta que "quando Maria decidiu seguir Lampião ela estava no povoado Rio do Sal, cuidando da saúde de sua avó materna, Ana Maria".

Todas estas localidades – Sítio do Tará, Malhada da Caiçara, Rio do Sal e dezenas de outras citadas nos livros de João e de outros autores, estavam no lado baiano do Rio São Francisco e pertenciam ao município de Santo Antônio da Glória. Depois da emancipação política de Paulo Afonso em 28 de julho de 1958 passaram a fazer parte do território deste município.

A casa onde nasceu Maria de Déa, depois internacionalmente conhecida por Maria Bonita, na Malhada da Caiçara, a 38 quilômetros da cidade de Paulo Afonso, foi restaurada na gestão do Prefeito Raimundo Caíres, sob a supervisão de Luiz Rubem, outro escritor/pesquisador dos feitos dos cangaceiros na região e aberta à visitação em Setembro de 2006.

Aristéia Soares de Lima - ex-cangaceira

Antonio Galdino ex-cangaceira Aristéia Soares, 93 anos

A ex-cangaceira Aristéia Soares de Lima, que nasceu em 23 de junho de 1916, recebeu a reportagem do jornal Folha Sertaneja, levada pelo escritor João de Souza Lima, na casa do seu filho, no Jardim Cordeiro, no lado alagoano do Rio São Francisco, logo após a Ponte D. Pedro II.

Sempre alegre, sorridente, contas histórias dos tempos em que viveu no Bando de Moreno e da sua grande amizade com Durvalina, a cangaceira Durvinha, sua mulher.

Folha Sertaneja: Onde a senhora nasceu, D. Aristéia?

Aristéia - Nasci em Lajeiro do Boi, em Capiá da Igrejinha, em Canapi – Alagoas.

Folha Sertaneja – Porque virou cangaceira?

Aristéia - Entrei nessa vida porque ou a gente corria ou o cacete comia. A vida da polícia era matar o povo, esbagaçar com tudo. Nós sofremos muito por causa da polícia, meu pai apanhou tanto. Até morrer, meu irmão viveu com uma orelha faltando um pedaço de uma coronhada de mosquetão dado por um soldado. A polícia perseguia a gente que só o diabo. Eu vivia correndo com medo da polícia, me escondendo na caatinga, fui pra casa de uma tia lá dentro da caatinga. Óia, nós sofremos muito.

Folha Sertaneja – Aí, resolveu entrar pro cangaço...

Aristéia – Foi. Pro bando de Moreno.

Folha Sertaneja/João – No tempo em que estava nesse bando, tinha outras mulheres?

Aristéia – Só era eu, Durvinha e outra mulher, Quitéria, filha de Zé Demézio lá do Barro Branco.

Folha Sertaneja – E esse bando tinha quantas pessoas?

Aristéia – Seis ou sete depois ficamos sós nós quatro. Mreno, eu, Durvinha e Cruzeiro.

 Folha Sertaneja – Como era a amizade do povo no bando. Sua amizade com Durvalina?

Aristéia – Durvinha, eita! (suspiro) A Durvalina era boa com a gente! Seja ela pra Jesus Cristo!

Folha Sertaneja/João – As fotos que Benjamin Abrahão fez de Lampião foram perto da roça do seu pai. A senhora conheceu Benjamin?

Aristéia – Ele andava lá na casa de uma velha, mãe de Otacília e a bicha tinha uma vontade tão grande que ele se casasse com ela. Mas oh bicho feio. Andava com uma bolsinha, uma atiracolo, assim de lado. Eu me lembro da bolsinha dele. Quando ele ia dormir lá não era pra ir nem lá na casa nem pra casa do meu tio. Não era pra andar de jeito nenhum. Ela tinha um ciúme danado, pra fia casar com ele. Mas logo, logo, mataram o Benjamin em Pau Ferro.

Folha Sertaneja – A senhora conheceu Lampião ou tinha vontade de conhecer?

Aristéia – Não conheci, nem nunca tive vontade de ver ele. Nenhum pingo de vontade.

Folha Sertaneja – A senhora também não conheceu Maria Bonita?

Aristéia – Não senhor, eu vi ela ali no retrato mas não achei essa boniteza demais não. A Durvinha era em primeiro lugar mais bonita das que eu todinhas. E vi Neném, mulher de Português, a de Pancada, que era doida, Dada, de Corisco, Nacinha de Gato...

Folha Sertaneja/João – A senhora estava na hora do tiroteio em que Cícero Garrincha foi baleado?

Aristéia – 'Tava, tava eu e um rebanho e nós corremos. Moreno foi quem ficou danado atirando. Nós corremos pra bem longe e ele caminhou muito. Quando já tava escuro ele caiu e ficou gemendo e pedindo água mas onde é que a gente ia buscar água pelo amor de Deus? Aí Durvinha tinha um frasco de água de cheiro e botava um pouco na boca dele mas ele logo morreu.

Folha Sertaneja – A senhora chegou a ser presa?

Aristéia – Não senhor. Eu fiquei debaixo de ordem, no mês de Maio. Em Julho, mataram Lampião.

Folha Sertaneja/João – E como foi que a senhora saiu do cangaço?

Aristéia – Porque mataram os do grupo que tava comigo aí Moreno disse: Quer ir embora? Eu disse: Quero. Aí ele disse – Vá embora com Deus e Nossa Senhora pra onde tá sua família. A minha família era em Santana, Campo Grande. Aí, eu fui embora. 'Tô morando há 4 anos aqui, com meu filho, netos, já tenho uma tataraneta mas sinto muita saudade da minha casinha lá no Capiá e de vez em quando eu vou lá.

(LEIA: "Moreno e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço" – João de Souza Lima – Editora Fonte Viva – Paulo Afonso-BA – 2007)

Tenente João Gomes de Lira

Antonio Galdino Ten. João Gomes de Lira, 95 anos

Saímos de Paulo Afonso, para Carqueja, antiga Nazaré, onde houve a maior repressão a Lampião na época do cangaço. As volantes que saíam dali eram conhecidos como "os nazarenos".

Acompanhado do escritor João de Souza Lima fomos conhecer e gravar um entrevista com o Ten. João Gomes de Lira, um dos últimos remanescentes daqueles tempos.

Nascido em 3 de julho de 1913 na Fazenda Genipapo, distrito de Nazaré do Pico – Carqueja – Município de Floresta/PE nos recebeu com a peculiar simpatia do sertanejo, com direito a lanche e boas conversas. A sua casa, muito procurada por pesquisadores até do exterior, é quase um museu.

Ali está a farda dos seus tempos de combatente e, guardada a sete chaves, a sua Winchester 44, cuidada pelo caseiro e pelo filho. Fotos do tempo de militar da ativa, diplomas e homenagens estão espalhados pelos móveis e paredes da casa. O velho tenente nos recebeu na frente da casa, debaixo de uma frondosa árvore e nos contou, sem nenhum rodeio a sua versão dos acontecimentos, que estão publicados em dois volumes, com mais de 700 páginas com o título: "Lampião – Memórias de um Soldado de Volante".

Primeiro falou de seu estado de saúde: "Minha saúde não anda boa, embaraçada. Diabetes, nervos, coração" mas logo começou a relator o que viu nesses anos de luta.

 Deixamos que ele falasse e um dos fatos que narrou com detalhes foi a chegada de Lampião, Antônio e Livino, distribuídos estratégicamente no lugarejo.

Ten. João Gomes de Lira – Aí, eles chegaram. Os três irmãos, todos armados. Lampião acolá, Antônio aqui e Livino ali do outro lado. Lampião ficava jogando o rifle pra cima e aparando e gritava: - Aqui hoje não me chora ninguém! Aí, Antônio respondia: - Se chorar eu acalento! E Livino respondia: - Bem baixinho! E ficavam repetindo.

Aí pai, (Antônio Gomes Jurubeba, que era Delegado) chamou eles e disse: - Não façam isso não. Hoje é dia de feira, vocês armados assim, o povo tá todo apavorado. Guardem as armas, vocês têm os inimigos lá, na Serra Vermelha. Aqui vocês não têm inimigos. Eles não vêm aqui e vocês podem ficar à vontade. E Lampião disse: - Pode dizer ao delegado que as armas estão guardadas nas nossas mãos e nos ombros. Pode vir tomar. E pai disse: - Isso não é modo de se falar com Delegado. E Lampião disse: É isso mesmo!

Então pai falou: Se daqui a oito dias vocês voltarem com as armas podem se preparar pra gente trocar tiro aqui no meio do povo. Aí Lampião disse: - Junte seus cachorros e jogue em cima dos Ferreira pra você o peso dos Ferreira como é. Foi aí o começo da questão aqui, em 1917.

E continua, seguro, o Ten. João Lira: - Passados uns dias, eles foram pra Triunfo e dias depois resolveram vir pra cá. Os três irmãos Ferreira e mais outro cabra, também armado.

 O pai de Lampião foi encontrar-se com eles e pediu pra não vir que aqui tinha soldados. Depois de muita insistência Lampião insistindo até que foi convencido de não entrar e saiu aqui por trás. Ali deram um tiro e a polícia foi ao encontro deles.

Meu pai juntou mais alguns parentes que tinham armas e foram ajudar a polícia. Eram os Flor, Euclides, Odilon, Arcôncio, Cícero Leite e trocaram tiros. Foi quando Livino Ferreira foi ferido. Os outros correram e Livino foi preso e levado para Floresta. Foi aí que o pai deles resolveu se apressar em vender as coisas pra ir embora.

O Ten. João Lira fala sobre o casamento de Licor, com quem Lampião tinha namorado mas veio para o seu casamento e teria carregado a sanfona e com isso acabado a festa. Falou da morte da mãe de Lampião, Maria Lopes "de aperreio" e do assassinato do pai José Ferreira dos Santos.

E a prosa continuou por quase uma hora, com episódios de enfrentamentos da força policial contra os cangaceiros, inclusive um de 1º de agosto de 1923. O ten. tinha então 10 anos. Em 16 de julho de 1931, com 18 anos entrou na carreira militar e já seguiu para a Bahia para atender um pedido de apoio do governo baiano. Seu comandante era o parente e compadre Manoel de Souza Neto sob as ordens de quem participou de muitos combates com o grupo de Lampião.

(LEIA: - "Lampião – Memórias de um Soldado de Volante" – Vol. I e II – João Gomes de Lira – editado pela Prefeitura Municipal de Floresta-PE - 2007)