sexta-feira, 27 de abril de 2012

DESCOBERTA EM JEREMOABO UMA IRMÃ DO CANGACEIRO CRIANÇA.


DESCOBERTA EM JEREMOABO UMA IRMÃ DO CANGACEIRO CRIANÇA.


          Jeremoabo é uma cidade histórica e muito antiga, durante a Guerra de Canudos a cidade serviu de base para uma das companhias do Exército que atacaram o Conselheiro e os Conselheiristas. Em 1739 o Garcia D’Ávila doou uma grande extensão de terras para a construção da Matriz. A povoação tem em suas origens as tribos de Índios Massacará, Cahimbés e Cariris. Abastecida pela cristalina água que jorra da fonte da Pedra Furada e banhada pelo Vaza Barris.
          Jeremoabo também foi palco da repressão ao cangaço, formando em suas comunidades volantes policiais que perseguiam sem tréguas os cangaceiros, sendo uma das mais famosas a volante comandada por Zé Rufino, um dos maiores matadores de cangaceiros. A cidade serviu de repressão ao mesmo tempo em que foi  uma base de proteção através de um dos grandes coronéis daquela época, o famoso coronel e político João Sá.
              Jeremoabo foi uma das cidades onde mais se entregaram cangaceiros depois da morte de Lampião, várias fotografias mostram esses cangaceiros na companhia de padres e policiais. Um dos grupos que se entregou em Jeremoabo foi o grupo do cangaceiro Criança. Criança aparece em fotografia ao lado de sua companheira Dulce (ainda viva e residindo em Campinas, São Paulo), Balão e Zé Sereno.
          Criança depois que foi liberado seguiu para o estado mineiro e posteriormente até o estado de São Paulo. Pouca coisa ficou gravada sobre esse cangaceiro e seguindo seu rastro fui encontrar em Jeremoabo, justamente na cidade de repressão ao cangaceirismo, residindo uma Irmã sua. 
          Joana Matilde Conceição, com 89 anos de vida, encontra-se lúcida e relembra emotiva dos tempos árduos quando com apenas 10 anos de idade viu o irmão João entrar para o cangaço.
         Manuel Lourenço Xavier e Maria Matilde da Conceição, pais de dona Joana, residiam no sítio Poço Grande, em Macururé, no alto Sertão baiano. Com as perseguições policiais e os maltrato sofridos, a família teve que fugir e atravessaram o Rio São Francisco, saindo da Barra próxima a Curral dos Bois chegando a Belém do São Francisco, Pernambuco, indo por fim se arrancharem em Santa Maria, povoação entre Belém e Floresta.
         Na fuga para o estado pernambucano a família deixou as criações e em um dia de sábado João e os primos Pedro e Feliciano retornaram para tentar reunir e alimentar os animais. Os três jovens não retornaram no prazo determinado. Maria Matilde ficou apreensiva com a falta de noticias dos rapazes.
         Em um dia de feira  na cidade de Belém, Maria e a família se encontrou com  Vicente Baldo da Silva, que era irmão da matriarca e tio de João. Vicente deu a péssima notícia: João e os primos haviam entrado para o cangaço. Maria chorou copiosamente, a família se abraçou e a pequenininha Joana, com seus dez anos de idade não compreendia a situação. Vicente só não contou que foi ele quem ajeitou a entrada dos jovens para o cangaço.
       João ganhou no cangaço o apelido de Criança por ser o mais jovem dos três rapazes, o primo Pedro ficou sendo conhecido como Canjica e Feliciano foi apelidado de Zabelê.
         Dona Maria estava com os filhos Joana, Luiz Lourenço Xavier, Januário e Rosendo estavam na Fazenda Pinhão, próximo  a Cabrobró e ficaram sabendo das mortes dos primos Canjica e Zabelê e atravessaram o Rio para Macururé para confirmarem a notícia. Em Macururé as cabeças dos dois cangaceiros foram expostas e a pequena  Joana foi proibida de olhar os “Troféus Macabros” . Confirmado a morte dos dois familiares só restou a Maria rezar para a proteção do filho João que ainda estava na vida cangaceira.
          Com a morte de Lampião Criança se entregou em Jeremoabo junto com mais alguns companheiros.  Na cadeia o padre Magalhães aproveitou para realizar o casamento de Criança e Dulce, o matrimônio sagrada unia sob as grades da prisão dois bandoleiros das caatingas nordestinas.
         Em 1968 Joana seguiu com o filho Dudú até São Paulo para visitarem João, o ex-cangaceiro Criança. No reencontro João se emocionou ao avistar a irmã que havia deixado ainda criança. O momento serviu para aliviar a saudade que por tanto tempo afligiu aquela menina-mulher, que em um dia de feira viu sua querida mãe verter lágrimas pela ausência de um filho amado que seguiu para as hostes do cangaço e na imensidão das caatingas viu a morte passar próximo e o sangue manchar a terra seca.
          Dona Joana, mulher forte, baraúna sertaneja, flor de cacto que aflora mesmo diante das intempéries, anjo-mulher, que tuas dores sejam aliviadas pelo simples dom de ser uma mulher que aprendeu a amar a vida sem temer as adversidades. Tenho muito orgulho de tê-la conhecido, de ter rastreado suas histórias de vida, de ter conhecido teus segredos tão bem guardados no cofre da memória.



João de Sousa Lima*
Jeremoabo/ Paulo Afonso, dias 23,24 e 25 de abril de 2012.

*Historiador/Pesquisador e Escritor
Membro da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço.
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso, cadeira nº 06.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Raso da Catarina: Reserva Ecológica cercada de histórias e Mistérios.



A Estação Ecológica do Raso da Catarina é uma estação ecológica brasileira, localizada entre o rio São Francisco e o rio Vaza Barris. É a  região mais seca do estado da Bahia, com pluviosidade de no máximo 600 mm por ano. Administrada pelo IBAMA, está a 60 km de Paulo Afonso, em lugar de difícil acesso. Ocupa uma área de 105.282,00 hectares em uma zona de transição entre o clima árido e semi-árido. A vegetação é composta por caatinga arbustiva. É uma região cheia de história: foi palco da Guerra de Canudos e, devido à dificuldade de acesso, era esconderijo de cangaceiros. Vários índios da tribo Pankararé entraram para o cangaço, sendo mais famoso o casal Gato e Inacinha.
O objetivo da Estação ecológica é proteger o ecossistema e permitir o desenvolvimento de pesquisas científicas da fauna e da flora nela existentes. É o lar da arara-azul-de-lear, animal ameaçado de extinção. É administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio diversidade (ICMBio). O acesso é restrito a finalidades educacionais e científicas. Depende de autorização prévia.




Suas formações rochosas indicam que o Cânion seco já foi mar ou braço do Rio São Francisco.




O Raso da Catarina é cercado pelas cidades de paulo Afonso, Rodelas, Chorrochó, Macururé, Canudos e Jeremoabo.



Pesquisadores de vários países realizam suas pesquisas nesse bioma único e belo.

o Dedo de Deus é um dos cartões postais do Raso da Catarina.
12 quilômetros de Cânion revelam uma infindável formação de desenhos em seus paredões.
lugar onde a natureza deixou sua perfeição

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A CRUZ QUE FALTAVA NA HISTÓRIA DO CANGAÇO - por Edson Barreto

 
A CRUZ QUE FALTAVA NA HISTÓRIA DO CANGAÇO
“Se a cruz pesada for, Cristo estará contigo”.
(Padre Marcelo Rossi)


Por: Edson Barreto

Cruz, do latim cruce, é utilizada por diversas religiões, principalmente a cristã. Usada, antes mesmo da morte de Cristo; os romanos a usavam como método de tortura para punir escravos, criminosos e subversivos. Cientificamente significa instrumento de suplício. Para lembrar a morte de alguém, geralmente uma cruz é posta sobre a cova ou túmulo, bem como é tida como símbolo de proteção. Remonta também à lembrança do calvário e do martírio vivido por Jesus Cristo.
Muitas cruzes, em diversos rincões das caatingas nordestinas, rodeadas por arbustos espinhosos, marcam a polêmica e sangrenta história do cangaço. A cruz sobre a cova do coiteiro Antonio Curvina (no povoado Salgadinho); a que lembra a trágica morte de Zé Pretinho (no povoado Riacho); a do jovem Zé de Clemente (no povoado Serrote); a cruz da capela da coiteira Generosa Gomes de Sá (no povoado Riacho); a cruz que sumiu misteriosamente da Grota do Angico, posta pelo Capitão João Bezerra, em lembrança aos onze cangaceiros mortos naquele local, dentre eles Lampião e Maria Bonita; além de inúmeras outras cruzes que marcam a dor e o sangue de um período de crueldade acontecido no sertão nordestino são exemplos vívidos de uma história imorredoura para inúmeras famílias.
Como toda história carece de registro, seja marcada pela tristeza ou pela alegria, dois renomados historiadores, pesquisadores e escritores do cangaço, em 2008, prometeram ao ex-soldado de volante, perseguidor de cangaceiros, o senhor Antônio Vieira, que residia em Delmiro Gouveia – Alagoas, fazer jus a um colega de farda que tombou morto sobre as pedras da Grota Angico no massacre de 28 de julho de 1938, o soldado Adrião Pedro de Souza. Daí, gestou-se o compromisso de pôr uma cruz na Grota do Angico em homenagem ao soldado Adrião que, no cumprimento do dever, tombou morto no solo sáfaro e pedregoso daquele sertão sergipano.
Sob o sol escaldante de 1º de Abril de 2012 a promessa foi cumprida. Os escritores Antonio Vilela (autor de O Incrível Mundo do Cangaço – Volumes I e II) e João de Sousa Lima (autor de Lampião em Paulo Afonso, Maria Bonita – A Rainha do Cangaço, Moreno e Durvinha – Sangue, Amor e Fuga no Cangaço, e outros livros) ergueram na Grota do Angico a cruz que faltava para lembrar a morte do esquecido soldado Adrião. Inclusive, Antonio Vilela está preparando um livro sobre a vida e morte desse praça; ao mesmo tempo em que João de Sousa Lima prepara um livro intitulado Luiz Gonzaga em Paulo Afonso, ambos serão lançados em breve.
A cruz, por uns venerada e por outros odiada é um símbolo de fé, portanto deve ser respeitada. Respeitado também deve ser todo aquele que não a aceita como símbolo de veneração e fé. Respeitados, devem ser os historiador João e Vilela que erigiram uma cruz, na Grota do Angico, para marcar a história esquecida de alguém que contribuiu para pôr fim no cangaço, o soldado Adrião Pedro de Souza.




Escritores João de Sousa Lima e Edson Barreto (ambos da Academia
de Letras de Paulo Afonso)





A cruz e a placa sendo postas na Grota do Angico


segunda-feira, 2 de abril de 2012

GROTA DO ANGICO: A HISTÓRIA REVISITADA


GROTA DO ANGICO: A HISTÓRIA REVISITADA
“UM NOVO OLHAR SOBRE UM FATO SEM O RESPEITO MERECIDO E A HOMENAGEM ATRAVÉS DE UMA LEMBRANÇA QUE FALTAVA”.
     Dia 1º de abril de 2012, um domingo de Ramos, dia de oração para muitos fieis e por outro lado o que em nossa cultura comemora-se “Dia da Mentira” serviu para tornar verdadeira a história, sendo reconhecido um capítulo que por muito tempo se manteve sem o seu devido valor.
    Lembro que tudo começou em 2008 quando Eu, Vilela e a equipe jornalística do Diário do Pernambuco, em visita para gravar uma entrevista com Antonio Vieira, soldado de volante e que residia na cidade alagoana de Delmiro Gouveia, prometemos ao velho combatente que iríamos realizar uma homenagem ao seu amigo de farda e companheiro de batalha, o soldado Adrião Pedro de Souza, que foi o único policial que morreu quando do confronto que matou o cangaceiro Lampião e mais dez companheiros incluindo sua mulher, a famosa Maria Bonita.
    Em março de 2011 durante o evento do Centenário de Maria Bonita acontecido também na cidade alagoana de Piranhas, quando lá chegou o grupo de pesquisadores, escritores e estudiosos do tema cangaço oriundos de Paulo Afonso, fomos apresentados a Décio Canuto, neto do soldado Adrião e que tinha vindo de Maceió pra participar do evento e falar da possibilidade dos escritores realizarem a homenagem ao seu avô. Falamos para Décio que esse era um projeto meu e de Vilela e que vínhamos amadurecendo desde 2008, falando inclusive da promessa feita a Antonio Vieira.
    Vilela ficou encarregado de colher mais informações com os familiares de Adrião e que ainda residiam próximos a sua cidade Garanhuns.
    Depois de quatro anos do compromisso firmado com Antonio Vieira a promessa foi cumprida. Dia 1º de abril de 2012 saímos de Paulo Afonso, Eu, Jadilson Ferraz, Edson Barreto, Elaide Barreto e Evelin Barreto. De Garanhuns veio Vilela, sua esposa Da Paz, seu filho Hans Lincoln, a nora Soraya Crystina e o pesquisador de São Bento do Una, Edvaldo Primo.
    Chegamos ao porto de Piranhas, embarcamos na canoa “O Cangaceiro”, comandada por Célio e descemos o Rio São Francisco até a Grota do Angico.
    Na Grota, lateral a pedra onde se situa a homenagem aos cangaceiros escolhemos uma pedra e fixamos a cruz e a placa com o seguinte texto:






ADRIÃO PEDRO DE SOUZA
01.03.1915         28.07.1938
“Neste chão, no cumprimento do
 Dever caiu por terra o
Soldado Adrião Pedro de Souza
A quem reverenciamos
Nesta oportunidade”.
Grota do Angico, 01 de março de 2012

    Desempenhamos nossa obrigação e retornamos com a confiança do dever exercido e com a certeza da reparação histórica que por tantos e tantos anos ficou como lacuna sobre o capítulo acontecido naquela manhã fria de 28 de julho de 1938.
    Agora descanse em paz Adrião Pedro de Souza, descanse em paz Antonio Vieira.
Que os remanescentes de Adrião possam se orgulhar dos atos de suas últimas horas de vida, que a policia em seus arquivos resguarde o mérito desse brioso guerreiro, que a história lhe atribua o respeito merecido informando pontualmente que na Grota do Angico doze pessoas (e não onze) tombaram sem vida naquele fatídico dia frio.


João de Sousa Lima
Historiador e escritor.

Paulo Afonso, 01 de abril de 2012.
Edvaldo Primo, João Lima, Vilela e Edson Barreto exibindo a placa na chegada a Piranhas.
a placa em hoemangem a Adrião.
a cruz que faltava
Edson Barreto transporta a cruz
Jadilson "Bin Laden" , descansa na sombra de uma árvore, olhos fixos na cruz
a placa pesada espera o transportador restabelecer suas forças.
Edson, João e Jadilson Ferraz fixam a placa e a cruz
Vilela, João e Lincoln dando o acabamento nas homenagens.
 promessa paga: a cruz e a placa enfim marcam mais um capitulo da história do cangaço.