quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Gato, o mais cruel cangaceiro

Gato, o mais cruel cangaceiro

Santílio Barros era o verdadeiro nome do cangaceiro Gato e não se tem na história do cangaço, outro homem que tenha sido tão sanguinário, perverso e frio como foi este cangaceiro. Era filho de Ana ( Aninha Bola) e Fabiano, um dos sobreviventes da guerra de Canudos, seguidor do reverenciado beato Antonio Conselhereiro. Era índio da tribo Pankararé.

Alem de Gato, duas irmãs sua foram pro bando: Julinha, amante de Mané Revoltoso e Rosalina Maria da Conceição, companheira de Francisco do Nascimento, o cangaceiro Mourão.

Mourão mesmo sendo cunhado e primo de Gato, acabou sendo morto por ele, depois que Mourão e Mormaço acabaram uma festa, acontecida no Brejo do Burgo, onde deram alguns tiros colocando a população em pavorosa fuga, Gato sendo cobrado por Lampião que pediu providências por ser o pessoal de sua família, perseguiu e matou os dois companheiros enquanto eles pegavam água em um barreiro, em um dos coitos no Raso da Catarina.  Mourão deixou Rosalina grávida e desta gravidez, nasceu Hercílio Ribeiro do Nascimento, ainda vivo e residindo no Brejo do Burgo.

Gato por pouco não matou sua própria mãe por esta ter feito comentários sobre as constantes passagens dos cangaceiros por sua casa. Gato foi até a casa da mãe com a finalidade de corta sua língua, quando foi dissuadido por alguns familiares do macabro intento, mostrando pra mãe dois facões e dizendo: Este aqui é o cala boca corno e este é o bateu cagou!  
   
Gato ainda matou sete pessoas de sua família, em represália a um sumiço de bodes e cabras que estava acontecendo e sendo creditado a Lampião. O cangaceiro perseguiu os envolvidos e encontrando em uma casa de farinha, Calixto Rufino Barbosa e Brás, ceifando a vida dos dois e seguindo até a casa de Valério, na fazenda Cerquinha, onde assassinou Luiz Major e os dois filhos Silvino e Antônio e o sobrinho Inocêncio. Um duro castigo para um pago sem provas.


Gato foi casado com Antônia Pereira da Silva (foto acima, ainda viva, com 104 anos), também índia Pankararé como seu marido. O casamento aconteceu “Nas Caraíbas”, fazenda de Sinhá, no Brejo do Burgo. Gato carregou a outra prima Inacinha e na justificativa de permanecer com as duas primas, teve seu projeto descartado por Antônia, espancando-a. Antônia contou a Lampião o acontecido e no outro dia, fugiu pra casa de um tio que morava na beira do Rio São Francisco, onde ficou por muito tempo escondida.

Gato encontrou a morte depois do ataque a cidade de Piranhas, em Alagoas. Fato acontecido depois da prisão de sua amada Inacinha, realizada pelo tenente João Bezerra. Inacinha estava grávida e neste combate saiu ferida. O tiro entrando nas nádegas e saindo no abdômen. Por muita sorte a criança não foi ferida. Gato pede ajuda a Corisco e este organiza o ataque a cidade Alagoana. No trajeto, Gato sai disseminando a morte. A data se tornaria, para algumas famílias, uma lembrança dolorosa. Era 29 de outubro de 1936. Dentre os mortos feitos por Gato, estavam Abílio, Messias, Manuel Lelinho e Antônio Tirana. Sendo refém de Gato, o jovem João Seixas Brito, que seria sangrado alguns minutos depois, quando jurou que não havia policiais na cidade e ao romper o som dos primeiros disparos, ocasionados pe los poucos moradores que se negaram a fugir, abandonando a cidade, o rapazinho de 15 anos de idade foi barbaramente assassinado. 


Assim que os cangaceiros entraram na cidade, o delegado Cipriano Pereira e mais oito soldados fugiram deixando os moradores desguarnecidos. Os populares tiveram que suprir a falta dos “Homens da Lei”. Formaram-se poucos grupos de resistência e entre alguns dos habitantes que lutaram estava Cira Brito, esposa do tenente João Bezerra. No cemitério estava Joãozinho Carão e mais alguns companheiros e em um dos sobrados, estavam Chiquinho Rodrigues e Joãozinho Marcelino.

Chiquinho Rodrigues portava um rifle cruzeta e tinha um estoque de 260 cartuchos, dos quais deflagrou 170. Existe uma polêmica em razão do tiro que atingiu o cangaceiro Gato. Uns dizem que o autor do foi Chiquinho Rodrigues, outros creditam o certeiro disparo, a Joãozinho Carão. A verdade é que gato saiu baleado e morreu três dias depois do confronto, acabando-se assim um dos mais cruéis homens que engrossaram as fileiras do cangaço.

João de Sousa Lima
Membro da SBEC, 
Conselheiro Cariri Cangaço
Postado em primeira mão por CARIRI CANGAÇO (Manoel Serevo)

Obs: na foto: Antonia, primeira esposa de Gato.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Messianismo e Cangaço: UNIASSELVI entre a Cruz e a Espada


UNIASSELVI ENTRE A CRUZ E A ESPADA.

Os alunos do curso de história da UNIASSELVI de Paulo Afonso, ciceroneados  pelo professor Alcivandes Santana (autor da biografia de Pedro Batista), visitaram o Museu de Pedro Batista , em Santa Brígida, Bahia, passando antes no Museu Casa de Maria Bonita, no povoado Malhada da Caiçara, Paulo Afonso, Bahia.
O messianismo com seus beatos, romeiros e penitentes deixou um longo capítulo histórico nas páginas da historiografia nordestina. Sobre o tema existem centenas de estudos, teses, textos e reportagens. O professor Gilfrancisco escreveu sobre o messianismo:
“O cristianismo primitivo, ideológico, contraditório no que se refere ao conteúdo social da doutrina, surgiu após a morte de Cristo. Era em sua origem, a expressão dos oprimidos, o escravo, o pobre, os homens privados dos direitos os quais se encontravam subjugados pelo Império Romano. Tal como é o socialismo que prega o término da escravidão e miséria, que em toda sua existência conquistou posição tal, que seu triunfo se encontra assegurado de modo absoluto. Três séculos depois de seu nascimento, Roma reconheceu o cristianismo como religião do Estado e do Império do mundo.

Os movimentos messiânicos existem entre nós desde os primórdios da colonização portuguesa, quando foram registradas as primeiras ocorrências de tais ajuntamentos ou agrupamentos de pessoas, identificadas como fanáticas visionárias e supersticiosas. Tais movimentos nasceram em decorrência da falta a princípio dos jesuítas e mais tarde dos padres, fato que sempre preocupou as autoridades eclesiásticas, e o completo isolamento em que vivia o povo da colônia diante da metrópole. Portanto, surgiram em face do choque cultural existente entre os sertões e o litoral, que se desconhece e se separam, mas esta paisagem continua a mesma, nada foi alterado”.
    No nordeste, entre as histórias de violência e de religião, o sertanejo viveu entre a cruz e a espada.  Como toda criação de sociedade, fundamentada pelos conflitos violentos e amenizadas pela ação ideológica do catequizador, vários lideres fizeram história, tendo o  exemplo mais marcante no nordeste o de Antonio Conselheiro, nas margens do rio Vaza Barris, em Canudos, alto sertão baiano, que lutou contra milhares de homens do exército brasileiro, em quatro expedições e acabou sendo dizimado com seus seguidores.
A resistência ficou gravada também na pessoa do padre Cícero Romão Batista, excomungado pela igreja e perseguido pela coluna Prestes, hoje um homem venerado pelas romarias que seguem até Juazeiro do Norte.
O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto surgiu no Crato, interior do Ceará sob a liderança do beato José Lourenço.
Consistia numa comunidade igualitária onde todos os habitantes tinham direitos e deveres iguais. Tal ideal não agradava o governo estadual e os fazendeiros da região.
O Caldeirão era protegido pelo Padre Cicero, que inclusive ajudou o beato José Lourenço a arrendar o terreno. Após a morte do sacerdote, governo e fazendeiros se aproveitaram para destruir a comunidade.
Por volta de 1940, Santa Brígida era apenas um pequeno Povoado do município de Jeremoabo, composto por algumas casas de barro cobertas de palha. A agricultura, mal dava para a subsistência e a pecuária limitava-se mais a criação de bodes e cabras.
Santa Brígida era uma região famosa pela passagem de Lampião.
Em 1942 peregrinava pelos Estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco um penitente de barba e cabelos grisalhos, pregando e curando, que se chamava Pedro Batista da Silva. Serviu o exército aos dezessete anos, sendo deslocado posteriormente para Foz do Iguaçu e Ponta Grossa, no Paraná. Após desligar-se do exército trabalhou como marinheiro e estivador nos portos do Rio de Janeiro, Santos e Paranaguá, onde se fixou e viveu como pescador. Uma "visão" fez regressar ao Nordeste, onde peregrinou até fixar-se em Santa Brígida com a permissão do Coronel João Sá que acompanhou a chegada dos romeiros até certificar-se de que o movimento não ameaçava se tornar uma nova Canudos. Em suas andanças Pedro Batista ficou famoso pela sua sabedoria em dar conselhos, efetuar curas e libertar pessoas de maus-espíritos.
Esta postura cativou os romeiros que via nele um representante de Deus. Pedro Batista não comentava com os romeiros sobre a sua vida, de onde veio quem era seus pais ou se tinha irmãos, pouco interessava aos seus adeptos. Era como se ele não tivesse tido princípios de dias. Sua chegada a Santa Brígida ocorreu em 14 de junho de1945, tinha como objetivo formar a romaria e desenvolver a agricultura como meio de subsistência para as famílias que ali residiam. Correndo pelo sertão a notícia que o Beato Pedro Batista estava instalado em Santa Brígida, a gente que o conhecia de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, veio visitá-lo em romarias. Uns com o fito de se instalar ao pé do "Padrinho", outros traziam dinheiro para comprar terras ou alugá-las, pretendendo ali, viver atraídos pela crença, fé e pela ordem que faziam reinar em torno de si. A exemplo da saudosa Madrinha Dodô, que veio do povoado Moreira, no município de Água Branca, onde conheceu o Beato e resolveu acompanhá-lo por afinidade dos trabalhos comunitários de atendimento ao povo pobre e sofrido da região, tornando-se assim, a pessoa mais próxima do padrinho Pedro Batista. Madrinha Dodô, como era conhecida, foi a grande confidente e herdeira espiritual do Beato, passando a ser respeitada e enaltecida pelos romeiros, que viam nela a sabedoria e a caridade, comparando-a com a saudosa Irmã Dulce da Bahia.

Foi a esse mundo de Santa Brígida, onde o Museu de Pedro Batista guarda seus pertences e suas lembranças que estivemos visitando e conhecendo capítulos dessa história, assim como no Museu da Rainha do cangaço, em Paulo Afonso, uma aula “In Loco” da Mulher Cangaceira e de uma das passagens do messianismo em nossa região, traços marcantes de uma época preservados pela memória coletiva de um povo marcado pelo estigma da violência e da crença incondicional.




Na foto acima um passagem no Museu Casa de Maria Bonita.
aqui na capela de Dona Generosa, no povoado Riacho. Ela foi grande coiteira dos cangaceiros

Estátua de Pedro Batista, em Santa Brigida, Bahia.
 Igreja em Santa Brigida
Museu Pedro Batista
Penitentes em Santa Brigida
Pedro Batista ladeado por seus fiéis seguidores da fé.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ELA ME FAZ TANTA FALTA....

ELA ME FAZ TANTA FALTA....

Hoje amanheci  com uma profunda  saudade, saudade da ausência de uma pessoa que amei muito na terra, ela era minha adorável mãe, um anjo real que se fez presente em momentos especiais de minha vida. Lembro que na aproximação do natal  a família sempre se reunia para as  comemorações, todos em volta daquela sábia matriarca. Era uma festa a reunião com filhos, netos, irmãos, sobrinhos e amigos.
Hoje, sem tê-la mais no nosso convívio diário, me perdi nas recordações dos belos momentos que passamos e relembrei um poema de um grande poeta brasileiro quando ele diz que mãe não devia morrer nunca e confesso estava o poeta coberto de razão, elas deviam ser eternas.
Dia 20 próximo completo mais um ano de vida e dia 24, véspera de natal um dos meus irmãos também  aniversariará, comemoraremos todos juntos essas datas, cearemos, nos perderemos nos sorrisos do momento, nos fartaremos da magia dos coloridos das luzes da árvore de natal, relembraremos o Cristo crucificado, oraremos e com certeza deixarei minhas lágrimas rolarem quando vier a lembrança daquela que tanta falta me faz: Minha mãe Rosália, minha Rosa,  a  flor que deixa meu coração pulsando de nostalgias toda vez que essa saudade eterna brinca de bater sua porta. Conforta-me saber que deves está em algum lugar, sorriso bonito, florindo um jardim divino, divinamente  como são as mães que amam seus filhos. Nessas noites festivas se as lágrimas banharem minha face pode ficar  sossegada, elas serão apenas de saudades  e de doces lembranças tua, fica na paz minha Santa, elas serão lágrimas boas, das bondades que me ensinasse  a disseminar pela vida, Jesus te abençoe, sempre. Nas escritas rascunhadas dos amores eternos da alma tu és a página mais valorosa do meu diário de lembranças.
Seu filho
João de Sousa Lima

Nos seus 80 anos de vida.
no aniversário de minha filha
Nas comemorações da família
Com os filhos e netos
Nas noites natalinas

No aconchego do teu doce abraço
No carinho do teu sorriso
Nas visitas aos familiares distantes

Nos lançamentos dos meus livros

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Lampião em Paulo Afonso: O Cangaço Deixou Marcas.

                UMA CICATRIZ POR VINGANÇA


Por: João de Sousa Lima.

   A Rainha do Cangaço, Maria Bonita, acabara de perder seu primeiro filho. A natureza lhe negara naquele instante o direito de perpetuação da espécie humana. As lágrimas da triste mãe encharcaram a cova rasa e solitária do filho que não viu o mundo, enquanto o leite materno, fonte divina da vida, secava na dor da trágica perda. No seu sofrido silêncio desaparecera a ansiedade antes vivida. A sua angústia se apagara durante o resto do dia frustrante e da noite mal dormida.
   O consolo virá na serenidade da alvorada. Com o novo amanhecer, renascerão novas esperanças e só as esperanças curam os traumas doloridos do dia a dia.
   Durante as próximas noites, sob as tendas dos esconderijos e a luz das inúmeras fogueiras, velhos companheiros e seguidores de lutas alegrarão os corações tristes dos Reis do Cangaço.
   O velho e fiel coiteiro, Venceslau, cobriu a criança em um lençol e a enterrou a poucos metros da sua residência, nos fundos da sua propriedade, no povoado Campos Novos. A parteira Aninha regressou ao povoado Nambebé. Lampião e Maria Bonita agradeceram ao fiel coiteiro Lau pelo apoio recebido e com o restante do bando partiram caminhando lentamente, em silêncio, na direção da casa do casal Aristéia e Quinca, no povoado Várzea.
   Nas proximidades do Nambebé os cangaceiros ouvem o barulho de um animal de montaria e buscam rapidamente os arbustos e pedras existentes no local e se entrincheiram. Todos apontam suas armas para o lado aonde vinha o som do tropel. Entrincheirados e prontos para o combate Lampião reconhece o cavaleiro que se aproxima. Era mais um dos seus incontáveis coiteiros. O burro pára bruscamente. O homem desce rápido do animal, pois tem pressa em revelar o segredo de sua urgente viagem, mais uma notícia de traição:
     - Capitão, pur pouco vocês num fôro atacados. Assim que vocês saíro dos Campos Novos, lá chegou uma força do guverno, cum mais de trinta hômim.  
      
     - Alguém me traiu! Você sabe quem foi que denunciô nosso coito?
     - Sei sim; foi Pimba, do Nambebé.
     - Ta bom, pode ir.        
   Virgolino pagou a informação e por alguns minutos se perdeu nos seus pensamentos, formulando sua defesa contra a volante e sua vingança contra o delator.
   O traidor era velho conhecido dos cangaceiros, o verdadeiro nome de Pimba era Francisco Teixeira Lima e era irmão do fiel coiteiro Lixandrão, pai dos cangaceiros Bananeira e Tutu.
   Poucos minutos depois, Lampião chega ao Nambebé e cerca a casa de Pimba, os cangaceiros invadem a residência e vasculham todos os cômodos, não encontrando o traidor.
   A velha casa de taipas é revirada. A esposa do homem sentenciado a morrer protege os filhos com o escudo do próprio corpo. Dona Maria e os filhos João Preto, Zé de Pimba, Anacota, Jeoventina, Júlia, Elvira e Rita se abraçam enquanto os cangaceiros quebram alguns móveis e pratos.
   Naquela ocasião eram duas Marias, frente a frente, ligadas por sentimentos diferentes, lutando por um objetivo comum: a sobrevivência.
   A Maria mãe, aflita, pede ajuda a outra Maria, a Rainha do Cangaço. Já se conheciam de outras vezes, em circunstâncias menos violentas. A mãe desesperada implora e pede clemência para aquela que ainda não havia amamentado mais que havia sentido a dor do parto e a infelicidade da perda do filho pela morte traiçoeira.
     - Maria, peça a Lampião pra não matar a gente!
     - Quem mata vocês é a língua!
   Nesse momento chega o irmão de Pimba, o fiel coiteiro Lixandrão.
O velho conhecido cumprimenta Lampião com um aperto de mão e fala:
     - O sinhô me cunhece e sabe que eu sô um hômim interado e cumigo num tem falsidade. O que meu irmão fez não tá certo e eu prometo que não acontecerá outra vez. Por isso estou aqui pra lhe pedir que não mate ele e nem a sua família.
     - Muito bem, Lixandre, diga aquele safado que erre o meu caminho e tenha cuidado com o que fala.
   Lampião sai da casa e se reúne com seus comandados no terreiro.Quando se preparavam para seguir viagem, chega outra Maria, a esposa de Lixandrão e diz a Lampião que um dos cangaceiros invadiu sua residência e tomou seu xale. Lampião não procurou saber quem tinha sido, apenas colocou a mão no bornal, puxou algumas notas e pagou o prejuízo à mulher.
   Lixandrão agradeceu por Lampião ter atendido ao seu pedido de não matar o irmão Pimba e desejou boa sorte aos cangaceiros. Lampião ainda movido pela ira, mal respondeu e começou a seguir seu itinerário.
   Quando os últimos telhados das casas do Nambebé desapareceram no emaranhado dos galhos secos, eis que surge na frente dos cangaceiros a presa tão procurada: Pimba.
   O angustiado sertanejo é envolvido em um cordão humano. Lampião fala:
     - Caba safado, anda dando difinição de cangaceiro pras volantes!
O homem esmorece, sente a indesejável morte aproximando-se e ajoelha-se chorando, pedindo por tudo quanto é santo para que não o matassem.
     - A sua sorte, caba sem vergonha, é que hômim de minha qualidade tem palavra e eu prometi num lhe matar, mais vou dexá uma lembrança minha, pra que você nunca mi esqueça. Da próxima  veiz que você mi denunciá num tem disculpa, você mim paga com sua vida.
  Enquanto o aflito sentenciado era seguro por Luís Pedro, Lampião puxa um canivete de um dos bolsos e se aproxima do trêmulo catingueiro. Pimba chora e clama por todos os santos. O Rei do Cangaço, impiedosamente, abre uma ferida em forma de cruz na testa do moribundo sertanejo, deixando uma eterna cicatriz como pagamento pelo vacilo de sua denúncia e traição. O grito de Pimba é abafado por mãos fortes e firmes. O sangue escorre por sobre o nariz e a boca, ensopando a gola da camisa. Os cangaceiros soltam a vítima quase desfalecida, muito mais pelo medo que pela dor. O grupo pega uma das veredas que dava acesso a mataria fechada e some rapidamente. Pimba, ainda de joelhos, puxa um lenço do bolso, cobre o ferimento, levanta-se e, apressadamente, segue para sua casa.
   O preço cobrado pela traição de Pimba saiu de bom tamanho, em outras circunstâncias, para preservar a vida dos cangaceiros, o traidor não teria sido poupado.
   Durante muitos anos Pimba teve que usar chapéu de couro com uma lapela cobrindo a permanente tatuagem. Uma cruz por lembrança, uma eterna marca por castigo.  
    



OBS: para conhecer mais sobre a passagem de Lampião na região de Paulo Afonso, em agosto, lançamento da segunda edição, não percam, adquiram, divulguem!!!!
  
   

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dom Helder Câmara, o Apóstolo da Paz

DOM HELDER CÂMARA, O APÓSTOLO DA PAZ.

Dom Helder foi um mensageiro da paz, um homem voltado para os problemas do seu povo e um profundo defensor das causas dos pobres e oprimidos.
Nasceu no dia 07 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará. 
No dia de março de 1964 foi indicado pelo Papa Paulo  VI para ocupar a Arquidiocese de Olinda e Recife.
Dom Helder escreveu 22 livros traduzidos para 14 idiomas. Dentre vários prêmios literários que recebeu, ganhou o prêmio Italiano “Melhor Escritor Sobre Os Problemas  Do Terceiro Mundo”.
Concebeu a Comissão de Justiça e Paz, defensora de presos políticos e perseguidos pela ditadura militar e dos excluídos da sociedade. Foi precursor na luta contra a fome e a miséria no Brasil.
No dia 27 de maio de 1989, o arcebispo sofreu um duro golpe. Padre Henrique Pereira Neto, seu colaborador na Arquidiocese de Olinda e Recife foi encontrado trucidado no bairro Cidade Universitária, Recife. O crime é atribuído até hoje às forças de repressão. No dia 4 de setembro de 1970 sua residência foi pintada com a frase “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
De 1970 a 73 uma campanha o afastou do prêmio Nobel da Paz. Alguns documentos provam que o governo Médici (1969 a 1974) moveu, por meio da embaixada, uma campanha secreta contra a eleição do arcebispo para o Nobel da Paz.
No dia 08 de julho de 1980, na primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil e Recife, dele recebeu o título de “Irmão dos Pobres e Meu Irmão”.
Dom Helder faleceu aos 90 anos, no dia 27 de agosto de 1999, às 22h20, de insuficiência respiratória aguda, em sua residência, na igreja fronteira, onde morou por 31 anos.

FRASES DE DOM HELDER:

“ o maior dos mandamentos é amar a Deus de todo coração, mas há um mandamento igual que é amar o próximo”
“O segredo da perene juventude de alma é ter uma causa a que dedicar a vida”
“Quando os problemas se apresentam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes”
“Ajudar  a criar um mundo mais humano é um dos sonhos de minha vida”
“A imagem que gostaria que ficasse de mim é a imagem de um irmão”
O bispo dos deserdados, o intelectual e humanista, o Pastor que empreendera uma longa jornada  contra a miséria e contra  opressão deixou como legado a verdadeira missão dos homens que decidem viver  para o bem do próximo.









domingo, 11 de dezembro de 2011

Corisco e sua morte acontecida na fazenda Pulgas- Por Edson Barreto


Corisco e a Fazenda Pulgas Por:Edson Barreto

Edson Barreto
Visitei a Fazenda Pacheco (antiga Fazenda Pulgas) no dia 08 de fevereiro de 2006. Ela fica no Povoado Pulgas, município de Barra do Mendes, na Bahia. Quem sai da cidade de Barro Alto (Bahia) em direção à cidade de Barra do Mendes, a poucos quilômetros, entra à esquerda e chega-se a essa pequena localidade. Acompanhavam-me: Érico Israel (meu irmão), Roseane (cunhada), Erick e Erickson (sobrinhos), Elaide Barreto (esposa), Evilyn Barreto (filha) e Valdizar (nosso guia, profundo conhecedor da região).
A Fazenda Pacheco seria hoje apenas mais uma propriedade rural de uma família de amistosos sertanejos se não tivesse ocorrido naquele recôndito a emboscada que resultou na morte do ex-cangaceiro Corisco e o fato de Dadá (companheira de Corisco) ter sido baleada, na perna, em 25 de maio de 1940. Esse fato é considerado, por alguns historiadores, como sendo o fim do cangaço no Nordeste do Brasil. Em 1940, a Fazenda Pulgas pertencia à cidade de Brotas de Macaúbas, Bahia, sendo que Barra do Mendes era apenas um povoado.

De volta ao século XXI, na atual Fazenda Pacheco encontrei, em 2006, a senhora Marieta de Souza Pacheco (dona Neta), pessoa maravilhosa, filha do senhor Joaquim de Souza Pacheco (falecido em maio de 2003, ex-proprietário daquelas terras). Dona Neta é uma das testemunhas que esteve presente na tragédia que vitimou o Diabo Loiro. Ela, ainda muito lúcida, tinha dez anos de idade quando a família recebeu a visita de uma caravana de cinco pessoas (duas mulheres, dois homens e uma criança do sexo feminino) se dizendo romeiros, e que iam para a Lapa de Bom Jesus (cidade de Bom Jesus da Lapa, na Bahia) para pagarem uma promessa. Vinham montados em burros, com diversos caçoás, cheios de bagagens, inclusive dois papagaios. Pediram guarida ao senhor Pacheco, pois vinham de longe e iam para longe. O chefe da família ofereceu-lhes a Casa de Farinha, que ficava no oitão bem próximo de sua residência, distante uns quatrocentos metros, para um merecido descanso daquele grupo de viajantes. Era hábito comum, entre os habitantes do sertão, conceder repouso a quem estava de passagem, mesmo sendo estranhos.

O ex-chefe de subgrupo de Lampião, Corisco, sua mulher, Dadá, o ex-cangaceiro Rio Branco e sua companheira Florência, e a criança, Zefinha, afilhada do primeiro casal, ficaram naquela localidade por volta de uma semana. Dona Neta confidenciou-me que entre as bagagens “dos romeiros” havia alguns livros, peças de louças, muitas caixas e baús fechados, bastante comida e um pequeno caixote de madeira em que estava guardada uma trança de cabelos (que seria colocada no altar, em Lapa de Bom Jesus, para o pagamento da suposta promessa). Essa trança provavelmente era dos longos cabelos de outrora de Corisco, pois ele estava de cabelos curtos nessa ocasião. Na verdade, Corisco estava rumando para terras distantes do Nordeste ou Centro-Oeste, pagar uma promessa era uma forma de afastar pistas de sua fuga e do seu passado de banditismo que o tornou famigerado nas caatingas do sertão.
Durante a estada na fazenda, Dadá, muito amistosa, fez grande amizade com a família Pacheco, frequentando a residência deles e proseando bastante, porém Corisco mantinha-se mais distante, arredio, não entrava nunca na casa dos sertanejos anfitriões e, curiosamente, nunca tirava um paletó preto que usava sobre os ombros (provavelmente para esconder as cicatrizes de um ferimento que sofrera e o deixara aleijado dos membros superiores nos árduos tempos de cangaço). Uma parente de dona Marieta Pacheco, que morava próximo dali, estava bastante enferma e, algumas vezes recebeu a visita da família do Senhor Pacheco e de Dadá e Corisco, porém Corisco muito cismado não entrava em casa nenhuma, ficava sentado na varanda. Essa enferma faleceu e todos eles acompanharam o enterro que foi realizado debaixo de chuvas e muita lama, no pequeno cemitério de Barra do Mendes, naquele barro vermelho e pegajoso quando molhado.



Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariri

Dona Neta informou que Dadá usava realmente esse apelido e não conseguiu lembrar o nome que o Diabo Louro fora apresentado na fazenda, porém não era Corisco nem Cristino que o chamavam. Não se lembrou também o nome do outro casal nem o da criança que os acompanhavam. "-Lembro que era um homem alto, agalegado, de pele vermelha queimada do sol! Não sabíamos nem que eram cangaceiros, todos eles eram pessoas boas e respeitadoras. Cangaceiros, pra gente, eram histórias que o povo contava – " afirmou dona Marieta. 25 de maio de 1940, um sábado. Os pais de dona Neta e os irmãos mais velhos foram para a feira no povoado de Barro Alto, próximo da Fazenda Pulgas, como era costume da família, para comprar mantimentos. Inclusive Corisco e Dadá pediram para que eles comprassem farinha, carne, pão e biscoitos. Dona Neta, com apenas dez anos de idade, ficou em casa cuidando dos irmãos mais novos até o retorno dos pais.
Antes de os pais retornarem, aquela pequena localidade recebeu a visita da volante do Tenente Zé Rufino que há dias vinha no encalço dos ex-cangaceiros (já anistiados de seus crimes pelo Governo Federal). Dona Neta estava dentro de casa com os irmãos mais novos quando de repente ouviu gritos e um intenso estampido de armas de fogo vindos do lado da casa de farinha. Sem saber do que se tratava escondeu-se embaixo da cama, com os irmãozinhos, até que a calmaria voltasse. Depois de alguns minutos, ao sairem no terreiro da casa, a criança Marieta e seus irmãos, viram diversos soldados; um deles disse para os pequenos moradores assustados e chorosos:

- Fiquem calmos, nós viemos tirar uma onça de perto de vocês!
Dona Neta e os irmãos, ainda sem entenderem muito aquela tragédia jamais vista ou ouvida por aquela região, puderam ainda enxergar, a algumas centenas de metros da casa, o corpo de Corisco estirado e agonizante em meio ao pó vermelho daquele chão fértil e, a poucos metros, Dadá baleada na perna, caída, e gritando:
- Alguém me dê uma arma pra eu atirar nesses desgraçados!
Rio Branco e Florência, no momento dos tiros, estavam lavando roupas num barreiro próximo e de lá mesmo fugiram para destino ignorado. Quanto à menina, Zefinha, dona Neta não soube informar o seu paradeiro. Concluiu dizendo que os policiais levaram tudo o que pertencia àquele “grupo de romeiros” e que Corisco (ainda vivo) e Dadá seguiram com a volante. Pouco depois, seus pais e irmãos chegaram assustados já sabendo do acontecido em suas posses.
Hoje, essa passagem, manchada de sangue, é uma marca que compõe a história daquela gente simples, pacata e maravilhosa das cidades de Barra do Mendes e Barro Alto, e se inserem nas páginas da vasta história do cangaço brasileiro.
Edson Barreto
Edson Barreto é professor de Língua Portuguesa, Redação e Literatura Brasileira. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e pesquisador do cangaço.


sábado, 10 de dezembro de 2011

Maria Bonita e a origem do seu apelido por Frederico Pernambucano de Mello

Que bom que o amigo Frederico já voltou à ativa,
ele realizará palestra falndo sobre o apelido de Maria Bonita.
participem, divulguem!!!!!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Janio Soares e o confronto entre Capitão Bolsonaro e Capitão Virgulino


             Capitão Bolsonaro X Capitão Virgulino


Quase ao mesmo tempo em que o deputado Jair Bolsonaro desafiava a presidente Dilma a admitir se gosta ou não de homossexual, o juiz Aldo Albuquerque, da 7ª Vara Cível de Aracaju (SE), proibia a publicação e comercialização do livro “Lampião – o Mata Sete”, de autoria do juiz aposentado Pedro de Morais, onde o autor afirma que o rei do cangaço mantinha uma relação homoafetiva com o cangaceiro Luiz Pedro, e que o mesmo também seria namorado de Maria Bonita – formando assim o primeiro triângulo amoroso do cangaço. A ação judicial foi movida pelos seus descendentes, obviamente ofendidos por Lampião ter sido chamado de gay e Maria Bonita ter sido literalmente associada ao impagável bordão de Valéria, personagem do programa Zorra Total (“ai, como eu tô bandida!”).
Sem entrar no imbróglio jurídico/erótico e nem aí para as preferências sexuais dessa rapaziada, comecei a pensar numa idéia que poderia dar uma bela literatura de cordel, que seria uma peleja entre o capitão Bolsonaro (sim, ele é capitão da reserva do Exército) e o temido capitão Virgulino, elevado a patente a pedido de seu “padim” Padre Cícero, para combater a Coluna Prestes.
O local do embate seria o Raso da Catarina, esconderijo de Lampião e octógono perfeito para confrontos de cabras que não têm medo da morte nem da sobrancelha arqueada de Dilma. E lá, o velho caçador de boiolas - sabiamente disfarçado de cangaceira - se entrosaria no bando e ganharia a simpatia de Lampião, dividindo com ele alforjes, perfumes e punhais. Plano perfeito.
Só que, numa noite de Lua cheia, Zóio de Lume (era assim que Lampião o chamava por conta de seu olhar de rolinha-fogo-pagô) exageraria na cachaça, dormiria mais cedo e acordaria com uma estranha ardência lombar inferior a lhe incomodar.
Na dúvida se teria sido o peba na pimenta ou algo do tipo “valha-me Deus, será?”, um desconfiado Bolsonaro voltaria para Brasília e nunca mais homofobizaria ninguém. Já o Capitão Virgulino, coitado, uivaria apaixonado, toda vez que a Lua do Raso prateasse sua saudade sem fim.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

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