quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O JORNAL DE LAMPIÃO


O JORNAL DE LAMPIÃO


Em uma das fotografias mais clássicas de toda a  história do cangaço, podemos ver Maria Bonita sentada acariciando os cães Ligeiro e Guarany e Lampião ao seu lado, em pé, com um jornal nas mãos. Sempre tive curiosidade em saber que jornal era aquele e quem seria a mulher que aparecia na página.
Conversando com um amigo, grande pesquisador do cangaço, ele disse ser ela uma miss Brasil, informação vaga e insegura.
Quando comecei a pesquisar  sobre  o coronel João Sá, deputado constituinte da Bahia, figura  histórica da cidade de Jeremoabo e um dos maiores coiteiros do cangaço em todo território baiano, descobri na sua fazenda Espaduada  alguns documentos que teimavam em permanecer intactos mesmo estando cercados por cupins devoradores. Muita coisa havia se perdido e dentre as poucas que sobreviveram estava lá o jornal que tanto prendia minha curiosidade:  A NOITE ILUSTRADA.
Na capa não é uma miss e também não é brasileira, ela é uma modelo e no texto da capa diz o seguinte:
“ A SEREIA E SUA REDE...
ANNA EVERS EXHIBINDO UM FORMOSO MODELO PRAIANO EM SANTA MÔNICA, CALIFÓRNIA
(vide página 32)”

Na página 32 tem a foto  da modelo e podemos apreciar o texto que segue em anexo.
Na verdade Lampião não está naquele momento lendo o jornal, ele está apenas fazendo pose para ser fotografado, a foto da modelo é a capa do jornal e Lampião tem para sua visão a contracapa.
Na capa tem as informações: Director: Gil Pereira – Gerente: Vasco Lima- 27-5-1936- N. 354 – CAPITAL  400 rs.- ESTADOS  500rs.
Segundo depoimentos das cangaceiras Aristeia e Dadá as fotos feitas por Benjamin Abraão foram entre junho e julho de 1936, portanto um mês ou dois depois do lançamento do jornal que tem a data de 27 de maio de 1936.
O jornal  (ou mais provável revista) tem 40 páginas, dezenas de excelentes fotografias e propagandas de cremes, remédios, loções e veneno para insetos.
Dentre as propagandas citadas, algumas coisas que ainda temos na atualidade, tais como: Vick Vaporub, Canetas Parker, Emulsão Scott, Leite de Colônia, Leite Condensado Marca Moça, Gillette, Pastilhas Valda, General  Eletric, Sal de Fruta ENO e Creme Dental Colgate.
Li todo o jornal e pude ter uma idéia do que circulava nas reportagens da época.
O jornal-revista faz parte de meu acervo particular, porém servirá para quem estuda  as histórias  do Brasil, principalmente a história do nordeste  e está aqui à disposição para quem interessar possa.
Par as lentes eternas de Benjamin Abraão e  a posteridade da fotografia brasileira, repousa uma mulher que acaricia dois cachorros e uma modelo que figura em páginas hoje amareladas pelo tempo, as noticias guardadas atiçam a curiosidade de quem pesquisa, o achado alegra a visão de quem acha o que procura, o olhar enigmático nega a visão de quem lê na pose que perpetua o contexto histórico de uma simples fotografia, retratos da vida, imagens de uma época, figuras infinitas.


A CAPA DO JORNAL (OU REVISTA) NOITE ILUSTRADA.
A FOTO INTERNA DA MODELO, NA PÁGINA 32

A CONTRACAPA VISTA POR LAMPIÃO













Um comentário:

  1. As histórias do cangaço sempre me fascinaram.
    Benjamin Abraão, através de suas lentes "mágicas", captou grandes momentos do cangaço e graças as suas fotografias, eternizou o cangaço, sem o seu registro fotográfico, a memória do cangaço não seria completa.

    Parabéns caro João, por nos permitir através do seu Blog, viajarmos no tempo e sermos transportados para o enigmático mundo do cangaço. Nesse momento não posso esquecer do nosso amigo Guilherme Machado, de Serrinha - BA, grande pesquisador do cangaço.

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