terça-feira, 3 de julho de 2012

LAMPIÃO NA SERRA DOS CAVALOS

 
LAMPIÃO NA SERRA DOS CAVALOS


    A região nas proximidades da cidade alagoana de Água Branca foi muito visitada por Lampião e vários outros cangaceiros, inclusive alguns depoimentos relatando que foi nessa cidade que nasceu o cangaceiro Corisco.
    Quando Lampião se mudou com a família saindo de Serra Talhada por questões de desavenças com o vizinho Zé Saturnino, eles vieram residir em Santa Cruz do Deserto, bem próximo a água Branca e lá viu seu pai ser assassinado por Zé Lucena.
    Lampião deixou definitivamente gravado seu nome na história de Água Branca quando vasculhou os aposentos do casarão da Baronesa Joana Torres saqueando-a e arrecadando um verdadeiro tesouro com esse ataque.
     O coronel Ulisses Luna, da fazenda Cobra foi um dos grandes coiteiros de Lampião entre os munícipes de Água Branca.
    O povoado Pariconhas foi outro que sofreu ataque dos cangaceiros.
    O emaranhado de serras que circundam  Água Branca transformaram-se naturalmente em esconderijos dos cangaceiros. Com suas terras sempre verdejantes e úmidas aquelas paragens  era um vale rico em diversidades de frutas e grãos e suas nascentes tinha as  mais límpidas corredeiras de  águas potáveis do nordeste.
    A Serra dos Cavalos era um dos paraísos na diversificação das frutas e Lampião mandou um recado por um dos seus inúmeros coiteiros para o senhor Joaquim Flor dizendo que iria lá um dia conhecer o lugar.
    Promessa feita, promessa cumprida: Eis que chega à Serra dos Cavalos Lampião e seu grupo. O bando se dirige para uma casa de farinha. Na casa estava morando Maria Vieira com suas quatro filhas pequenas: Iraci Vieira da Silva, Maria de Jesus (Nenê), Maria José Vieira e Rosa Vieira da Silva. Lampião bateu na porta e Maria Vieira não abriu, o cangaceiro se dirigiu para a casa vizinha onde se encontrava Joaquim Flor e sua esposa Minervina. A casa foi tomada pelos cangaceiros. A visita causou uma grande confusão entre a família com a visita daqueles estranhos e tão temidos homens.  Na casa os cangaceiros se fartaram de pinha, jaca, banana e  manga, porém nada fizeram de mal aos ocupantes da residência. Os cangaceiros agradeceram as frutas e foram embora. Minervina ainda assustada seguiu até a casa de farinha e chamou Maria Vieira, reclamando:
- ÊÊ comadre, você ouviu o barulho e não foi ver o que era!
- O que foi que aconteceu?
- O que foi que aconteceu o que, você ouviu o barulho na porta da casa de farinha e não teve a coragem de abrir a porta?
- Eu só ouvi uma pisada!
- QUEM VÊ EU CHORAR ESSE ANO CHORA COMIGO TAMBÉM  E QUEM NÃO CHORAR ESSE ANO CHORA NO ANO QUE VEM!

    Minervina deixou essa frase enigmática, deu as costas e saiu com raiva da comadre.
    Da casa de Minervina e Joaquim Flor os cangaceiros seguiram até a casa  do comerciante Limeira que se encontrava com sua esposa Zizi e seus filhos pequenos. Na casa de Limeira uma cangaceira viu uma caixa na mesa se dirigiu pra ver o que era. O conteúdo da caixa era uma máquina Singer, de mão. A cangaceira pegou a máquina pra levar e um dos cangaceiros mandou devolver, o que foi de pronto atendido. Lampião olhou pra Limeira e falou:
- ÔÔÔ Limeira você sabe o que é que vai aqui com nóis?
- Não!
- Lenço Branco, Facarina e Sergipana!
- HÔÔÔ Lampião, esses são meus burrinhos de fazer a feira! Quando é que você devolve?
- Só quando eles criar cabelos brancos!

    Os cangaceiros desceram a Serra e Limeira ficou lamentando a perda dos burros de estimação: Lenço Branco, Facarina e Sergipana.

    Ao amanhecer chegou à Serra dos Cavalos um dos amigos de Limeira e disse:
- Limeira, acabo de ver seus burros lá em Pariconhas, os cangaceiros deram um fogo com a polícia e na fuga deixaram os burros!
Limeira desceu a Serra e foi buscar seus animais que o auxiliavam no transporte de mercadorias, produtos que garantiam seu sustento e de sua família. Os cangaceiros continuaram andando naquelas terras, ora de passagem em fuga, ora na casa de algum coiteiro. A terra continuou dando seus frutos e Limeira continuou trafegando por muito tempo transportando seus produtos nos lombos de Lenço Branco, Facarina e Sergipana.
As quatro filhas de Maria Vieira ainda residem nas Serras de Água Branca e guardam em suas lembranças uma noite de medo quando nos braços da mãe ouviram Lampião bater na porta da casa de farinha onde elas residiam.

João de Sousa Lima
Escritor e Historiador.

*Pesquisa realizada no dia 01 de julho de 2012, nas Serras de Água Branca, na companhia dos amigos Maria Zélia Vieira, Cícero Soares Pereira (Pelé) e Joseane Vieira.




Iraci, joão, Rosa e Cícero (Pelé)
elas eram pequenas quando lampião passou no terreiro de sua casa na serra dos cavalos

Maria José, Nenê, Rosa e Iraci, quatro irmãs que estavam com a mãe quando Lampião passou na Serra dos Cavalos. Elas ainda residem nas Serras que circundam a cidade de Água Branca, Alagoas.


a casa de Iraci, na serra de Água Branca, sempre em festa para receber os amigos e os familiares.
na foto: Pelé, Zélia e sua mãe Iraci.
detalhe da foto: Um burro e seu condutor vendendo produtos de limpeza.


Iraci e Zélia
Cícero (Pelé) nasceu na Serra dos Cavalos e hoje reside em Paulo Afonso.

No dia de nossa entrevista a chuva castigou as estradas e só conseguimos chegar até certo ponto depois que o carro atolou subimos o resto caminhando.

Um comentário:

  1. Meu grande amigo Pelé, Cícero Soares Pereira foi grande Homem, um exemplo de vida, em sua simplicidade me ensinou que no esporte assim como na dedicação ao trabalho ganhamos uma vida digna, Faz um ano essa reportagem e meu amigo faleceu ontem, meus pêsames a família, pois pela nossa proximidade o tinha como um tio.
    Cícero Livanildo dos Santos

    ResponderExcluir