sexta-feira, 10 de maio de 2013

LAMPIÃO E MARIA BONITA NA REVISTA AVENTURAS NA HISTÓRIA: ALGUNS TÓPICOS A SEREM CONSERTADOS.



LAMPIÃO E MARIA BONITA NA REVISTA AVENTURAS NA HISTÓRIA: ALGUNS TÓPICOS A SEREM CONSERTADOS.

   Lendo a revista Aventuras na História, edição 118, de maio de 2013, com o título: “Amor e Morte no Cangaço”, texto do jornalista Rodrigo Cavalcante, encontrei algumas falhas nas informações e proponho uma análise do jornalista para uma futura correção.

     No inicio do texto falando do nome de Lampião, fala-se Virgulino e o nome certo é Virgolino (com O). Mais abaixo falando do local onde morreu Lampião fala-se Grota de Angico e o nome certo é Grota “do” Angico. Seguindo o texto Rodrigo diz que na Grota Lampião viveria longos 12 anos e a verdade é que aquele dia da sua morte era a segunda vez que Lampião e seu grupo havia ido lá. Ainda na seqüência do texto o jornalista diz que na Grota Lampião teve tempo suficiente para se apaixonar, viver e morrer ao lado da baiana Maria Gomes de Freire. Primeiro o nome de Maria Bonita é Maria Gomes de Oliveira e não existe esse sobrenome Freire. Também não foi na Grota que Lampião se apaixonou e viveu com Maria Bonita. Eles se conheceram no povoado Malhada da Caiçara, em Paulo Afonso, Bahia. De Paulo Afonso à Grota do Angico tem no mínimo uns 50 quilômetros de distância.
     Quando Rodrigo cita o escritor Euclides da Cunha, que escreveu o livro “Os Sertões”, se referindo ao texto racista que chama o sertanejo de sub-raça, o jornalista recai no mesmo erro de Euclides por não ter feito uma análise da frase para o pensamento atual, pois não existe sub-raça, existe a raça humana e somos todos descendentes de uma única ramificação. O que diferenciou o sertanejo por muitos anos do resto do povo brasileiro foi a falta de políticas públicas, assistência dos governantes do país que levavam os recursos e as tecnologias para o sul e sudeste, além da região ser castigada por uma quase permanente seca os recursos governamentais não se fizeram presentes nessa terra como apoio direto. Sofremos com a alta taxa de mortalidade infantil, tivemos precárias instituições educacionais, ausência de postos, agentes de saúde e médicos. Vivemos muito tempo marcados pelo estigma da violência, da fome, da sede e das injustiças. Hoje o quadro ainda necessita de reparos, porém vivemos  em um país mais justo. Temos problemas ainda, mais estamos interligados com o mundo através da tecnologia que uniu o mundo, com os avanços nas áreas sociais, na moda, na produção artística, comercial e industrial. Não somos mais “nação” de homens iletrados, não vivemos do arco e da flecha, somos parte desse mundo, somos raça humana.
    Rodrigo falando do Sertão, das fronteiras do nordeste, diz que a cidade de Paulo Afonso faz fronteira com alguns estados e entre eles com a Paraíba. Faz fronteira com Pernambuco, Sergipe e Alagoas, aonde se chega com poucos minutos de viagem, o estado paraibano está há muitos quilômetros de distância. Seguindo Rodrigo diz que Lampião se engraçou por Maria “Da Déia” e na verdade o apelido correto é Maria “De Déia”. Quando o jornalista cita o nome do ex-marido de Maria Bonita ele o chama de Zé Nenê e o nome certo é Zé De Nenê.
     Falando do primeiro encontro entre Lampião e Maria Bonita Rodrigo diz que o cangaceiro deixou 15 lenços para Maria bordar com seu nome. Na verdade não se tem essa quantidade em nenhum dos depoimentos deixados por quem presenciou a cena.   Antônia Gomes de Oliveira, irmã de Maria Bonita, foi uma das que se encarregaram dos bordados e nunca citou essa quantidade de lenços, em todos os seus informes ela sempre dizia: ...”Alguns Lenços”!
     Na página 32 Rodrigo faz uma análise sobre as vestimentas dos cangaceiros. Citando o chapéu ele diz que tinha a aba da frente levantada e na verdade as duas abas são levantadas. Na apreciação  número 6 falando da jabiraca, que é o lenço que os cangaceiros e cangaceiras usavam, o jornalista coloca a palavra cartucho e nunca ouvi nenhum depoimento que na jabiraca iam cartuchos, os cartuchos iam nas cartucheiras e ainda em bornais e também nunca ouvi  nenhum remanescente ou pesquisador afirmar que a jabiraca servia de coador. A jabiraca era uma peça de enfeite dos cangaceiros e era fechada ao pescoço por grossas alianças e anéis de ouro. No item 10 Rodrigo diz que Maria Bonita tinha uma luva com as inicias M.O.S.- Maria Oliveira da Silva. No início do capítulo Rodrigo tinha dito que o nome de Maria Bonita era Maria Gomes de Freire, por duas vezes ele errou o nome de Maria Bonita, o verdadeiro nome dela é Maria Gomes de Oliveira.
    Quando o repórter fala do cangaceiro Vinte e Cinco diz que o verdadeiro nome dele é José Alves de Barros e na verdade é José Alves de Matos. Ele ainda encontra-se vivo e lúcido e pode tirar essa dúvida, já estive por diversas vezes com ele em Maceió e além de ser uma pessoa  luzente conta a história em seus detalhes.
     Discorrendo sobre o armamento usado pelas mulheres no cangaço o jornalista diz que elas usavam revólveres 28 e 32. Eu nunca ouvi falar desse calibre 28 em revólver. O mais provável seria 38.
     Na página 36 Rodrigo incorre novamente no erro de falar Grota de Angico e o certo é Grota “DO” Angico. Seguindo ele chama o coiteiro Pedro  Cândido e na verdade é Pedro de Cândido, como foi vinculado nos noticiários da época e que como se dirigem os amigos de Pedro sempre que ele é lembrado. Alguns parentes do Pedro afirmam que seria Pedro de Cândida, pois Cândida seria a mãe do coiteiro. Em Informação do turismólogo Jairo Luiz Cândido era o pai de Pedro.
    Se referindo as mortes na Grota do Angico o repórter fala que foram onde pessoas e na verdade foram 12 os mortos daquele dia 28 de julho de 1938. Morreram 11 cangaceiros, sendo 09 homens e 02 mulheres e um soldado chamado Adrião Pedro de Souza.
Narrando sobre as cabeças Rodrigo diz que elas permaneceram no Instituto Nina Rodrigues até 1962 quando foram enterradas e na verdade  as cabeças foram enterradas em 1969, mais precisamente no dia 06 de fevereiro.
    O repórter diz que Corisco foi morto quando estava se preparando para se entregar, aproveitamento a Lei de anistia promulgada por Getúlio Vargas. Nunca passou pela cabeça de Corisco se entregar, ele estava em fuga com sua companheira Dadá, próximo  a Barra do Mendes e foi seguido e cercado pela volante do tenente Zé Rufino. Não houve troca de tiros por que Corisco estava aleijado dos dois braços em decorrência de um tiro sofrido em um dos combates acontecidos em Sergipe. O intuito do tenente Zé Rufino foi de se apoderar do dinheiro e das jóias em ouro que o casal transportava na fuga.

Paulo Afonso 08 de maio de 2013


João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro do GECC- Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará.
Biógrafo de Maria Bonita.
Autor de 10 livros dos quais seis sobre o cangaço.


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