O BRAVO SOLDADO TEÓFILO PIRES DO
NASCIMENTO E A MORTE DO CANGACEIRO CALAIS
Teófilo Pires do Nascimento nasceu em 25
de fevereiro de 1919, no povoado São José, Chorrochó, Bahia.Era filho de: João
Pires do Nascimento e Vitalina Pires do Nascimento
No
povoado São José, em 1932, Lampião, Corisco e mais alguns cangaceiros
assistiram missa na igreja fundada em 1912.
Teófilo
entrou para a volante de Zé Soares, em 1932, ainda garoto, com apenas 13 anos
de idade.
Uma
dasprincipais tarefas de Zé Soares era perseguir o cangaceiro Calais. O
cangaceiro era conhecido por suas escapadas e tinha a fama de se “envultar”
pelo poder das fortes orações. Por muitas vezes, Calais escapou das
perseguições e dos tiroteios, deixando os soldados que vinham em seu encalço
atordoados com seus repentinos desaparecimentos. O sargento armou várias
emboscadas para Calais, porém ele sempre escapava. O esquivo cangaceiro ficou
famoso por enganar os soldados com pistas falsas.
No
tiroteio com os soldados Agenor e João Manoel
o cangaceiro Calais perdeu sua primeira mulher que tinha o nome de
Joana, e ele conseguiu fugir ileso, mesmo sendo alvo de vários tiros. Joana foi
presa em Uauá sob o comando do tenente José Petronílio. Tempos depois Calais
apareceu com outra cangaceira, chamada Delmira. Essa sua segunda companheira
foi morta em uma trama impetrada entre o coiteiro Totonho Preá e os civis
armados Belo Cardoso Morais e Júlio.
Armaram
uma emboscada e Júlio atirou em Calais atingindo-o levemente em uma das mãos.
Delmira
foi atingida no abdômen por Júlio e levada ferida para Santa Rosa de Lima.
Depois de diagnosticada pelo médico Antônio Gonçalo, chegou-se a triste
conclusão que o ferimento era fatal. Delmira foi enterrada ali mesmo na cidade.
Em uma segunda feira, dia 22 de dezembro de
1937, os soldados Teófilo Pires do Nascimento, Grigório Silvino do Nascimento,
João Crisipa e Raimundo Soares (Mundô) entraram Raso da Catarina adentro e
próximo à fazenda Marruá viram algumas pegadas e resolveram segui-las. Os
soldados se espalharam diante das várias veredas. Depois de longos minutos
seguindo rastros diversos Teófilo ouviu umas pancadas e achou que podia ser o
cangaceiro escavando uma batata de umbuzeiro. O soldado retornou, reencontrou
os amigos e falou do barulho que estava ouvindo chamando-os para cercarem o
local de onde vinham as batidas. O soldado Grigório, que vinha chefiando o
grupo, não deu atenção a Teófilo e eles continuaram seguindo dispersos os
rastros. Teófilo seguiu seu instinto e se dirigiu na direção de onde vinha o
som. Sua desconfiança o levou na direção de um frondoso umbuzeiro. Teófilo viu
o cangaceiro Calais sentado com um cavador improvisado nas mãos. O cangaceiro
cavava com uma espécie de lajota. Dava uma escavada e olhava para os lados,
tirava a areia do colo, ajeitava o mosquetão entre as pernas e dava uma breve
olhada pra ver se não estava sendo observado ou seguido.
Teófilo
aproveitou o barulho da escavação e foi se aproximando. Teófilo queria na
verdade, pegar o cangaceiro a mão e prendê-lo. Enquanto o cangaceiro batia a
lajota no chão, Teófilo dava um passo coincidindo com o barulho do impacto da
rocha com o solo. Quando Teófilo estava há uns onze passos do cangaceiro, Calais
bateu as mãos nas pernas tirando a terra e pegou o mosquetão, ao tempo em que
foi olhando para o lado e apontando a arma na direção de um dos soldados que
vinha distante. O cangaceiro não viu Teófilo que estava bem próximo dele.
Teófilo sacou a pistola e atirou no rosto do cangaceiro que caiu pra trás com o
impacto do disparo. Vários tiros soaram. Teófilo correu na direção do
cangaceiro pra recolher o espólio de guerra. Todos afirmavam que o cangaceiro
era um homem rico, que andava com muito dinheiro. Enquanto Teófilo vasculhava
os bornais quase vazios do cangaceiro, alguns tiros passaram raspando seu
rosto, Teófilo olhou pra trás e viu um dos companheiros atirando de ponto em
sua direção. Teófilo revidou os tiros e o soldado parou de atirar. Teófilo partiu
na direção do soldado e o escorou com o mosquetão dizendo-lhe umas verdades. Teófilo
lembrou que um dos seus companheiros havia dito que tivesse cuidado, pois ele
podia ser traído por um dos companheiros, pois em uma discussão que houvera com
outro parceiro de farda, resultou no desligamento do desafeto do grupo, o
comandante o dispensou e esse novo inimigo de Teófilo falou que pagaria um
valora quem matasse Teófilo.
Os
outros companheiros foram chegando e cercando o cangaceiro que mesmo estando
com o rosto completamente desfigurado ainda respirava.
Teófilo
e os companheiros ficaram ali olhando o cangaceiro com o rosto todo empapado de
sangue e que teimava em não morrer e observou no peito do cangaceiro um “patuá”
pendurado em uma corrente no pescoço de Calais. Teófilo arrancou o patuá, e aí
o cangaceiro morreu. Geralmente os patuás trazem orações com fechamento de
corpos, símbolos religiosos, ervas e pós que atuam como proteção para quem usa.
Assim
que o patuá foi arrancado de Calais o corpo ficou como se tivesse morrido há
muitos minutos.
Os
soldados pegaram um burro que encontraram, colocaram Calais amarrado no lombo
da alimária e o transportaram até Macururé. Na cidade, a população se aglomerou
no centro pra ver o famoso e valente cangaceiro, agora inerte e sem vida,
transportado por seus algozes.
O
comandante Zé Soares parabenizou seus comandados pela morte do cangaceiro e a
cidade pôde ter um pouco mais de calma.
Teófilo
teve que contar por inúmeras vezes sua façanha. Ele foi também um dos maiores
vaqueiros da região. Homem sério, honesto, forte, decidido, amigo e leal.
Teófilo
esteve em Fortaleza, no inesquecível encontro entre dois ex-combatentes do
cangaço (ele e Antônio Vieira) e três ex-cangaceiros: Moreno, Durvinha e
Aristéia. Esse encontro foi registrado pela Rede Globo, no Jornal Nacional.
O sonho
de Teófilo que era conhecer a Grota do Angico, local onde morreu Lampião e
Maria Bonita.Fizemos o trajeto e na trilha da Grota do Angico, Teófilo já
nonagenário, percorreu a trilha aos poucos e com dificuldades, chegando ao
ponto do último ato de Lampião.
Tive
muito orgulho de privar da amizade de Teófilo e sua família e estive em seu
sepultamento no dia 29 de setembro de 2014, no povoado São José, Chorrochó,
Bahia. Lateral ao cemitério onde jaz Teófilo fica a igreja onde Lampião
assistiu uma das primeiras missas em território baiano e onde estão enterrados
os pais de Teófilo.
Guardo
na lembrança o som de sua voz firme, seus depoimentos bem ajustados e a saudade
do seu aperto de mão, de sua companhia em vários momentos. Teófilo resistiu até
os 96 anos de idade, forte como a aroeira, árvore símbolo da região que tantos
homens destemidos pisaram.
-Obs- esse é um dos capítulos do novo livro de João de Sousa Lima, chamado Lampião, o cangaceiro! sua ligação com os coronéis baiano, Raso da Catarina e outras histórias. Lançamento previsto para setembro.
João de Sousa Lima
historiador e Escritor.
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso - cadeira 06.
Professor Sousa lima: Boa noite. O senhor tem informações mais detalhada sobre o Calais, e.g., sua mini-biografia, como se juntou ao cangaço etc? Esse eh um dos cangaceiros dos quais pouca informação tenho. Cordialmente, Sam de Mattos, Moore, SC, USA
ResponderExcluiro que tenho de informações sobre Calais esta]ão nesse meu livro: Lampião e suas ligações com os coroneis baianos
Excluiro que tenho de informações sobre Calais esta]ão nesse meu livro: Lampião e suas ligações com os coroneis baianos
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