domingo, 31 de julho de 2016

CARIRI CANGAÇO DE PIRANHAS. NOS 78 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO: DIÁRIO DE UMA AVENTURA. - www.joodesousalima.blogspot.com





CARIRI CANGAÇO DE PIRANHAS.
NOS 78 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO:
DIÁRIO DE UMA AVENTURA.

     Dia 27 de julho de 2016, sai de Paulo Afonso as 13:20 hrs. O caminho me levou a Piranhas, cidade alagoana famosa por seu belíssimo casario colonial bem preservado e também por fazer parte da história como um dos roteiros  históricos do  cangaço.
Em Piranhas me dirigi a pousada “O Canto” e depois de acomodado recebia as visitas dos amigos Petrúcio Rodrigues e Jaqueline Rodrigues. O encontro festivo foi regado com água e a degustação de vinhos e queijos  de finas produções. Depois descemos para o centro histórico  para reencontrarmos os amigos e pesquisadores do cangaço. No Armazém Velho Chico encontramos Lourinaldo Teles, Ivanildo Silveira, Jair Tavares, Narciso Dias e Catarina, Pereirinha, Alan Alves, Luiz e Ângela, Nely Conceição Sávio, Wescley, Berg, Emanuel, Geraldo Ferraz e Rosane, Reginaldo Rodrigues, Antonio Edson, Afrânio, Thomaz Cisne, Juliana, Lívio, Aderbal e Celsinho Rodrigues. Saboreamos uma rodada de tilápia e tapioca, porém a verdadeira aventura ainda iria começar e consistia em muito mais que um simples encontro e nossa participação na XIX Missa do Cangaço. Faríamos uma visita técnica a Grota do Angico onde passaríamos a noite.
As 23:00 começou de fato nossa experiência, embarcamos  no Catamarã  “Sertão”, comandado  por Hugo. Estávamos em seis pessoas: Eu, Celsinho Rodrigues, Ivanildo Silveira, Lourinaldo Teles, Petrúcio Rodrigues e Camilo.
Noite escura e fria descemos as águas correntes do Velho Chico.  As 23:45 chegamos a pousada Remanso (mesmo percurso feito pelos policiais há 78 anos para matarem Lampião, Maria Bonita e parte de seu grupo). Em Remanso os motores da embarcação foram desligados e em total silêncio ouvimos o tinir de chocalhos de cabras e bodes do outro lado do rio, em terras sergipanas.
As 23:50 os motores do “Sertão” foram religados e seguimos para a fazenda Angicos. Antes da chegada, as 23:58, o barco parou, a porca do parafuso do leme se soltou e ficamos a deriva por alguns segundos. Ficamos conversando sobre a experiência e observado um céu negro e estrelado. Três minutos depois o ajudante de embarcação consertou a pane e as 00:01 o barco estava novamente  percorrendo o São Francisco.
As 00:05 atracamos em Angicos, desembarcamos e as 00:15 foi disparado por Lourinaldo Teles, um tiro calibre 38. O estampido fez um eco que lembrou quase uma rajada, um ronco espalhou-se por entre os cânions.
As 00:25 começamos a trilha. No “Alto das Perdidas” fizemos uma parada e filmamos e debatemos sobre o ataque aos cangaceiros comandado pelo tenente João Bezerra, o aspirante Francisco Ferreira de Melo e o sargento Aniceto Rodrigues.
Recomeçamos a trilha e as 01:15 chegamos a Grota do angico onde encontramos nove pessoas já acampadas e que nos aguardavam com redes e barracas armadas. Juntamo-nos a Sálvio Siqueira (meu primo e conterrâneo de São José do Egito), Cristiano Ferra e Geovane Macário (de Floresta), Romilson Santos (de Aracaju), Vaneildo Bispo (de Canindé do São Francisco), José Lopes Tavares ( de Verdejantes, PE), Maria Oliveira (Poço Redondo, Sergipe), Cícero Rodrigues (Maceió), Richard Torres Pereira (Serra Talhada).
Um fato observado e que contrariou a todos quando chegamos a Grota do Angico foi encontrarmos um ato covarde de depredação e vandalismo que resultou na destruição da cruz e da placa em homenagem ao soldado Adrião Pedro de Souza, morto no dia do ataque a Lampião e que eu havia participado da expedição para colocá-la no lugar três anos atrás. Um dos guias que esteve na segunda feira, dia 26, no local disse ter visto uma mulher ligada diretamente com a história do cangaço (essa mesma mulher já tinha roubado em outro momento a cruz que o tenente João Bezerra colocou na Grota, na década de 1970, homenageando os cangaceiros) e um famoso guia colocando algumas placas lá e no outro dia, na terça feira, quando retornou a Grota do Angico, a cruz e a placa já tinham desaparecidos. Dois crápulas sem respeito e responsabilidade com a história.
1:49 observamos o nascimento da luz minguante saindo ao som do saudoso Luiz Gonzaga, todos cercando uma fogueira que nos aquecia da fria neblina e que assava um bode em espetos improvisados de madeiras.
As 4:50 houve uma descarga de 15 tiros, calibre 380, realizada pelo policial Cristiano Ferraz, simulando o ataque das volantes.
O dia amanheceu, era 28 de julho de 2016, 78 anos da morte de Lampião e Maria Bonita. As 08:00 chegou o aluno de cinema baiano Lourival Custódio filho com seu pai Lourival Custódio, seu tio Rui Vieira  e o amigo Marcos Antonio.
Aos poucos foram chegando mais pessoas para participarem da missa, grupos de alunos, pesquisadores, turistas, jornalistas, escritores. Em uma das caravanas apareceu o padre Agostinho, sacerdote carioca que não perde um evento do cangaço.
Dezenas de pessoas se aglomeraram próximos as cruzes na Grota do Angico, a missa foi realizada. Aos poucos as pessoas foram saindo da Grota. Reunimos nosso grupo e também seguimos para o restaurante Angico onde saboreamos um gostoso peixe e falamos da experiência vivida na Grota do Angico. Fartos seguimos para Piranhas para participarmos do Cariri Cangaço. 
O Cariri Cangaço teve também o apoio da cidade de Água Branca onde visitamos o casarão da Baronesa Joana Torres e do Barão de Água Branca.
Em Piranhas, na pousada O Canto, em silêncio, viajei nas imagens gravadas no pensamento...     ...a trilha, os amigos, os sorrisos, o eco irradiante do silêncio do Velho Chico, a lua brilhante, a fogueira... ... a cruz roubada, a placa arrancada, os vândalos, criminosos da história....   ...bandidos ocultos na luz da evidência de um crime que desejo que não fique impune...    ... Canalhas que se apoderam da fábula do cangaço e se sentem donos do que ao povo pertence...
Preferi ficar com a lembrança da noite fria e estrelada, marcada pela cor de uma bonita lua que se descortinou ao longe em seu esplendor e da fogueira que nos aqueceu, dos sorrisos dos amigos e da aventura vivida, nas cinzas esvoaçantes da fogueira que se desmanchou ao vento do nascer do dia, que sirvam como adubos para as velhas matariam que cercam as histórias e os mistérios da Grota do Angico.


João de Sousa Lima
Historiador, Escritor
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso e Conselheiro do Cariri Cangaço.
Paulo Afonso, 31 de julho de 2016


    































Um comentário:

  1. O ESCRITOR JOÃO DE SOUSA LIMA ARREBENTA COM ESSAS SUAS MARAVILHOSAS POSTAGENS,,
    ABRAÇO

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