GRUPO
“OS CANGACEIROS DE PAULO AFONSO”:
A
MEMÓRIA VIVA DE NOSSA CULTURA, 60 ANOS DE HISTÓRIA.
Corria o ano de 1956, exatamente no
carnaval de 1956, em nossa cidade, ainda município de Santo Antônio da Glória,
da qual só nos emancipamos dois anos depois, mais precisamente no dia 28 de
julho de 1958, o carnaval era uma festa tradicional, acontecendo seus pomposos
bailes apenas nos clubes COPA-Clube Operário de Paulo Afonso e CPA- Clube Paulo
Afonso; Além do muro de pedras e arames farpados a população da Vila Poty não
tinha grupos carnavalescos formados.
Guilherme Luiz dos Santos e
mais alguns amigos tiveram a ideia de fundarem
um grupo alegórico para festejarem a folia do carnaval.
Guilherme, principal idealizador do grupo, estabeleceu
que o bloco seria formado em homenagem ao cangaceiro Lampião, bandoleiro conhecido
por suas admiráveis façanhas e valentia.
Dai pra frente, começou o mais
longevo Grupo Carnavalesco e Cultural de Paulo Afonso. No dia 02 de fevereiro
de 1956, foi fundado o Grupo Os Cangaceiros de Paulo Afonso e o escafandrista
da CHESF, Guilherme Luiz dos Santos passou a ser o Lampião e seus amigos
ganharam os respectivos apelidos oriundos dos seguidores reais de Lampião: Zé
Vieira passou a ser o “Corisco”, Francisco Joaquim era o “Salamanta”, Nelson
Ferreira o “Zabelé” (sanfoneiro), Antonio era o “Cascavel” (Zabumbeiro), Tinino
era o “Meia-Noite” (trianguista), Luiz era o “Cobra Verde”, Jaime o “Jararaca”
Paulo da Ema o “Moita Braba”, José Duque o “Topa Tudo”, Bedé era o “Canário”, Mário Praxedes “Ângelo Roque”, Zé de Abílio o “Zé Baiano”, João Pescador o
“Relâmpago”, Marcelino o “Luiz Pedro”, Damião o “Volta Seca”, Expedito o “Rouxinol”,
Zé Vicente o “Gavião”, Joãozinho o “Pega no Grito”, Luizão era o Azulão”, Mané
Criança o “Arvoredo”, além de Antônio de Graça e Zé Ribeiro.
Um fato curioso foi que
faltando a personagem principal pra ser a Maria Bonita para completar o bando,
não encontrando nenhuma mulher que quisesse participar do bando, estenderam o
convite a um dos homens e coube ao senhor Agenor essa façanha de se transvestir na
Rainha do Cangaço.
O grupo saiu às ruas em sua
primeira aparição trajando uniformes cáqui ou o mescla azul, alpercatas de
couro, lenços vermelhos no pescoço, chapéus de couro com barbicachos e
diferentes formas estrelares, punhais de madeiras, cantando e dançado ao som
dos toques da velha sanfona de oito baixos, tambores, ganzás, pífanos, triângulo,
pandeiros e realejos. Centenas de pessoas, em sua maioria crianças, iam seguindo
o grupo por onde passavam;
Reinava o carnaval do frevo,
do mela-mela com pó, seringas enormes jorrando água nos foliões.
Em 1957 o grupo foi ganhando
novos adeptos e a brincadeira foi adquirindo força, novos admiradores e
componentes. Com o número de participantes aumentando, puderam dividir a
confraria entre cangaceiros e volantes, passando o bando a encenar o combate
entre cangaceiros e soldados que resulta sempre na morte de Lampião e Maria
Bonita.
Um dos mais famosos
cangaceiros foi Francisco Joaquim da Silva, o “Corisco”, nascido em 1936,
pedreiro, natural de Tavares, Paraíba, ativo participante de todos os carnavais
desde sua entrada até sua morte.
O Grupo seguiu sempre fazendo
sucesso e mesmo fora da época de carnaval vem sendo convidado para participar
dos eventos culturais de várias cidades brasileiras.
Desde seu início, Os
Cangaceiros de Paulo Afonso ganhou outras dimensões e no dia 22 de novembro de 1987, em uma luta
encabeçada pelo atual presidente da instituição, o senhor Heleno José Oliveira,
criou-se a entidade de natureza Jurídica, chamada ASSOCIAÇÃO FOLCLÓRICA E
COMUNITÁRIA “OS CANGACEIROS DE PAULO AFONSO”, sendo o seu primeiro presidente,
o seu fundador, Guilherme Luiz dos Santos, que preservou essa cultura por mais
de 50 anos, só se afastando por problemas de saúde e falecendo no dia 30 de
setembro de 2013, aos 79 anos de idade.
Na análise do professor Marcos
Edilson de Araújo Clemente, em seu livro “LAMPIÕES ACESOS, o Cangaço na Memória
Coletiva”, trabalho que foca esse tão importantíssimo Grupo Cultural,
observamos:
Assim, percebemos o quanto o carnaval
passou a integrar o universo daqueles homens simples. Vivendo a maior parte do
tempo dedicado ao trabalho, sob duras condições, não tardaram a inventar formas
alternativas de sociabilidade tendo por base o seu próprio lastro cultural...
... Acreditamos que por esses
mecanismos foi possível articular um nível de compreensão influente na
organização das práticas sociais do grupo, enquanto referencias do passado e do
presente, resultando em uma construção de sentidos para a história de Lampião.
Dessa forma, vemos que o grupo utiliza o passado como uma referência permanente
de sua consciência de mundo, como uma possibilidade de conversar em seu cotidiano
as formas antigas e ainda como modelo diante de momentos de mudanças.
A esse grupo devemos muito da
nossa tradição, valores da cultural imaterial, da preservação histórica
retratada e colhida na fonte oral do nosso povo nordestino.
O Grupo Os Cangaceiros de
Paulo Afonso é patrimônio da nossa cultura, orgulho de nossa luta diária na
preservação de nossas histórias.
No contexto da tradição preservada
o grupo é nossa maior referência.
Prestes a completar 60 anos,
coloquemos o grupo no mais alto patamar de sua importante trajetória e saudemos
os homens que em uma tarde de carnaval, em ido 1956, se lançaram na folia sem
imaginar que suas ideias e ações, através de suas rústicas vestimentas, nos presenteariam com o mais importante e duradouro grupo cultural.
João de Sousa Lima
Escritor e Historiador.
Membro da ALPA – Academia de
letras de Paulo Afonso, cadeira nº 06
Membro da SBEC- Sociedade
Brasileira de estudos do Cangaço.
Paulo Afonso, 21 de janeiro de
2016
Obs- Essa matéria sairá em página impressa do Jornal Folha Sertaneja de janeiro de 2016
www.folhasertaneja.com.br
www.joaodesousalima.blogspot.com
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