MARIA
BONITA,
“A
JOIA DA RAINHA DO CANGAÇO”.
O
cangaço teve em seu apogeu uma forte exposição de ouro, através dos
enormes trancelins, pingentes, anéis, moedas Libras Esterlinas, alianças,
crucifixos, punhais marchetados com alianças e anéis de ouro, peças usadas e exibidas
pelos cangaceiros.
Raro era não ver um
cangaceiro ou cangaceira com peças em ouro ornamentando seus dedos, pescoços e chapéus.
A maioria do ouro era fruto
de pilhagens, porém existiam ourives que vendiam peças aos diversos bandos. O próprio
Pedro de Cândido, coiteiro que não foi o principal responsável mais que esteve envolvido
na trama da traição que resultou na morte de Lampião e Maria Bonita, era um dos
ourives que vendia objetos do nobre metal aos cangaceiros.
Um dos saques mais
comentados e que trouxe verdadeira
fortuna ao bando de Lampião foi o famoso ataque a baronesa
Joana Torres, fato ocorrido em 1922 na cidade alagoana de Água Branca. O
Crucifixo da Baronesa que hoje pertence ao escritor Frederico Pernambucano de
Melo é uma das mais belas joias que representa aquela época, compondo o vasto
acervo adquirido por Frederico a família do tenente João Bezerra, matador dos
cangaceiros na Grota do Angico.
Uma peça em ouro que prendia
um cacho de cabelo da cangaceira Lídia me foi presenteado por uma de suas sobrinhas e
hoje encontra-se com o escritor Antonio
Amaury.
A Cangaceira Aristeia Soares
de Lima dividiu comigo e seu filho Pedro Soares um par de brincos que ela
ganhou do cangaceiro Cruzeiro, quando de sua entrega em Santana do Ipanema.
Quando foquei minhas pesquisas
e entrevistas colhendo material para a realização do livro a Trajetória
Guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço, fiquei sabendo de uma jóia que
ela havia dado de presente a sua irmã mais velha, Benedita Gomes de Oliveira, presente que
causou inveja entre as irmãs e que gerou várias discussões entre elas, ao ponto
de ficarem sem comunicação. Sempre que eu perguntava sobre essa jóia e com quem
estaria, as informações eram vagas ou descartadas.
O que de mais preciso
consegui colher foi que estaria com um dos 15 filhos de Benedita e Fabiano
Oliveira. O único filho desse casal que
via sempre era o senhor Abílio Fabiano
Neto de Oliveira, por residir lateral a Casa de Maria Bonita, residência que
passou por um processo de restauração e que hoje abriga o Museu Casa de Maria Bonita. Seu Abílio sempre foi
muito fechado e sempre que sentia uma mínima aproximação para falar sobre
alguma coisa relacionada ao cangaço ou
sua família ele se esquivava do interlocutor e saia da presença da pessoa,
deixando o silêncio como resposta.
O tempo passou e eis que me
ligam pedindo minha presença no povoado
Malhada da Caiçara. Fui ver o que era de tão importante e para minha surpresa a
famosa jóia presenteada pela Rainha do Cangaço a sua irmã Benedita, apareceu
para negociação. Não perdi tempo e adquiri de imediato a jóia tão misteriosa,
mais antes tive que garantir que não
iria divulgar o nome da pessoa que mantinha em seu poder a peça , preservando a identidade
do negociador.
Detalhes ajustados e hoje a joia
faz parte do meu acervo e será exposta para conhecimento e apreciação de todos
quando da criação do Museu do Nordeste, projeto em pauta para consolidação em
2017, em Paulo Afonso, Bahia.
João der Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da Academia de Letras
de Paulo Afonso, cadeira 06
Conselheiro do Cariri Cangaço
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira
de Estudos do Cangaço.
Paulo Afonso, Bahia, 30 de
junho de 2016.
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