Vladimir Carvalho e João de Sousa Lima em Fortaleza, ceará |
conheci Vladimir Carvalho em 2006 durante o Cine Cerá quando fui lançar o livro: Moreno e Durvinha, Sangue, amor e fuga no cangaço.
eu já era fã dos seus documentários e conversamos bastante sobre suas produções. quando nos despedimos eu o convidei para o lançamento do livro e a noite ele compareceu ao lançamento, chegou na hora marcada e falou da satisfação de está naquele momento tão importante e do prazer de conhecer os cangaceiros Moreno e Durvinha.
anos depois nos reencontramos em outro momento do Cine Ceará e pra minha surpresa me reconheceu e chamou pelo nome. aquilo me deixou muito feliz, um homem que tem uma obra importantíssima, ser uma pessoa tão simples ao ponto de recordar de uma pessoa que passou poucos momentos. nesse dia fomos jantar juntos e depois participar de um programa de rádio junto ao amigo Ângelo Osmiro.
MAIS QUEM É MESMO VLADIMIR CARVALHO???....
Vladimir Carvalho
Nasceu em Itabaiana, 31 de
janeiro de 1935) é um cineasta e documentarista brasileiro de origem paraibana.
Começou seu curso universitário em João
Pessoa, Paraíba, mas transferiu-se para Salvador a fim de ir ao encontro de um dos
grandes núcleos do Centro Popular de Cultura CPC da União Nacional dos Estudantes UNE. Frequentando a Universidade Federal da Bahia conheceu Glauber
Rocha e integrou o chamado
movimento do cinema novo (sendo parte da vertente documentarista do movimento, ao mesmo
tempo, sendo influenciado e influenciando-o também, com o estilo de sua
cinematografia documentária inovadora).
A mãe, Mazé, é marcante na sua condição de líder de
sua família e pelo espírito de solidariedade para com os pobres. O pai, Luís
Martins, um homem dos sete instrumentos, vai da atividade em sua fábrica de
móveis Lyon, em Itabaiana, cidade da zona da mata do estado da Paraíba, ao
jornalismo bissexto que pratica na região do vale do rio Paraíba, próxima à
capital do estado da Paraíba, e exerce profunda influência sobre o filho, até
sua morte prematura aos 39 anos.
Preocupado com a educação de Vladimir, o pai o
conduz a Recife, entregando-o aos cuidados de sua tia Alayde, irmã
de Mazé. Ali começa, de fato, a cursar o primário, longe dos banhos de rio e
dos apelos da feira semanal de Itabaiana, uma verdadeira festa para o menino.
Sente profundamente a ausência dos pais. Conforta-o, entretanto, a vida na
metrópole pernambucana, onde descobre um mundo inteiramente diferente da sua
Itabaiana, na Paraíba. Assiste ali, entre tantos acontecimentos e lugares
grandiosos e diferentes de sua cidadezinha de interior, com grande emoção, a
chegada dos pracinhas (Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial) de volta da Itália e o navio que os transporta aproximar-se do
porto tocando os hinos e canções patrióticas.
Em 1949 volta à Paraíba, sempre morando com a tia
Alayde, que vai viver em João
Pessoa. Neste ano, nasceu seu
irmão, Walter Carvalho, que não tem tempo de conhecer verdadeiramente o "velho"
Lula, que morre antes dele completar um ano. Hoje, Vladimir considera Walter
como a cópia fiel do mestre Lula, não só fisicamente, mas na habilidade com
equipamentos e na genialidade como se conduz no ofício cinematográfico.
Terminado o ginásio, em 1954, onde foi aluno de
geografia de Linduarte
Noronha, que ainda não era cineasta,
ingressa no curso clássico. Fazia um programa de rádio, Luzes do Cinema, em
1959, em João Pessoa, e colaborou na imprensa local como crítico iniciante
(ganhando o apelido de Vladimir Vorochenko por conta da mania de filmes
russos-soviéticos), quando Linduarte Noronha o convidou para escrever o roteiro
de Aruanda, do qual seria, depois, também assistente de
direção, com João Ramiro Mello, um amigo para sempre.
A obra
Depois de um desentendimento
com Linduarte Noronha a respeito do documentário Aruanda, Vladimir
e João Ramiro realizam o documentário Romeiros da Guia. Em seguida vai
para Salvador terminar o curso de filosofia na Univeridade
da Bahia. Entre seus colegas de curso incluem-se Caetano
Veloso, que ainda era desconhecido
do grande público, e Carlos Nelson Coutinho. Além destes intelectuais, conhece também Glauber
Rocha, que estava preparando Deus e
o Diabo na Terra do Sol. Passa as noites na boemia artística, sempre na
companhia destes amigos, como Caetano, Torquato
Neto (Gilberto
Gil trabalhava e não podia
acompanhar), Orlando Senna e Álvaro Guimarães, teatrólogo e cineasta que lançou Maria
Bethânia em Salvador, bem antes
do show Opinião, e Manoel Araújo, gravurista que posteriormente dirigiu a Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Foi em Salvador que Vladimir entrou para as
fileiras da militância político-cultural no CPC, Centro Popular de Cultura (entidade vinculada
à UNE, União Nacional dos Estudantes), da Bahia.
De Salvador, Vladimir recebe o convite de Eduardo
Coutinho para ser seu assistente
no filme Cabra Marcado para Morrer. Paralelamente a este envolvimento no Cabra
Marcado para Morrer, Vladimir foi com Eduardo Coutinho visitar as filmagens de
Os Fuzis, do cineasta Rui Guerra, no interior.
Cabra marcado para morrer
Em 1964, ano do Golpe de Estado que instalou
a ditadura militar no país, Vladimir e Coutinho foram
surpreendidos em plena filmagem do documentário Cabra Marcado para Morrer, no
engenho Galiléia, em Pernambuco. Após saberem sobre o golpe, a fuga e a entrada na
clandestinidade são inevitáveis, porque sabiam que seriam presos pela ditadura;
já que estavam filmando um tema explosivo, o das Ligas
Camponesas. A pressão política e a
repressão que se seguiram foram enormes. Portanto, Vladimir foi encarregado de
proteger dona Elisabete Teixeira, viúva de João Pedro, durante a debandada.
Maria do Socorro, sua noiva, com quem se casaria dois anos depois, foi
procurá-lo no engenho Galiléia (com medo do que poderiam fazer ao noivo após o
golpe) e foi levada presa para o Recife. Depois de constatada sua
"inocência" (porque ela não estava participando diretamente das
filmagens, nem tinha ligações políticas oficiais com a esquerda), foi solta.
Foi ela quem ajudou Vladimir a provicenciar um disfarce para dona Elisabete:
oxigenaram seus cabelos, vestiram-na com um chitão colorido, pintaram-lhe os
lábios e os rostos e deram-lhe uns óculos escuros. Com isto, eles conseguiram
ultrapassar as barreiras policiais sem serem vistos. Vladimir coloca dona
Elisabete à salvo em um bairro suburbano do Recife, junto a uma família de um
antigo companheiro de Joâo Pedro. A partir daí, Vladimir entra decididamente na
clandestinidade,para se proteger da prisão política, ocultando-se em um sítio
nas proximidades da cidade de Campina
Grande, na Paraíba. Com uma
identidade falsa, passa a se chamar José Pereira dos Santos. Foi no sítio, no
interior da Paraíba, que Vladimir ficou conhecido como Zé dos Santos, em
virtude das esculturas de santos de madeira que ele passou a esculpir,
desenvolvendo a herança paterna de sua vocação artística (desde então, ele
nunca parou de esculpir, realizar xilogravuras e pintar, revelando o outro lado
de sua sua personalidade).
No Rio de Janeiro
Passados os primeiros sobressaltos advindos com o
golpe de 1964, Vladimir pôde sair da clandestinidade e viajar para o Rio de Janeiro, onde foi apresentado por Eduardo Coutinho a Arnaldo
Jabor. Como diretor assistente de
Jabor, Vladimir participou das filmagens de Rio Capital do Cinema e Opinião
Pública. Aprende com o Jabor a forma descontraída de filmar, desmistificando o
endeusamento do ofício de cineasta que havia na época. Estabelece-se, então, no
Rio de Janeiro, trabalhando como repórter no Diário de Notícias. Neste ofício
de repórter, ele fica conhecendo todos os meandros da cidade do Rio de Janeiro.
Freqüentou também o bar da Líder, onde se encontravam periodicamente todos
cineastas. Apesar disto, ele não perde os vínculos com o Nordeste, voltando
para lá para filmar.
Como repórter, Vladimir cobriu as famosas passeatas
contra a ditadura, a dos cem mil, inclusive, e entrevistou os líderes
estudantis do movimento. Ele próprio, junto com a esposa Maria do Socorro,
forma um grupo de passeata com Luís Carlos Lacerda de Freitas, o Bigode, Norma
Bloom e Arduíno Colasanti.
Em 1969, Vladimir apresentou o seu curta metragem A
Bolandeira no Festival de Cinema de Brasília, ganhando um dos prêmios. Foi por
isto que ele reencontra Fernando Duarte, companheiro das filmagens do Cabra
Marcado para Morrer; que o convida para ficar em Brasília a fim de realizar o
projeto do núcleo de produção de documentários do Centro
Oeste na UnB. Ele aceitou o desafio e ficou, sem saber que
seria uma estadia permanente; porque o convite inicial foi para permanecer na
cidade apenas dois meses. Vladimir, sem ter planejado inicialmente isto, adota
então a cidade como sua e por ela também é adotado, tornando-se professor de
cinema na UnB e importante líder intelectual local. A partir de Brasília, ele
pôde dar prosseguimento ao seu trabalho enquanto documentarista preocupado com
as questões sociais. Realizou vários de seus curtas e longas metragens,
ganhando inúmeros prêmios, entre eles, a Margarida de Prata, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
Brasileiros). Com isto, seu prestígio enquanto cineasta documentarista cresce
visivelmente.
Em Brasília
Em 1971, seu longa metragem O País de São Saruê foi
retirado bruscamente do Festival de Cinema de Brasília pela censura federal. Em
sinal de protesto contra tal fato, a comissão de seleção do festival se demite.
Houve uma grande celeuma, porque o filme, depois de ter sido selecionado, foi
vetado e apreendido pela censura. As autoridades presentes ao festival são
vaiadas. "São Saruê" permanecerá apreendido e impedido de ser exibido
durante toda a década de 1970. Apesar disto, o filme recebe convites até
do Festival de Cannes, sem poder ser apresentado fora do país (porque
havia uma únca cópia em película do filme).
Após o triste e autoritário episódio da censura e
apreensão do filme O País de São Saruê, Vladimir continuou suas atividades,
lecionando na UnB e filmando outros filmes, mesmo com parcos recursos. Além disso,
ele fundou, em Brasília, a Associação Brasileira de Documentaristas seção DF,
da qual será, posteriormente, presidente. A associação realizou o primeiro
Festival do Filme Brasiliense.
Em 1979, com o processo político chamado de
Abertura, pela ditadura militar, o filme O País de São Saruê é liberado do
"cárcere" onde se encontrava e é recebido calorosamente pela crítica
e pelo Festival de Brasília, ganhando o prêmio especial do júri.
Na década de 1980, Vladimir filma seus longas
"O Homem de Areia" (1981) (sobre a vida de José Américo de Almeida) e "O Evangelho Segundo Teotônio". "Teotônio"
ganha a Margarida de Prata e "O Homem de Areia", o prêmio do Concine (Conselho Nacional de Cinema). Em 1986,
Vladimir reativou suas filmagens sobre um tema que lhe foi muito caro: a
realidade dos operários que construíram Brasília, os chamados candangos.
Conterrâneos Velhos de Guerra traz de volta o obscuro episódio de uma chacina
de operários ocorrida num acampamento de uma das empreiteiras responsáveis pela
construção de Brasília.
A Cinemateca Uruguaia o homenageou com uma
retrospectiva completa de sua obra e, por isto, Vladimir foi ao Uruguai participar das homenagens e dos debates.
Em 1990, Conterrâneos Velhos de Guerra surpreende o
Festival de Brasília e sai consagrado com muitos prêmios, inclusive o de melhor
filme em sua categoria. Como sua primeira apresentação no festival foi em 16mm,
o filme, transformado para 35mm, foi reapresentado no encerramento do Festival
de Brasília de 1992, com a presença do ministro Antonio
Houaiss. Ainda em 1992, Vladimir
viaja para a Europa, porque foi convidado para ser jurado no Festival Cinéma du Réel,
na França, onde Conterrâneos Velhos de Guerra é convidado hour-concours.
Em 1994, Vladimir cria a Fundação Cinememória,
mudando-se para uma casa na avenida W3 sul, em Brasília, para onde leva todo o
seu acervo. A inauguração da Fundação Cinememória dá-se durante o Festival de
Brasília, com o apoio de Luíza Dornas, então Secretária de Cultura. O cineasta
italiano Bernardo Bertolucci é um dos assinantes do livro de presença e
saúda a iniciativa de Vladimir propondo "entrar para o Cinema Novo
brasileiro".
Em 1998, a Câmara Legislativa do Distrito Federal
(CLDF) - Poder Legislativo local - confere-lhe o título de Cidadão Honorário
de Brasília, pelos serviços prestados à cultura e por sua dedicação à comunidade
brasiliense. Ainda neste ano, Vladimir dá início à produção de seu longa
metragem Barra 68, outro projeto que lhe era muito caro desde que chegou a
Brasília. O filme conta as agressões que a Universidade de Brasília sofreu com
a ditadura militar e a dura repressão que se seguiu.
Barra 68 é o filme que inaugura o Festival de Brasília de 2002. Com o
prêmio que recebeu pelo filme, Vladimir constrói um pequeno auditório na
Fundação Cinememória.
Em 2004, por decreto do governo do DF, Vladimir é
nomeado embaixador cultural da cidade, junto com outras personalidades.
Em 2005, Vladimir começa a filmagem do longa
metragem O Engenho de Zé Lins, sobre o escritor paraibano José Lins do Rego. Em 2000 Vladimir é convidado para presidir a
Fundação Astrojildo Pereira , entidade criada com o objetivo de divulgar e
incentivar a cultura brasileira, além de preservar a história dos militantes
comunistas brasileiros.
João de Sousa Lima, Ângelo Osmiro e Vladimir Carvalho |
Vladimir Carvalho e João de Sousa Lima |
Vladimir Carvalho participando de palestra de João de Sousa Lima com grupo de estudos do cangaço do Ceará |
Vladimir e João de Sousa Lima na Rádio Assunção |
Nenhum comentário:
Postar um comentário