segunda-feira, 20 de maio de 2019

A TRAJETÓRIA DE JOÃO DE SOUSA LIMA: UM DOS MAIS NOTÁVEIS ESCRITORES DO TEMA CANGAÇO

João de Sousa Lima e Antonio Amaury entrevistam Olindina Café


     No rastro do cangaço
Reportagem especial conta a trajetória de João de Sousa Lima, um dos maiores pesquisadores do cangaço

Por José Augusto Araújo
Colaboração de Dorisvan Lira

    Teatro José de Alencar, junho de 2011, lançamento do filme “Os Últimos Cangaceiros”. Filme sobre a trajetória e fim do cangaço, inspirado no livro Moreno e Durvinha, escrito por João de Sousa Lima. Olhares atentos à telona, João assiste o filme acompanhado de Aristéia Soares, ex-cangaceira, Damarys Soares, nora da ex-cangaceira, Dinho, Nely, Inacinho e João Souto (todos filhos de Moreno e Durvinha).
Já havia três anos que Durvalina havia falecido e apenas um ano que Moreno seguiu sua eterna companheira também nesse caminho. Seus filhos reviam seus pais com imensa saudade, as lágrimas foram inevitáveis. Quatro anos antes fora mostrado no Jornal Nacional o reencontro entre Moreno, Durvinha, Aristéia, todos ex-cangaceiros e os dois ex soldados de volantes, Antonio Vieira (presente no dia da morte de Lampião) e Teófilo Pires do Nascimento..
Foi essa a primeira vez que o nome de João de Sousa Lima apareceu na imprensa nacional, e marcou sua trajetória. Nesta reportagem especial contamos detalhes da carreira de um dos maiores pesquisadores do cangaço na atualidade, confira.
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Biografia (BOX?)
Ao norte do estado de Pernambuco se encontra a mesorregião do sertão Pernambucano, onde a vegetação é composta pela caatinga, o clima da região é o clima semiárido, onde predomina as altas temperaturas e baixos índices de umidade relativa do ar. Já mais próximo do litoral pernambucano se localiza a cidade de São José do Egito, que fica a apenas 404 km da capital deste estado. Era nesse município que morava o casal Raimundo José de Lima e Rosália de Sousa Lima juntos com seus quatro filhos José de Sousa Lima, Manuel José de Lima, Maria Bernadete Lima Santos e João de Sousa Lima.
Em meados de 1960 a economia pernambucana começava a se estruturar novamente, porém, a vida no sertão nunca é fácil e sempre cobra seu preço. Por esse motivo, pouco tempo depois do nascimento de seu quarto filho o casal decidiu mudar-se para no norte da Bahia, mas precisamente para a cidade de Paulo Afonso, que havia pouco tempo havia sido fundada e tombada como município. Esse quarto filho foi batizado de João de Sousa Lima.

Chegando ao novo município a família se alocou na “Rua da Frente”, próximo a Baixa Funda, todos os irmãos de João eram mais velhos e dessa forma ele dividia seus dias entre o estudo, na escola Casa da Criança I e na rua com seus primos que também se mudaram para Paulo Afonso acompanhando os seus pais. Nesta época João não imaginava que se tornaria um historiador, quanto mais o historiador renomado que é hoje em dia.

Nasce o pesquisador
João de Sousa Lima é antes de tudo entusiasta pelo cangaço, entusiasmo que contagia qualquer um que o conheça. A fala segura, o cuidado com as palavras, ele é o ideal de pesquisador, pois sempre reforça seu compromisso na busca e no relato dos fatos. “O historiador tem compromisso com os fatos, não com as versões”, comenta.
São cerca de 20 anos pesquisando sobre o Cangaço, luta caracterizada como revolucionária, em que grupos armados desafiavam a autoridade do estado e teve como principal líder Lampião (Virgolino Ferreira da Silva), ex-capitão da Guarda Nacional. Episódio segundo ele ainda pouco explorado e cheio de distorções tendo encontrado inúmeros absurdos.
O interesse pelo tema começou em 1994, quando o amigo e professor Edson Barreto o incentivou a pesquisar na região as inúmeras histórias de pessoas que viveram a época do Cangaço. “Depois desse dia, quando travei contato com as pessoas que haviam vivido a saga do cangaço, nunca mais consegui parar de pesquisar”, conta João.
Praticamente um Indiana Jones do Cangaço, no seu trabalho pioneiro sobre Lampião percorreu mais de 12 mil km em uma moto CG (Honda) 125 cc, durante quatro longos anos através das terras áridas do Raso da Catarina, reserva ecológica com 105 hectares. A experiência rendeu o livro “Lampião em Paulo Afonso”.
O que muitas pessoas não sabem é que essa ligação de João pelo Cangaço também tem raízes de sangue. Isso mesmo, ele é descendente de Antônio Silvino, chamado Rifle de Ouro, cangaceiro conhecido por sua boa índole, que não roubava famílias nem incomodava inocentes, só ia atrás de seus desafetos para cobrar as ofensas que recebeu. Tanto conhecido pela boa índole que quando saiu da vida de cangaceiro assumiu o cargo de feitor na construção de uma estrada, emprego dado pelo presidente Getúlio Vargas.
O seu trabalho já rendeu a publicação de 13 livros. O último deles se chama “LAMPIÃO, O CANGACEIRO! Sua ligação com os coronéis baianos, Raso da Catarina e outras histórias”, e foi lançado em outubro. De suas andanças pelo sertão João diz o que lhe dá mais prazer:
“Poder conhecer as pessoas da época, colher a história oral e real, conviver com ex-cangaceiros, coiteiros, soldados volantes, foram momentos marcantes. Com vários deles fiz grandes amizades, me tornei confidente. Muitos ainda estão vivos, mesmo que beirando os 100 anos de vida. Essa é a parte mais gratificante de tudo”, relatou o pesquisador.
Reconhecimento
Sua carreira é nacionalmente reconhecida. Um dos episódios que remonta a construção dessa trajetória foi contado no início dessa reportagem, quando um de seus livros, “Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço”, teve adaptação para o cinema.
Nas mãos do cineasta cearense Wolney Oliveira, que transformou a história desses dois membros do bando de Lampião no filme “Os últimos cangaceiros”. A película recebeu inúmeros prêmios no país e no exterior, entre eles o de Menção Especial do Júri no 8° Amazonas International Film Festival (2011) e no México ganhou como Melhor Longa-metragem Ibero-americano em 2012.
Na ocasião ainda da obra sobre Moreno e Durvinha surgiu a oportunidade de realizar o reencontro entre três ex-cangaceiros e dois ex-policiais da volante, o encontro tornou-se reportagem para o Jornal Nacional e impulsionou ainda mais a divulgação do seu trabalho.
Para ele, outro trabalho lançado em 2011 lhe deu igual prazer. O livro “A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço” marcou seu trabalho.
“Eu escrevi a biografia dela, colhendo informações desde sua infância até a morte, foi o primeiro trabalho especifico só sobre sua vida e hoje esse trabalho é uma referência para quem estuda as mulheres e o cangaço, também foi um dos livros que mais me deu prazer em concluir”, contou João.
Sobre a personagem ele a descreve como “uma mulher que rompeu parâmetros de uma época machista, andou a margem da lei, se apaixonou por Lampião e nas veredas infinitas do sertão viveu sua mais interessante paixão”.
Historiador, Escritor, Pesquisador, autor de 13 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, onde ocupa a cadeira número 06 e da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
Fomentador da cultura
Além de escritor e pesquisador, João de Sousa Lima é no momento Diretor de Cultura do Município de Paulo Afonso. A frente dessa responsabilidade ele busca promover a cultura local. Uma das primeiras inovações que trouxe foi transformar o Espaço Cultural Raso da Catarina, outrora biblioteca em um espaço para exposições artísticas e culturais.
"Quero realizar alguns projetos com os artistas que vivem sua cultura que chamamos de cultura marginalizada; dar apoio aos que nunca puderam publicar ou realizar seus projetos por falta de apoio. Para isso, vamos buscar os Fundos Culturais Federais e do Estado, para que possa continuar o processo de crescimento", falou em uma entrevista o historiador.
Desenvolve entre outros projetos o trabalho “Cultura e Arte” que levará a história para os alunos e comunidades da Zona Rural, ministrando palestras em escolas públicas.
Apóia o grupo “Os Cangaceiros” que há 56 anos reencena confrontos entre a volante e o bando de Lampião. Ministra palestras em universidades, seminários e encontros voltados para a educação e a cultura popular nordestina.
Uma de suas ações mais notáveis ações para o resgate da história do cangaço foi o projeto que recuperou e transformou em museu a casa onde Maria Bonita nasceu. A residência localizada na área rural de Paulo Afonso hoje se chama Museu Casa de Maria Bonita.
Instituições que participa
·         João de Sousa Lima participa de algumas instituições dedicadas a pesquisa e ao resgate e preservação da cultura, conheça algumas delas.
·         É imortal e criador da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso e ocupa a cadeira número 06.
·         Sócio permanente da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.
·         Membro e secretário da UNEHS – União Nacional de Estudos Históricos e Sociais, com sede em São Paulo.
·         Membro fundador do IGH – MSPA - Instituto Geográfico e Histórico da Microrregião do Sertão de Paulo Afonso.
·         Membro do CECA/NECTAS – Centro de Estudos da Memória do Cangaço – UNEB CAMPUS VIII.
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O tesouro

Em sua casa João guarda um verdadeiro tesouro, em suas prateleiras tem desde gramofones que ainda tocam, até o facão que decepou a cabeça de Lampião, possui espadas que foram usadas na batalha de Canudos, o punhal perdido por Maria Bonita em uma situação que ela se viu ferida em meio a um combate e teve que ser carregada para segurança.
Mas segundo o próprio João o item mais valioso de sua coleção é o Punhal que pertenceu a Lampião, que o presenteou a Militão Teixeira Lima, do povoado Olho D’água do Souza. Militão repassou o punhal para seu filho, Irineu. João passou 14 anos tentando comprar o punhal de Lampião até que um dia, para surpresa do historiador, Irineu lhe presenteou com o punhal. Hoje João o guarda como um tesouro inestimável.

João de Sousa Lima é um expoente da pesquisa da história brasileira, especialmente de um capítulo ainda negligenciado em nossos livros e escolas. Andarilho do sertão, A marca que Lampião deixou em nossa terra fica evidente até os dias de hoje e como a lenda de Lampião é imortal, também será imortal o trabalho de João, responsável pela desmistificação do Capitão Virgolino Ferreira da Silva, estudando os seus passos e quebrando as mentiras e lendas contadas acerca de seus atos.

OLHO: “O historiador tem compromisso com os fatos, não com as versões”

Livros publicados
Conheça alguns dos 19 títulos escritos por João de Sousa Lima:
·         Lampião em Paulo Afonso;
·         A Trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço;
·         Moreno e Durvinha: sangue, amor e fuga no Cangaço;
·         Maria Bonita: diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço;
·         100 Anos de Luiz Gonzaga;
·         100 Anos da Usina Angiquinho, O Rio São Francisco, Delmiro Gouveia e a CHESF;
·         Na Mala do Poeta I
·         Na Mala do Poeta II
·         No Silêncio do Ocaso.
·         As caatingas, debates sobre a ecorregião do Raso da Catarina.
·         Ecologias do São Francisco.
·         Ecologia de Homens e Mulheres do Semi-Árido
·         Lampião, o cangaceiro! Sua ligação com os coronéis baianos, Raso da Catarina e Outras histórias.

www.joaodeosousalima.blogspot.com



João de Sousa Lima ladeado pelo soldado João Calunga e Ozeias Oliveira (irmão de Maria Bonita)


João de Sousa Lima, Ozeias e João Maria do olho Dágua (um dos matadores do sargento Deluz)




















João de Sousa Lima e Antonio Amaury Correa de Araujo na casa da coiteira Generosa Gomes de Sá

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