sábado, 23 de outubro de 2010
Prazer em conhecer: Lampião Aceso entrevistou o pesquisador e escritor Antonio Vilela.
Vilela é de fato O cangaceiro evangélico. Codinome batizado pelo amigo Kydelmir Dantas. Um pesquisador que tomou uma vertente diferente, mais pessoal, optando explorar um capitulo pouco conhecido da saga de Lampião quando esse atuou no agreste pernambucano.
Seu mais novo trabalho apresenta cangaceiros e volantes que até ontem não sabíamos que existiam.
Vilela resume seu abraço no cangaço.
"A SBEC, esta maravilhosa confraria que reúne os melhores pesquisadores do país me acolheu em 2006, porem meu interesse e minhas andanças começaram em 1975 quando iniciava namoro com uma cidadã da terra da resistência, uma potiguar de Mossoró. E durante minhas visitas à Mossoró conheci a cadeia onde foi aprisionado o Jararaca. E aquela história me prendeu também. Começo a buscar a bibliografia e em 1997 inicio de fato minha pesquisa de campo no sentido de investigar e conhecer lugares e personagens.
Meu maior incentivador a botar no papel o resultado destas andanças e leituras foi meu filho Lincoln. Eu costumo chamar meu primeiro livro de "um acidente de percurso", mas graças a Deus, um acidente que me trouxe e tem trazido muitas alegrias.
Olha nós aqui desfrutando desse evento magnífico?"
Então apresente suas crias!
Então, temos aí "O incrível mundo do cangaço vol. 1" lançado em 2006 que já está em sua 4ª edição saindo mais uma fornada este mês. E o lançamento que estou divulgando aqui no Cariri "O incrível mundo do cangaço vol. 2". É diferenciado, pois estou apresentando volantes e cangaceiros desconhecidos. Por exemplo, um que foi citado pelo seu conterrâneo Optato Gueiros em sua obra "Lampeão, memórias de um oficial de volantes" "o Paizinho Baio". Optato o considerou o Lampião do agreste e eu precisava saber quem foi este homem. Paizinho Baio era natural de Brejão de Santa Cruz, distrito de Garanhuns hoje emancipado como Brejão.
Visitando estas cidades por sorte ou ironia do destino eu consegui localizar parentes do Paizinho Baio. Como sabemos não é tarefa fácil são poucas pessoas com capacidade de aceitar e admitir que o parente foi um criminoso... Quer mais coincidência? Descobri que o meu vizinho era neto do Paizinho, me refiro a seu "Nezinho Baio" que me prestou grandes informações sobre ele e sua família. Então graças a este amigo ampliei meu trabalho. Hoje quando colegas de pesquisa ouvem falar sobre este cangaceiro ou sobre os militares Caçula e José Jardim lembram-se de Vilela.
Livro Preferido de outro autor?
Parafraseando Chacrinha eu quero dizer que também vim pra confundir enquanto muitos criticam achincalham o padre Frederico Bezerra Maciel eu o exalto seus livros com admiração. Porque digo isto, se nós analisarmos os seis volumes de seu trabalho "Lampião, seu tempo e seu reinado" vemos a fantástica cronologia, e em especial os detalhes da localização geográfica de cada lugar em mapas o que ninguém havia feito antes. As trajetórias, os combates, até o alimento consumido pelos cabras estão detalhados em sua obra.
Qual é o primeiro título recomendado para um calouro?
Guerreiros do sol de Frederico Pernambucano de Mello.
Com quantos personagens desta história você teve contato?
Posso até nomear: Candeeiro, Vinte e Cinco, Aristéia, Durvinha, Moreno e Sila.
Do time dos volantes eu estive pessoalmente com o tenente João Gomes de Lira; Teófilo Pires; Neco de Pautila; sargento Elias Marques; cabo "Grilo" o soldado que enterrou Lampião. Pelo menos os eu me recordo no momento. Coronéis eu não conheci nenhum, já Coiteiros eu estive com vários, mas por questões de ética eu não citarei os nomes. É bom dizer que mantive e mantenho certa amizade com todos.
Qual destes contatos foi, ou foram, os mais difíceis?
Parece mentira, mas foi com dona Expedita Ferreira Nunes, filha de Lampião que mora na sua capital, encontrei empecilhos, mas acabei conseguindo e afirmo que é uma pessoa atenciosa fina e carinhosa.
Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado?
Duas decepções. Uma foi com o Pedro de Tercila na ocasião em que fui a Olho D'água do Casado cidade em que ela morava em Alagoas e chegando lá recebo a noticia de que ele tinha falecido há três dias. E a maior delas: Não ter conversado com João Bezerra que viveu os últimos anos de sua vida e faleceu em Garanhuns, minha terra. Isso precisamente no ano de 1970. Eu um rapazola trafegava pelo comercio de minha cidade de vez em quando ouvia as pessoas exclamarem como quem aponta um artista - olha lá, o homem que matou Lampião! - eu olhava pra ele, mas aquilo não me interessava de jeito nenhum hoje penso com remorso poderia ter tirado pelo menos uma foto com o homem.
Com quem gostaria de ter conversado?
Com "a sussuarana" e ex cangaceira Dadá. Tive tal oportunidade sabendo que ela morava em Salvador, mas não criei a situação. Confesso que até pagaria com prazer pra obter uma entrevista com a mesma. Considero que o surgimento de Dadá foi um divisor de águas no cangaço.
Qual é o seu capitulo preferido?
Ah! com certeza e aconselho que nos aprofundemos mais e mais no cangaço no agreste pernambucano. Mais uma palhinha: No agreste vocês vão explorar a fazenda Riacho Fundo na cidade de Águas Belas, um dos coitos mais seguros de Lampião. Poucos foram os pesquisadores que estiveram lá. Inclusive em janeiro passado eu levei o Severo e a sua esposa Danielle pra conhecer as belezas daquele local.
Um cangaceiro (a)?
Durvinha.
Um volante?
Este que se destaca, Alfredo Cavalcante Albuquerque de Miranda, o tenente Caçula.
Um coadjuvante?
Tenente José Jardim.
Uma personagem secundária? Parecia ter bom papel mas não passou de figurante.
Apesar de ser meu amigo o Sr Manoel Dantas Loiola ex cangaceiro Candeeiro é um cabra introspectivo, bastante retraído, não satisfez muitas das minhas principais curiosidades, aliás, minhas e de outros que o procuram. Ele esconde algo que talvez leve pro túmulo e no mais porque não fica clara a sua importância e seu relacionamento com o rei do cangaço.
Geralmente todo pesquisador é colecionador qual é o foco de sua coleção?
Igual ao compadre João de Sousa Lima... dou o que não tenho pra conseguir fotografias. Seja da volante, cangaceiros, coronéis e de quaisquer personagens. E possuo arquivos raros já impressos em meu novo trabalho. A começar pela capa de meu livro que quebra um protocolo de se aplicar sempre a estampa de um cangaceiro. Eu optei em ilustrá-la com três fotos de policiais inéditas o Caçula e o Jardim (José Jardim) além da volante do Manoel Neto. Ao lado de Manoel Neto aparece uma figura nuca antes comentada, lutei e consegui identificá-lo, trata-se do "Canfifim" que foi cangaceiro de Lampião depois se alista na volante e passa a ser um dos rastejadores do bravo nazareno. Então minha coleção de fotografias modéstia a parte é vasta e rica.
Parte do seu museu iconográfico. |
Entre as peças tem alguma relíquia?
Uma foto de Manoel Heráclito volante à serviço de Manoel Neto. Esta foto me foi cedida pela senhora a qual a foto foi dedicada, Adélia Correia, por acaso sua ex namorada, na ocasião em que eu fui entrevista-la na cidade de Inajá/PE. Dona Adélia foi tesoureira da prefeitura na gestão de Manoel Neto. Ela está inclusa no nosso primeiro livro. Não coleciono acessórios nem tampouco armas. Este tipo de objeto eu aceito e deixo nas boas mãos do confrade João de Sousa Lima que em breve estará com seu museu em Paulo Afonso.
Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário enfim sem exagero da ficção lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia, enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou?
Baile Perfumado. Fiel a biografia de Benjamim Abraão.
Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião?
Lampião: cada um conta uma! Ainda não é exatamente esta, porque já ouvi muita coisa absurda. Mas lembro com certo desdém pelo teor da informação, esta é uma daquelas que você pode ouvir na sua cidade, foi o seguinte: Certa vez eu estava escrevendo o rascunho de meu primeiro trabalho e sai na porta de casa pra respirar e aproxima-se uma senhora que me diz - olha Vilela, Lampião esteve pessoalmente na fazenda do meu avô!!! Eu, naturalmente me interessei pelo fato e perguntei a esta senhora qual a localização desta propriedade e ela diz que era em Quipapá mata sul de Pernambuco, Ora, pelas minhas pesquisas Lampião só vai até uma localidade chamada Mimosinho a 6 km de Garanhuns.
O pior vem agora, a mentira que eu escutei recentemente, mês passado, durante uma exposição fotográfica no festival de inverno de Garanhuns. Um cidadão afirmou categoricamente que Lampião foi até Maceió, pegou um avião e foi assistir a um jogo de futebol no Maracanã.
Maceió ele até foi... Depois de morto, avião acho que nem de longe ele contemplou, e assistir futebol? Maracanã? Um estádio que foi inaugurado em 1950?
Se algum pesquisador sem critérios ouviu esta mesma conversa já deve ter publicado em algum folheto.
Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: "Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde", "João Peitudo, filho de Lampião", "O Lampião de Buritis" e "a paternidade de Ananias"?
O enigma do Angico não é nenhum destes. É a morte do soldado Adrião Pedro de Souza. Uma trama ainda a ser desvendada por um de nós pesquisadores. Só darei uma dimensão para analisarmos desde já e todos hão de convir com a inversão de valores, vejamos: 11 bandidos mortos e depois homenageados como heróis com uma grande cruz de ferro por "João Bezerra", entre aspas claro, pela razão de ser ele o responsável pela tropa. E adrião é simplesmente ignorado! O que teria feito Adrião para cair na vala dos esquecidos?.
E Lampião: morreu baleado ou envenenado?
Veneno!!!
Não precisa detalhar, mas em que assunto ou personagem está trabalhando ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes?
Estou iniciando mais uma nova e apurada pesquisa sobre Lampião em Pernambuco. Trarei à tona fatos igualmente desconhecidos sobre o Rei do cangaço no meu Estado.
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