terça-feira, 7 de janeiro de 2020

NO DIA EM QUE UMA EQUIPE DE CINEMA LOCAL INVADIU A ZONA RURAL DE PAULO AFONSO. “Pequena História de um Filme realizado em Paulo Afonso”

NO DIA EM QUE UMA EQUIPE DE CINEMA LOCAL INVADIU A ZONA RURAL DE PAULO AFONSO.
“Pequena História de um Filme realizado em Paulo Afonso”

     A cidade Paulo Afonso serviu de cenário para várias produções cinematográficas. Já na década de 1960 foi filmada aqui a película Os três cabras de Lampião, filme que foi exibido no Cine Coliseu e depois desapareceu do Brasil. O ator Milton Ribeiro, que também participou do famosíssimo “O Cangaceiro”, foi um dos protagonistas desse filme.
A Rede Globo de Televisão nos anos oitenta realizou aqui o seriado Lampião e Maria Bonita, que fez muito sucesso.
    Em 2009, trabalhando nesse período na Secretaria de Turismo, falei de um projeto que eu tinha em filmar sobre um índio da Tribo Pankararé, conhecido na época do cangaço pelo apelido de Gato, que fez umas mortes dentro da própria família.
Montamos uma equipe e decidimos convocar alguns profissionais do ramo e que pudessem nos ajudar nesse projeto, uma vez que sem recursos externos, teríamos que trabalhar sem pagamento.
Os cinegrafistas Jardel Menezes, Izael de Jesus e Ricardo Cajá se prontificaram de imediato.
Procuramos alguns atores da cidade e alguns também concordaram fazer parte do projeto abrindo mão do cachê.  
Começamos então a produzir os chapéus com um artesão local chamado Ari, contratei costureiras para confeccionarem roupas e bornais para os cangaceiros e cangaceiras, consegui uns mosquetões antigos com o 20º Batalhão de Policia e transportes e balas de festim com o exército na 1ª Cia de Infantaria.
Conseguimos as alimentações com a prefeitura e o apoio logístico do Grupo Jeep Clube de Paulo Afonso para levar a comida nos povoados onde estaríamos filmando.
Uma das primeiras cenas foi realizada na Baixa do Chico, no centro do Raso da Catarina. Nesse dia tivemos o apoio de “Seu Lino”, que era um índio Pankararé que tomava conta daquela região onde caçava e residia e ficou conhecido como o Guardião do Raso.
O exército que nos deu total apoio, inclusive com um caminhão para transportar a equipe e o material, quando estávamos  retornando, motorista ruim de volante, derrubou logo uma parte do telhado da igreja da povoação. No meio do caminho, já na escuridão da noite, o caminhão atolou na areia. Um dos membros da equipe, o Alan, diabético, não havia tomado sua insulina e passou mal. Tentamos de todas as formas desatolar o veículo e não conseguimos. Colocamos pedras, troncos de madeiras, garranchos de matos, escavamos próximo aos pneus e nada surtiu efeito. Por sorte o pessoal do Jeep Clube havia avisado ao tratorista no povoado Juá que se até escurecer não chegasse ninguém por lá, que ele fosse nos procurar e assim ele fez. Alegria geral quando o trator roncou próximo de onde estávamos já acampados. Com muito trabalho o trator conseguiu puxar o caminhão do atoleiro e seguimos viagem direto para o hospital pra socorrer o Alan e segundo o diagnóstico médico, por pouco, ele não acabou falecendo, mesmo assim permaneceu vários dias internado, sendo medicado e em recuperação.
     Dias depois o povoado escolhido foi o “Serrote” e lá tivemos por base a casa do amigo Abel. A prefeitura enviou dois eletricistas para ligarem uns refletores, pois filmaríamos umas cenas noturnas. Os eletricistas fizeram o trabalho e como teria que permanecer até o anoitecer para poderem desligar os fios e cabos, caíram na cachaça e se embriagaram. A noite aconteceram umas cenas de um baile e para que houvesse a dança convidamos várias moças do local para formarem os pares com os atores. A casa que utilizamos foi a mesma casa onde os pais de Abel receberam por diversas vezes o famoso cangaceiro Lampião.
Com a fogueira acesa, o forró acontecendo na casinha, a equipe trabalhando, o local virou uma atração onde dezenas de pessoas assistiam as cenas. Pessoas da comunidade participaram de vários momentos do filme. Transformaram-se em atrizes e atores. Momentos inesquecíveis de um curta-metragem acontecido em nossas terras.

João de Sousa Lima
Paulo Afonso, 20 de dezembro de 2019.


 











































































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