sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

UMA IMAGEM CONTA MUITA HISTÓRIA. “Antônio da Viúva: Um pouco da história de um dos nossos Pioneiros”



      

UMA IMAGEM CONTA MUITA HISTÓRIA.
“Antônio da Viúva: Um pouco da história de um dos nossos Pioneiros”

    Sou mesmo um amante das fotografias, principalmente das imagens que contam nossas histórias. Um dos acervos mais ricos de fotos no Brasil é o acervo da CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Mais de 40.000 Imagens realizadas pelo engenheiro Bret Cerqueira Lima e pelo fotógrafo Cláudio Xavier, esse último ainda vivo e residindo em Paulo Afonso.
    As imagens da construção das usinas, próximo à cachoeira de Paulo Afonso, com os trabalhadores apelidados de “Cassacos”, são impressionantes, sobretudo pela rústica condição de trabalho, onde os peões não trabalhavam com equipamentos de segurança, durante as escavações das rochas abrindo túneis, em uma operação nunca observada em nossa região, aparecem os trabalhadores sem camisas, sem botas, sem luvas e sem capacetes, empunhando os marteletes movidos a ar comprimido, ferramenta muito utilizada nas aberturas dos túneis. ficaram conhecidos como os marteleteiros.
    Várias figuras e filmes retratam esses trabalhadores empunhando suas ferramentas e acessórios. Analisando uma das imagens onde aparecem vários “Coringueiros”, que operavam as “Coringas”, espécies de caçambas que transportavam os materiais retirados das galerias, vemos oito homens fazendo pose em cima da máquina de trabalho. Nesse mesmo dia da análise e catalogação da fotografia, por uma grande coincidência, indo procurar um amigo que havia descoberto um móvel antigo, materiais que estou adquirindo para compor o acervo do Museu do Nordeste em nossa cidade, chegando ao endereço da pessoa, na antiga “Tapera”, hoje Bairro Centenário, vejo um senhor sentado em um banco e me aproximo puxando conversa. Prosa boa, caboclo já com 85 anos de idade, lucidez aparente em sua conversa e tantas histórias de vida: nasceu em Mata Grande, em 1934, precisamente no dia 01 de outubro. Seu nome Antônio Gomes de Oliveira, conhecido por Antônio da Viúva.
Em 1951 ele veio com a família para Paulo Afonso. Família numerosa, com nove filhos e muitas dificuldades. Foram residir na “Libanesa” em uma casa de taipa com poucos cômodos e apertados. As irmãs lavavam e engomavam roupas para alguns funcionários da CHESF; O jovem Antônio foi vender pão e todo dia pegava um balaio cheio na padaria de Arsênio, que ficava no finalzinho da Rua da Frente e saía, ruas à fora, com o balaio na cabeça, comercializando o abençoado pão de cada de dia. Em uma das vendas chegou até a Cadeia de Pedra e pelas ferragens das celas uns detentos pegaram vários pães e o mandaram ir embora sem efetuar o pagamento. O delegado João de Cota vinha chegando e viu a ação dos delinquentes e acabou pagando os pães surrupiados, alertando-o para que não mais retornasse para vender pães a pessoas encarceradas.
Antônio trabalhou também vendendo picolés na sorveteria de João Mariano. Além de vender picolés ele fabricava os palitos e comercializava com o proprietário da sorveteria. Pegava as caixas de madeiras que vinham com sabão e que tinha uma madeira mole, desmanchava as caixas e fazia os palitos.
      Em 1953 o “Feitor” de obras, conhecido como Genésio Feitor, o colocou na Chesf como trabalhador braçal, onde realizava todo tipo de serviço. Pouco tempo depois Antônio foi trabalhar no concreto, participando da concretagem das usinas. Da concretagem foi trabalhar nas famosas “Coringas” com os amigos Expedito Curruta, Valdecir Isidoro, Robério Chupeta, Zé Grande, João Bosco, João Inácio (pai da Drª Francisca) e Simão.
A palavra Coringa deriva da marca americana "KOEHRING". Os modelos utilizados pela Chesf foram a DUMPTOR. Os funcionários não sabiam chamar Koehring e aportuguesaram o nome para Coringa.
Como Coringueiro desempenhou vários serviços. Chegou a sofrer um acidente quando tombou com uma das coringas, próximo ao monumento “O Touro e A Sucuri”, quebrando uma das mãos, na virada. Das coringas foi trabalhar no inesquecível “Papafilas”, espécie de ônibus alongado que transportava os alunos da Chesf para as escolas da empresa.
     Antônio em sua juventude foi aluno de Abel Barbosa no antigo prédio onde funcionou o Fórum e a Câmara de vereadores e que hoje é a Casa da Cultura, por acaso local onde no momento trabalho.
     Ouvi com atenção e entusiasmo as histórias de Seu Antônio. Depois de partilhar tantas informações o Antônio levantou amparado por uma rústica bengala e foi esquadrinhar dentro de sua residência uma velha fotografia amarelada pelo tempo. Lá estava a mesma imagem que eu havia visto no acervo da Chesf. Seu Antônio se identificou e nomeou todos os amigos que estão retratados junto à máquina que por tanto tempo eles operaram e que tantas recordações deixaram.
Combinamos que eu e ele iríamos entregar uma cópia da imagem a Simão, amigo de jornada nas Coringas e que ainda vive e reside em Paulo Afonso. 
   Esse foi um dia marcante, um dia de colher informações de um homem que escreveu uma página na história da Vila Poty e de Paulo Afonso. Foi um dos pioneiros da nossa cidade. Hoje, já velho, corpo cansado apesar de uma mente brilhante, vive seus dias a comentar o passado, passado tão vivo em suas lembranças vivas, um passado de lutas e glórias. Tempos vividos, tempos memoráveis.
Foi um grande prazer te conhecer “Antônio da Viúva”. Desejo que seus dias na terra sejam prolongados e que suas tantas histórias sejam apreciadas por muitos ainda, confirmadas por uma simples fotografia amarelada que guarda lembranças de um passado ainda tão presente em suas lembranças...
Jesus abençoe sua vida...

João de Sousa Lima
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso, cadeira 06
Membro do IGH – Presidente do Instituto Geográfico e Histórico de P. Afonso.
Escritor e Historiador

Paulo Afonso, 10 de janeiro de 2020.












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