quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Gente da História

Rosas do cangaço

João de Sousa Lima lança livro sobre Maria Bonita e critica o descaso com a preservação da memória deste episódio histórico.

Rosas do cangaço

João de Sousa Lima lança livro sobre Maria Bonita e critica o descaso com a preservação da memória deste episódio histórico.

Adriano Belisário

 

Andarilho do sertão, João de Sousa Lima já colheu inúmeras histórias sobre o cangaço em seus 15 anos de pesquisa sobre o tema. Focando nos depoimentos orais, o historiador entrevistou moradores da região que conviveram de perto com personagens míticos do banditismo nordestino, como Lampião e Maria Bonita, tema de seu último livro.

Recém-lançada, a obra 'Maria Bonita - Diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço' reúne textos de João de Sousa e outros autores, que trazem fatos inéditos e análises sociológicas e linguísticas sobre o cangaço. Um dos objetivos é desfazer alguns dos equívocos que cercam a imagem de Virgulino Ferreira e sua esposa, como a história sobre um campo de futebol que teria sido construído por Lampião no Raso da Catarina (BA). "Foi um historiador que encontrou um campo de pouso feito pelo Petrobras nos anos 60 para exploração de petróleo e disse que Lampião jogava bola lá sem nenhum fundamento", explica.

Apesar de Maria Bonita atrair os holofotes, João de Sousa também pesquisa sobre outras rosas do cangaço. Não foram poucas as mulheres que se entregaram à vida nômade no sertão e mostraram que nem só de bala, sangue e poeira foi feita esta história. É o caso de Durvinha, esposa de Virgínio, um dos mais belos cangaceiros.

"Depois que ele faleceu, ninguém sabia mais o que ela tinha feito. Saí em busca e a encontrei vivendo com Moreno em Minas Gerais. Ele era um companheiro leal de Virgínio e assumiu o bando de cangaceiros e a esposa do chefe após sua morte. Durvinha morreu apaixonada por Virgínio e Moreno não achava ruim, pois também o admirava", relata João de Sousa.

Se Virgínio destacava-se por sua beleza entre os homens, o posto de Miss Cangaço poderia ir para Lídia Pereira de Souza, descrita como a mais bonita dentre as mulheres do sertão naquela época. Ao conhecer um irmão de Lídia, ainda vivo, João de Sousa chegou perto de revelar ao mundo o rosto da mais bela cangaceira. "Ele me deu um baú que poderia ter fotos dela, mas estava tudo carcomido por cupins. Chegamos tardes demais", lamenta o historiador, que irá transferir todo acervo de sua pesquisa sobre o assunto para o Museu Regional do Sertão, a ser inaugurado por volta de 2012 na cidade de Paulo Afonso (BA).

Enquanto o Museu não sai, o historiador filma um curta-metragem acerca do assunto e organiza este ano o II Seminário Internacional sobre Maria Bonita, uma espécie de preparativo para a terceira edição, que ocorre em 2011, centenário do nascimento de Maria Bonita. Porém, sem um grande reconhecimento público da importância de preservar a história do cangaço, esta conservação é feita através de iniciativas isoladas e limitadas, como se vê no caso da fotografia de Lídia Pereira. "Se tivessem mais pessoas envolvidas nisto, a história do Brasil ganharia muito mais", aposta João de Sousa.


 

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