sábado, 20 de abril de 2019

CALDEIRÃO DA JANUÁRIA: COITO DE LAMPIÃO NO ALTO DOS COELHOS, ÁGUA BRANCA, ALAGOAS.


   

CALDEIRÃO DA JANUÁRIA:
COITO DE LAMPIÃO NO ALTO DOS COELHOS, ÁGUA BRANCA, ALAGOAS.

     Um dos caminhos que ligava Água Branca a Pedra de Delmiro cruzava o povoado Alto dos Coelhos, passando pela localidade “Cachoeirinha”, mais um dos grandes coitos dos cangaceiros, dentre eles o Antônio Balaga e Cazuza. Nesse trajeto os cangaceiros sempre passavam em um dos caldeirões que serviam pras matar a sede de todos. O caldeirão ficava no “Poço do Barro” e é conhecido até hoje como Caldeirão da Januária.
O dono dessa roça e do caldeirão era o senhor Januário Coelho de Araújo.
As filhas de Januário eram apelidadas por “Januárias”: Chancha, Júlia, Naninha, Maria Januária e Maria José (Zezé).
Na Cachoeirinha, além de Antônio Balaga e Cazuza tinha também o coiteiro Ernesto Gomes de Souza.
A policia sempre em perseguição aos cangaceiros e arregimentando pessoas acabou entregando mosquetões para Ernesto, Louzinho, Ernesto Lulu e Zé Lucas para perseguirem cangaceiros.
A irmã de Ernesto, Maria Joana da Conceição, era casada com o cangaceiro Barra Nova.
Lampião mandou um recado para Ernesto pois queria vê-lo no Caldeirão da Januária. O rapaz atendeu o chamado e foi encontrar o cangaceiro. Já no caldeirão Lampião indagou o jovem:
- Quer dizer Ernesto que você agora está contra a gente e tá armado pra perseguir nós!
- Pode ficar sossegado que isso não vai acontecer não!!
Ouvindo esse diálogo o cangaceiro Barra Nova entrou na conversa e foi logo defendendo o rapaz:
- O que Ernesto falar tá falado e garantido, ele é homem de palavra!!!
Lampião riu e disse que tava tudo certo e que confiava em Ernesto.
     Poucos dias depois a polícia prendeu o coiteiro de Lampião, o jovem Sebastião Vieira Sandes, o famoso “Santo”, que em recente trabalho literário de Frederico Pernambucano de Mello, entrou como sendo o matador de Lampião, fato pouco provável pois os depoimentos de vários soldados que estavam no dia do combate afirmam que não tem como saber de onde partiu o tiro que matou o Rei do Cangaço.
Santo era sobrinho e afilhado de Ernesto. Quando Ernesto soube da prisão de Santo, ficou com medo pois sabia que o rapaz podia denuncia-lo como sendo um dos coiteiros de Lampião. Ernesto passou em sua casa, conversou com a esposa, pegou alguns mantimentos e fugiu com o amigo e também coiteiro Louzinho. Seguiram o caminho do Juazeiro do Padre Cicero.
A esposa de Ernesto, Rosa Maria da Conceição, saiu com os filhos pequenos Natalício e Noé Gomes e ainda o amigo Nezinho Pedrão, onde foram pegar um bode que estava nas proximidades do Caldeirão da Januária.
Quando se aproximaram do tangue de pedra viram um cangaceiro que foi se aproximando e perguntou:
- Vocês vieram fazer o quê aqui?
- o Mané Egídio está ai? Esse era mais um nome que Manuel Maurício dos Santos, o Barra Nova, era conhecido.
Barra Nova se aproximou e falou:
- Amiga Rosa venha pra cá!
Rosa seguiu com o amigo e os filhos e se juntaram a Barra Nova, Lampião, Maria Bonita e mais alguns cangaceiros. Lampião indagou a mulher:
- Dona Rosa cadê Ernesto?
- Olha Capitão, ele fugiu pro Juazeiro do Padim Ciço, mais deixou um recado pra polícia dizendo que ia comprar animais na Bahia!
Lampião entendeu o recado e sabia que com a prisão de Santo e a fuga de Ernesto e Louzinho, as coisas ficariam mais apertadas e que o Caldeirão da Januária, que foi um dos mais percorridos pontos onde saciavam a sede, se transformaria, junto com a Cachoeirinha, um local perigoso para seu descanso.

Alto dos Coelhos. 19 de abril de 2019
João de Sousa Lima
Escritor e Historiador
Membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso- Cadeira 06
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.


































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