CALDEIRÃO
DA JANUÁRIA:
COITO
DE LAMPIÃO NO ALTO DOS COELHOS, ÁGUA BRANCA, ALAGOAS.
Um dos caminhos que ligava Água Branca a
Pedra de Delmiro cruzava o povoado Alto dos Coelhos, passando pela localidade “Cachoeirinha”,
mais um dos grandes coitos dos cangaceiros, dentre eles o Antônio Balaga e
Cazuza. Nesse trajeto os cangaceiros sempre passavam em um dos caldeirões que
serviam pras matar a sede de todos. O caldeirão ficava no “Poço do Barro” e é conhecido
até hoje como Caldeirão da Januária.
O dono dessa roça e do
caldeirão era o senhor Januário Coelho de Araújo.
As filhas de Januário eram
apelidadas por “Januárias”: Chancha, Júlia, Naninha, Maria Januária e Maria
José (Zezé).
Na Cachoeirinha, além de Antônio
Balaga e Cazuza tinha também o coiteiro Ernesto Gomes de Souza.
A policia sempre em
perseguição aos cangaceiros e arregimentando pessoas acabou entregando mosquetões
para Ernesto, Louzinho, Ernesto Lulu e Zé Lucas para perseguirem cangaceiros.
A irmã de Ernesto, Maria Joana
da Conceição, era casada com o cangaceiro Barra Nova.
Lampião mandou um recado para
Ernesto pois queria vê-lo no Caldeirão da Januária. O rapaz atendeu o chamado e
foi encontrar o cangaceiro. Já no caldeirão Lampião indagou o jovem:
- Quer dizer Ernesto que você
agora está contra a gente e tá armado pra perseguir nós!
- Pode ficar sossegado que
isso não vai acontecer não!!
Ouvindo esse diálogo o
cangaceiro Barra Nova entrou na conversa e foi logo defendendo o rapaz:
- O que Ernesto falar tá
falado e garantido, ele é homem de palavra!!!
Lampião riu e disse que tava
tudo certo e que confiava em Ernesto.
Poucos dias depois a polícia prendeu o
coiteiro de Lampião, o jovem Sebastião Vieira Sandes, o famoso “Santo”, que em
recente trabalho literário de Frederico Pernambucano de Mello, entrou como
sendo o matador de Lampião, fato pouco provável pois os depoimentos de vários
soldados que estavam no dia do combate afirmam que não tem como saber de onde
partiu o tiro que matou o Rei do Cangaço.
Santo era sobrinho e afilhado
de Ernesto. Quando Ernesto soube da prisão de Santo, ficou com medo pois sabia
que o rapaz podia denuncia-lo como sendo um dos coiteiros de Lampião. Ernesto
passou em sua casa, conversou com a esposa, pegou alguns mantimentos e fugiu com
o amigo e também coiteiro Louzinho. Seguiram o caminho do Juazeiro do Padre
Cicero.
A esposa de Ernesto, Rosa
Maria da Conceição, saiu com os filhos pequenos Natalício e Noé Gomes e ainda o
amigo Nezinho Pedrão, onde foram pegar um bode que estava nas proximidades do
Caldeirão da Januária.
Quando se aproximaram do
tangue de pedra viram um cangaceiro que foi se aproximando e perguntou:
- Vocês vieram fazer o quê
aqui?
- o Mané Egídio está ai? Esse
era mais um nome que Manuel Maurício dos Santos, o Barra Nova, era conhecido.
Barra Nova se aproximou e
falou:
- Amiga Rosa venha pra cá!
Rosa seguiu com o amigo e os
filhos e se juntaram a Barra Nova, Lampião, Maria Bonita e mais alguns
cangaceiros. Lampião indagou a mulher:
- Dona Rosa cadê Ernesto?
- Olha Capitão, ele fugiu pro
Juazeiro do Padim Ciço, mais deixou um recado pra polícia dizendo que ia
comprar animais na Bahia!
Lampião entendeu o recado e sabia
que com a prisão de Santo e a fuga de Ernesto e Louzinho, as coisas ficariam
mais apertadas e que o Caldeirão da Januária, que foi um dos mais percorridos pontos
onde saciavam a sede, se transformaria, junto com a Cachoeirinha, um local perigoso
para seu descanso.
Alto dos Coelhos. 19 de abril
de 2019
João de Sousa Lima
Escritor e Historiador
Membro da ALPA – Academia de
Letras de Paulo Afonso- Cadeira 06
Membro da SBEC – Sociedade Brasileira
de Estudos do Cangaço.
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