MARIA FEITOSA TENÓRIO
“TIA
IA”:
A
BORDADEIRA DAS TRAMAS DA VIDA
Maria Feitosa Tenório ou simplesmente “Tia
Ia” nasceu em Umbuzeiro, no Sítio Logradouro, Paraíba. O pai Bonifácio Tenório
era agricultor e sua mãe Idalina Feitosa de Oliveira vivia para cuidar dos
filhos e dos afazeres da casa.
Em 1951 a família foi
residir em Arcoverde. Moraram na casa do primo Francisco Feitosa e a esposa
Maria Galindo Feitosa. Francisco foi mecânico bastante conhecido em Paulo
Afonso. Era popularmente apelidado como “Chico Mago”. Foi grande amigo do meu
pai Raimundo Piancó.
Em Arcoverde tia Ia
ingressou em um curso de bordados. Inteligente e de fácil aprendizado,
descobriu ai sua verdadeira vocação.
Em 1953 tia Ia veio para
Paulo Afonso passar uns dias e só retornou para Arcoverde em 1954. Em 1955 ela
veio definitivamente residir em Paulo Afonso. Por coincidência foi nesse mesmo
ano, em 1955, a inauguração da primeira usina geradora de energia, conhecida
como P.A. I.
Ela ficou residindo na casa
do primo Francisco, na antiga Rua “D” e começou a por em prática sua arte de
dar formas geométricas, com desenhos bem elaborados, através das linhas
coloridas e começou a ensinar Bordados. Sua primeira turma era composta por 10
a 12 alunos e assim ela foi formando jovens com sua arte e ao tempo que ia
produzindo as peças ia também atraindo fregueses e admiradores.
Em janeiro de 1956 ela foi
buscar os pais em Arcoverde e foram residir em uma casa na Rua Amâncio Pereira.
Tempos depois morou em uma casa que pertencia a Caboclinha, irmã de Pedrinho da
Triunfante, na Rua 31 de março. Nessa nova moradia ela continuou ensinando
bordados, moldando tecidos. Seu pai Bonifácio plantava várias roças na antiga
Tapera, povoação pioneiro nessa região, às margens do Rio São Francisco e da
Cachoeira de Paulo Afonso. O terreno para plantio foi doado pelo senhor
Zezinho.
Diante da beleza de suas
produções em bordados, em 1958, a senhora Maria Maciel, que era professora de
corte e costura a convidou para dar aulas no COPA - Clube Operário de Paulo
Afonso. No COPA tia Ia permaneceu por longos 11 anos, de 1958 a 1969.
Todos os alunos eram uniformizados, fardamento
sempre bem asseado e desfilavam no dia 07 de Setembro. Todos os anos formavam
novas turmas e a formatura era algo glamoroso, com entrega de diplomas
realizados com a participação do presidente da Chesf e várias outras
autoridades civis e militares.
O mecânico das máquinas
utilizadas nos cursos de corte e costura era o senhor José de Oliveira.
Um dos presidentes do COPA
que mais contribuiu com as professoras e os alunos foi Nicholson Chaves.
Apesar de toda estrutura
gerada pela Chesf para os cursos de corte e costura e bordados, as professoras
não tinham carteiras registradas e em uma visita de uns fiscais do trabalho
gerou uma grande confusão, o que provocou uma ação indenizadora contra a
empresa.
Em 1965 tia Ia começou a
construir uma casa na Nova Avenida. Os tijolos foram construídos por seu pai
Bonifácio. Um verdadeiro mutirão para dar vida ao sonho da casa própria.
O casal, Nílton Couto e
Célia recebiam as madeiras utilizadas e descartadas pela Chesf e traziam até o
prédio da antiga prefeitura, onde hoje funciona o Espaço Cultura Raso da
Catarina. O material era distribuído com pessoas que estavam construindo e daí
surgiu “As Casa de Tabas” (Tábuas) na Rua Otaviano Leandro de Moraes.
Tia Ia aproveitou muito
dessas madeiras para sua nova casa. A habitação foi construída por seu primo
Belarmino “Dino”, as portas e janelas foram construídas por Francisco. O mesmo Francisco depois da casa erguida
construiu mesa, cadeiras e uma cristaleira.
Em 1966 a equipe do COPA,
encabeçada por Guiomar, Alcina, Isabel, e Dila Pereira (irmã de Adauto Pereira)
arrecadou uma quantia em dinheiro e entregaram para tia Ia adiantar a construção.
Com a casa ainda faltando água encanada, luz elétrica e o piso de chão batido,
tia Ia se mudou com os pais pra nova moradia. Nessa casa, sua irmã Maria José
Mendes e o sobrinho João Ferreira Mendes ficaram um tempo.
Em 1969 tia Ia deixou de
ensinar no COPA, porém continuou bordando peças sob encomenda. Por seu
excelente trabalho conseguia manter sua vida vendendo sua arte como bordadeira.
Em 1970 foi trabalhar na
Casa das Bicicletas, de propriedade de Luis “Porongo” e da esposa Eunice
Feitosa, que era sua prima. Trabalhava no caixa, nas vendas e na arrumação,
onde varria e limpava. A Casa das Bicicletas ficava próximo da Casa Pesqueira
01.
Em 1973 o sobrinho João
Ferreira Mendes mandou buscar tia Ia pra morar em Brasília. Ela vendeu a casa e
junto com o pai (sua mãe já era falecida nessa época), seguiu em março de 1973.
Na casa de sua irmã Maria
José, com o pai adoentado, tia Ia ficou de março até dezembro. A sua estadia em
Brasília foi marcada por momentos de profundo choro e tristeza, uma grande depressão.
A prima Inez Bezerra Mendes,
que morava no Rio de Janeiro foi até Brasília visitar tia Ia e ficou muito
triste com o momento de tristeza da jovem. Retornando ao Rio falou com o irmão
Francisco que tinha uma confecção e ele mandou chamar tia Ia pra trabalhar com
ele. Tia Ia se mudou para o Rio de Janeiro e seu pai permaneceu em Brasília sob
os cuidados da irmã Maria José, vindo a falecer em 1977.
Em 1984, aos 53 anos de
idade, casou-se com Francisco Gregório da Silva, um agente de polícia, aposentado.
No Rio de Janeiro tia Ia
permaneceu trabalhando na confecção de 1973 até 1989.
Em 1989 o marido de tia Ia
passou sua aposentadoria para ela, falecendo em 1994 com problema de próstata.
Ela nunca deixou suas
costuras e bordados de lado.
Em 1995 retornou para Paulo
Afonso onde ficou até 1998, ano em que retornou mais uma vez para o Rio,
permanecendo por lá até 2010, mesmo ano que retornou à Paulo Afonso e vive até
os dias atuais, sempre cercada pelo amor dos sobrinhos e da sobrinha e
professora Socorro Feitosa.
Tia Ia é uma figura linda,
boa cabeça, bom papo, figura alegre, que já sofreu muito em sua vida, porém, as
durezas da sua história não lhe endureceram o coração e sua alma, antes, porém,
a rispidez de sua trajetória lhe tornou uma grande mulher, honrada, digna e
feliz.
Maria Feitosa Tenório ou
simplesmente “Tia Ia”, uma das professoras do início de nossa história, percussora
do nosso progresso.
Seu bordado deixou nos
mantos e tecidos de nossa fábula, as cores vibrantes das linhas de costuras, em
desenhos gravados nas fibras de tantas vestimentas, figuras em tonalidades
distintas que imprimiram suas digitais no mundo da mais pura arte
Pauloafonsina.
Paulo Afonso, 16 de abril de
2019
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da ALPA –
Academia de Letras de Paulo Afonso
Que linda,resgatar histórias assim e maravilhoso 😍
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