terça-feira, 16 de abril de 2019

MARIA FEITOSA TENÓRIO “TIA IA”: A BORDADEIRA DAS TRAMAS DA VIDA



     MARIA FEITOSA TENÓRIO
“TIA IA”:
A BORDADEIRA DAS TRAMAS DA VIDA

     Maria Feitosa Tenório ou simplesmente “Tia Ia” nasceu em Umbuzeiro, no Sítio Logradouro, Paraíba. O pai Bonifácio Tenório era agricultor e sua mãe Idalina Feitosa de Oliveira vivia para cuidar dos filhos e dos afazeres da casa.
Em 1951 a família foi residir em Arcoverde. Moraram na casa do primo Francisco Feitosa e a esposa Maria Galindo Feitosa. Francisco foi mecânico bastante conhecido em Paulo Afonso. Era popularmente apelidado como “Chico Mago”. Foi grande amigo do meu pai Raimundo Piancó.
Em Arcoverde tia Ia ingressou em um curso de bordados. Inteligente e de fácil aprendizado, descobriu ai sua verdadeira vocação.
Em 1953 tia Ia veio para Paulo Afonso passar uns dias e só retornou para Arcoverde em 1954. Em 1955 ela veio definitivamente residir em Paulo Afonso. Por coincidência foi nesse mesmo ano, em 1955, a inauguração da primeira usina geradora de energia, conhecida como P.A. I.
Ela ficou residindo na casa do primo Francisco, na antiga Rua “D” e começou a por em prática sua arte de dar formas geométricas, com desenhos bem elaborados, através das linhas coloridas e começou a ensinar Bordados. Sua primeira turma era composta por 10 a 12 alunos e assim ela foi formando jovens com sua arte e ao tempo que ia produzindo as peças ia também atraindo fregueses e admiradores.
Em janeiro de 1956 ela foi buscar os pais em Arcoverde e foram residir em uma casa na Rua Amâncio Pereira. Tempos depois morou em uma casa que pertencia a Caboclinha, irmã de Pedrinho da Triunfante, na Rua 31 de março. Nessa nova moradia ela continuou ensinando bordados, moldando tecidos. Seu pai Bonifácio plantava várias roças na antiga Tapera, povoação pioneiro nessa região, às margens do Rio São Francisco e da Cachoeira de Paulo Afonso. O terreno para plantio foi doado pelo senhor Zezinho.
Diante da beleza de suas produções em bordados, em 1958, a senhora Maria Maciel, que era professora de corte e costura a convidou para dar aulas no COPA - Clube Operário de Paulo Afonso. No COPA tia Ia permaneceu por longos 11 anos, de 1958 a 1969.
 Todos os alunos eram uniformizados, fardamento sempre bem asseado e desfilavam no dia 07 de Setembro. Todos os anos formavam novas turmas e a formatura era algo glamoroso, com entrega de diplomas realizados com a participação do presidente da Chesf e várias outras autoridades civis e militares.
O mecânico das máquinas utilizadas nos cursos de corte e costura era o senhor José de Oliveira.
Um dos presidentes do COPA que mais contribuiu com as professoras e os alunos foi Nicholson Chaves.
Apesar de toda estrutura gerada pela Chesf para os cursos de corte e costura e bordados, as professoras não tinham carteiras registradas e em uma visita de uns fiscais do trabalho gerou uma grande confusão, o que provocou uma ação indenizadora contra a empresa.
Em 1965 tia Ia começou a construir uma casa na Nova Avenida. Os tijolos foram construídos por seu pai Bonifácio. Um verdadeiro mutirão para dar vida ao sonho da casa própria.
O casal, Nílton Couto e Célia recebiam as madeiras utilizadas e descartadas pela Chesf e traziam até o prédio da antiga prefeitura, onde hoje funciona o Espaço Cultura Raso da Catarina. O material era distribuído com pessoas que estavam construindo e daí surgiu “As Casa de Tabas” (Tábuas) na Rua Otaviano Leandro de Moraes.
Tia Ia aproveitou muito dessas madeiras para sua nova casa. A habitação foi construída por seu primo Belarmino “Dino”, as portas e janelas foram construídas por Francisco.  O mesmo Francisco depois da casa erguida construiu mesa, cadeiras e uma cristaleira.
Em 1966 a equipe do COPA, encabeçada por Guiomar, Alcina, Isabel, e Dila Pereira (irmã de Adauto Pereira) arrecadou uma quantia em dinheiro e entregaram para tia Ia adiantar a construção. Com a casa ainda faltando água encanada, luz elétrica e o piso de chão batido, tia Ia se mudou com os pais pra nova moradia. Nessa casa, sua irmã Maria José Mendes e o sobrinho João Ferreira Mendes ficaram um tempo.
Em 1969 tia Ia deixou de ensinar no COPA, porém continuou bordando peças sob encomenda. Por seu excelente trabalho conseguia manter sua vida vendendo sua arte como bordadeira.
Em 1970 foi trabalhar na Casa das Bicicletas, de propriedade de Luis “Porongo” e da esposa Eunice Feitosa, que era sua prima. Trabalhava no caixa, nas vendas e na arrumação, onde varria e limpava. A Casa das Bicicletas ficava próximo da Casa Pesqueira 01.

Em 1973 o sobrinho João Ferreira Mendes mandou buscar tia Ia pra morar em Brasília. Ela vendeu a casa e junto com o pai (sua mãe já era falecida nessa época), seguiu em março de 1973.
Na casa de sua irmã Maria José, com o pai adoentado, tia Ia ficou de março até dezembro. A sua estadia em Brasília foi marcada por momentos de profundo choro e tristeza, uma grande depressão.
A prima Inez Bezerra Mendes, que morava no Rio de Janeiro foi até Brasília visitar tia Ia e ficou muito triste com o momento de tristeza da jovem. Retornando ao Rio falou com o irmão Francisco que tinha uma confecção e ele mandou chamar tia Ia pra trabalhar com ele. Tia Ia se mudou para o Rio de Janeiro e seu pai permaneceu em Brasília sob os cuidados da irmã Maria José, vindo a falecer em 1977.
Em 1984, aos 53 anos de idade, casou-se com Francisco Gregório da Silva, um agente de polícia, aposentado.
No Rio de Janeiro tia Ia permaneceu trabalhando na confecção de 1973 até 1989.
Em 1989 o marido de tia Ia passou sua aposentadoria para ela, falecendo em 1994 com problema de próstata.
Ela nunca deixou suas costuras e bordados de lado.
Em 1995 retornou para Paulo Afonso onde ficou até 1998, ano em que retornou mais uma vez para o Rio, permanecendo por lá até 2010, mesmo ano que retornou à Paulo Afonso e vive até os dias atuais, sempre cercada pelo amor dos sobrinhos e da sobrinha e professora Socorro Feitosa.
Tia Ia é uma figura linda, boa cabeça, bom papo, figura alegre, que já sofreu muito em sua vida, porém, as durezas da sua história não lhe endureceram o coração e sua alma, antes, porém, a rispidez de sua trajetória lhe tornou uma grande mulher, honrada, digna e feliz.
Maria Feitosa Tenório ou simplesmente “Tia Ia”, uma das professoras do início de nossa história, percussora do nosso progresso.
Seu bordado deixou nos mantos e tecidos de nossa fábula, as cores vibrantes das linhas de costuras, em desenhos gravados nas fibras de tantas vestimentas, figuras em tonalidades distintas que imprimiram suas digitais no mundo da mais pura arte Pauloafonsina.

Paulo Afonso, 16 de abril de 2019
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso


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