quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

lPaulo Afonso, Bahia, 22 de Maio de 2009


 


 


 


 


 

Caríssima Diretora Maria da Penha Morais,

Diretora de Redação da Revista Na Poltrona


 

Sou fã incondicional dessa excelente revista e quando não estou viajando sempre consigo uma forma de adquirir os novos exemplares com amigos. Hoje estou escrevendo para discordar e tentar corrigir as informações passadas pelo jornalista Ricardo Beliel, lançadas na revista número 118, abril de 2009, no texto iniciado na página 16, seção turismo, com o título: Morte e Vida Cangaceira. Esse artigo já havia saído em outra revista, salvo engano na revista Terra. O Ricardo vai acabar me taxando de chato por que na outra oportunidade também respondi ao texto falando dos erros de informações por ele vinculados, porém primo pela responsabilidade relacionada aos fatos históricos preferindo ser chato a ser omisso sobre inverdades com um tema que estudo a mais de 14 anos.

No começo do texto é citado que Lampião entrou no cangaço junto com dois irmãos, o Antônio e o Livino, em resultado ao assassinato do pai e a verdade é que Lampião já era cangaceiro quando o pai foi assassinado por José Lucena.

Seguindo o texto o jornalista Beliel cita uma informação do padre escritor Frederico Bezerra Maciel onde ele dá a informação que Lampião e seu bando haviam percorrido 273 mil quilômetros pelas caatingas, informação essa sem lógica por sabermos que seria impossível esse cálculo até por que o citado escritor não acompanhou Lampião e mesmo se o tivesse feito seria impossível medir esse trajeto e se chegar a um cálculo tão preciso. Em seguida é afirmado que Lampião "celebrava missas todas as manhãs" para o grupo e andava com imagens espalhadas pelo corpo. O que sabemos na verdade é que ele rezava o ofício de Nossa Senhora junto com os companheiros ou ao amanhecer ou ao cair da tarde quando não estavam fugindo das perseguições policiais. Essa é uma tradição comum do sertanejo e missas só eram celebradas por padres e seguimentos da igreja católica, quanto as imagens espalhadas pelo corpo essa é uma informação desconhecida de quem estuda o cangaço, agora usar um crucifixo de ouro em uma corrente ou em um chapéu isso também era prática comum como comum é usar até os dias atuais.

No próximo parágrafo é dito que Lampião quando foi assassinado estava com um grupo de 50 pessoas quando sabemos que o grupo era de 30 homens e 5 mulheres, total confirmado por quem estava lá e sobreviveu pra contar a história, informações dos próprios cangaceiros a exemplo de Candeeiro, Dulce, Criança, Sila, Zé Sereno e Balão, salientando que a maioria dos companheiros ainda dormiam antes do tiroteio. Quando é citado o cangaceiro Amoroso a informação cita que ele foi o primeiro a ser baleado e na realidade o soldado que atirou em Amoroso estava tão nervoso que mesmo sendo o tiro quase a queima roupa ele errou o alvo e Amoroso só foi morrer um ano depois, com Lampião já morto.

Quando o Beliel se refere a Missa na Caatinga que acontece todos os meses de julho na Grota do Angico ele faz uma referência que uma estranha romaria de velhas senhoras com terços nas mãos misturam-se a sertanejos vestidos ao estilo de Lampião. Com todo respeito o Ricardo Beliel teve ter ido assistir essa missa em outro local, pois tenho participado de todas essas missas e não recordo essas cenas bonitas de serem transcritas no papel conflitando com a realidade vista no local. As pessoas que participam são escritores, cineastas, estudantes, fotógrafos, jornalistas, comunidade em geral e turistas.

Beliel cita um octogenário senhor que encontrou na Grota do Angico e transcreve a informação do encontro temeroso desse senhor com Lampião. Se o senhor é octogenário e a missa é relatada na revista de 2009 então o Beliel deve ter colhido as informações em 2008, contabilizando as datas citadas o octogenário nasceu em 1929 e afirma que encontrou Lampião nos idos de 1927, então com02 anos de nascido. É provável que uma criança de 02 anos de idade tenha pouca lembrança de um encontro desses e por conseqüência nada a informar a não ser de "ouvir falar", salientando que então qualquer depoimento deve ser bem analisado antes de ser levado a quem interessar possa para não se cometer distorção da história.

Mais adiante Beliel cita o nome gruta e o nome é "Grota", Gruta é uma caverna. Seguindo a narrativa o jornalista fala dos 700 metros da trilha e que a trilha "foi aberta pela polícia". Quando a polícia chegou lá a trilha já existia e também essa trilha não é o único acessa ao local como Beliel afirma, pode-se chegar lá vindo também de Poço Redondo, Sergipe, cidade onde situa-se a Grota.

Uma das entrevistadas de Beliel, a senhora Bia Grinalda fala que Benjamim Abraão fotografou Lampião próximo a Entremontes e Lampião foi fotografado por Benjamim em Canapi, distante uns 80 quilômetros, mais uma vez as informações não foram confrontadas na tentativa de se chegar o mais próximo da verdade.

O Ricardo além de relatar uma inverdade fala uma idiotice quando se refere aos índios Pankararé ferindo profundamente nosso povo quando faz uma análise totalmente desprovida da realidade existente no Raso da Catarina, dizendo que a alimentação resume-se a lagartos, cobras e roedores, apesar do local ser uma das partes mais áridas do Brasil, a dieta do povo de lá não se resume a lagartos, cobras e pequenos roedores. Apesar de aquela comunidade viver em uma localidade de difícil acesso eles plantam, colhem, criam animais, preservam, tem acesso a parabólica, escola, energia solar e estão acostumados a serem visitados por estudiosos, jornalistas, fotógrafos, escritores e aventureiros, pessoas oriundas de todas as partes do mundo. Se alguém tiver interesse em conhecer aquela comunidade eu terei a honra de acompanhá-los e com certeza verão que lagartos, cobras e roedores fazem parte sim daquele bioma, só que em total liberdade de vida e não como dieta de sobrevivência.


 


 

Deixo aqui minha contribuição para correção do registro histórico com a finalidade de levar as verdadeiras informações para o conhecimento das gerações vindouras.


 


 

João de Sousa Lima*

Escritor / Pesquisador.


 

* Membro da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Paulo Afonso, membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

Autor dos livros: Lampião em Paulo Afonso, A trajetória Guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço e Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço.


 


 


 


 


 


 


 


 

Assista o vídeo do cangaço, nesse link.


 


 

http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1039910-7824-SABIA+PRATICA+ESPORTES+RADICAIS+NA+TERRA+DE+LAMPIAO,00.html

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