ALDIRO, MARIA MORAES(NETA DE JOÃO COELHO), JOÃO |
NOS RASTROS DO CANGAÇO;
LAMPIÃO NO ALTO DOS COELHOS.
Hoje, 15 de outubro de 2016,
Eu, Aldiro e Deyvid, estivemos nos escombros do casarão de João Coelho de
Araújo, um dos homens que sofreram as perseguições e os abusos dos cangaceiros.
João Coelho e sua esposa Maria
Alves dos Santos, conhecida como Marica, grandes criadores de animais da
região, estavam cuidando dos afazeres da fazenda, com vastos plantios de
algodão, feijão, milho, arroz, mandioca e dos vários animais, entre gado,
bodes, cabras, galinhas, perus e outras miunças.
João Coelho era filho de
Antônio Coelho de Araújo (fundador do Logradouro Alto dos Pereiros, hoje Alto
dos Coelhos) e de Feliciana Alves dos Santos.
1932, os cangaceiros
encontravam-se entre as fazendas do Logradouro, Cachoeirinha e Bom Jesus,
terras pertencentes a cidade de Água Branca, Alagoas. Lampião mandou pedir
duzentos mil réis a João Coelho e como João Coelho no momento não tinha
dinheiro mandou dizer a Lampião que depois daria a quantia solicitada. Lampião
ficou esperando chegar o dia marcado e soube que João Coelho estava em Pedra de
Delmiro Gouveia. Dias depois Lampião ficou sabendo que João Coelho e Marica
havia voltado para a fazenda, o cangaceiro mandou dois cangaceiros ir buscar a
encomenda. Quando os cangaceiros chegaram encontraram uma filha do casal,
chamada Joaquina, que estava cortando palmas para alimentar o gado. Os cangaceiros se aproximaram e perguntaram
por seu pai e ela respondeu que ele estava na roça.
-
Ele vai demorar muito?
-
Não! Ele volta já!
Um dos cangaceiros começou a
ajudar a moça a cortar a palma e ela pediu para ir à cozinha para atiçar o fogo
do fogão a lenha para terminar a comida e deixando o cangaceiro fora da casa,
se dirigiu a cozinha e nesse momento pulou uma janela da cozinha e correu para
avisar ao pai que vinha chegando, que os cangaceiros estavam lá, o esperando.
João Coelho correu e saiu avisando da presença dos cangaceiros em sua casa.
Os cangaceiros esperaram até
anoitecer e depois foram embora enraivecidos. No coito Lampião falou que iria
dar o troco a João Coelho, dizendo:
- Eu mandei pedir, correram,
então está bom, eu vou mandar Luiz Pedro resolver esse serviço!
Lampião ficou aguardando o
retorno de João a sua casa e colocou seus coiteiros para vigiar e avisar sobre
a volta do arisco roceiro.
O dia chegou, avisaram a
Lampião sobre o retorno de João. Lampião mandou Luiz Pedro e parte de seu grupo
ir acertar as contas com João. Era um dia de sexta feira e a esposa de João,
dona Marica que era zeladora do Apostolado do Coração de Jesus e havia ido uma
Missa em Água Branca. O dinheiro que João havia separado para mandar a Lampião
estava atrás de um quadro de um Santo e ele pediu para Marica não mexer que ele
iria pagar e ficar livre de Lampião.
Luiz Pedro, um dos homens de
confiança de Lampião, chegou de surpresa e cercaram a casa e prenderam João.
- Cadê o dinheiro velho que
você não mandou?
- Pronto, o dinheiro está
aqui! E se dirigiu para o quadro.
Quando procurou o dinheiro não
o encontrou. Os cangaceiros começaram a procurar o dinheiro revirando camas,
baús, móveis e possíveis lugares onde o dinheiro pudesse está escondido.
Enquanto uns cangaceiros procuravam o dinheiro, outro ia dando pequenos furos
de punhal na barriga e nas costas de João Coelho. Um dos cangaceiros falou:
- Já sei onde encontrar o
dinheiro desse vei!
Pegou o mosquetão e saiu
batendo a coronha nos tijolos adobes da casa, um dos tijolos bateu fofo e
quando o cangaceiro tirou o tijolo e encontrou um garrafão de louça cheio de
moedas, joias e correntes de ouro. Na sala, onde João estava sendo perfurado,
debaixo da mesa, encontraram outros tijolos soltos e quando reviraram
encontraram o dinheiro que havia sido escondido por Marica.
Luiz Pedro observando três
crianças que estavam na casa, Prazeres, Celeste e mais novo que era o Zezé,
advertiu João Coelho:
- Oia velho, isso aqui só
aconteceu duas vezes e era pra matar você mais como encontramos o dinheiro fica
aqui o exemplo de ter enganado o capitão!
Os cangaceiros foram embora
deixando João Coelho todo ensanguentado.
As crianças gritaram pedindo
ajuda e os vizinhos próximos, Zé Terto e Mané Campinhos correram e foram
socorrer João.
Marica chegou de Água Branca e
levou o marido até Pedra de Delmiro, para se tratar com o Dr. Antenor Serpa.
Depois do tratamento, dias
depois, em decorrência dos maltratos sofridos, João Coelho faleceu.
No Alto de João Coelho, os
escombros de sua antiga casa, adobes descansam em ruinas do que antes foi um
casarão de uma família feliz. O cangaço ali deixou sua marca de sangue e dor. O
tempo teima em destruir as antigas paredes que registraram histórias de amores,
sangue, morte e abandono.
Alto dos Coelhos, 15 de
outubro de 2016
João de Sousa Lima
Membro da Academia de Letras
de Paulo Afonso.
Conselheiro do Cariri cangaço.
Membro da SBEC – Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço.
sei aonde fica essa casa, e sei um pouco dessa história sofrida.
ResponderExcluirMuito interessante, cada dia João de Sousa lima , vem com mais história sobre este lendário, que fica a pergunta só maldade por traz de tanta violência?
ResponderExcluirOu revolta de injustiça da época?
Épocas dos coronéis?